sábado, 25 de agosto de 2007

Uma história com flores (a aventura chega ao fim)

Na manhã do quarto dia, o Gladíolo levantou-se, alinhou as suas belas pétalas vermelhas, sacudiu as suas longas folhas verdes e, sem dizer nada a ninguém, partiu. Seguiu o conselho do velho Girassol sábio e dirigiu-se para norte, queria conhecer as flores das montanhas, dos montes e das serras. O caminho a percorrer era longo e sinuoso, mas o Gladíolo lá ia pé ante pé, descansando muitas vezes pelo caminho, apanhando, de vez em quando, boleia do vento que o levava quase pelo ar.
Durante a sua longa caminhada, ele conheceu os lírios do campo de belas flores brancas, amarelas e roxas; encontrou-se com as giestas, plantas de flores amarelas ou brancas; sentiu o perfume forte do alecrim, arbusto de flores miudinhas de cor azulada ou branca; viu as flores pequenas e brancas das urzes. Passou por montes e vales, subiu e desceu montanhas, mas o que mais o impressionou foi a bela serra coberta por um grande e belo lençol verde. Nunca tinha visto tanto verde! Tantos tons de verde! Todo o horizonte tinha sido pintado com os verdes mais bonitos e brilhantes do mundo!
O Gladíolo ia subindo a serra completamente maravilhado, olhando aqueles caminhos bordados de verde, as encostas arborizadas e escorrendo água muito limpa e fresca, as belas cascatas que pareciam cantar ao descer pelos rochedos de granito.
- Ah! Como é bela a natureza! – exclamava o Gladíolo, tonto com tanta beleza, com tanto verde. – Será aqui o paraíso?
Ali, naquela grandiosa serra, conheceu o pinheiro-silvestre; viu as grandes matas de carvalho roble; conversou longamente com o azereiro, o azevinho e o medronheiro; sentou-se junto às ribeiras para descansar à sombra dos amieiros. Todas as árvores lhe pareciam igualmente belas, igualmente majestosas.
Quando regressar ao meu jardim, hei-de contar aos meus amigos esta beleza, estes verdes, estes perfumes, este silêncio – pensava o Gladíolo, fascinado e feliz.
E continuava a subir a serra, todo alegre. Tinha de conhecer todas as plantas, arbustos e até as ervas mais insignificantes que contribuíam para aquela beleza tão singular. Estava tão contente que lhe apetecia abraçar todas as plantas que encontrava pelo caminho. E se bem o pensou, melhor o fez! Abraçou os tojos, as giestas, a urze branca, as tramazeiras, a carqueja, o zimbro. E quando chegou ao cimo da serra, deitou-se a descansar debaixo de uma grande bétula, olhando sempre para toda aquela quantidade de verdes e reparou que por entre as pedras cresciam ainda várias plantas e ervas minúsculas. Foi ali, debaixo daquela bétula que o Gladíolo adormeceu e sonhou com o seu pequeno jardim, tão longe e tão perto, porque o tinha bem guardado no seu coração.
Durante seis dias, o Gladíolo vagueou pela serra completamente maravilhado com a sua beleza e grandiosidade. Mas, ao pôr-do-sol do sétimo dia, resolveu regressar a casa: tinha saudades dos seus amigos, do seu cantinho…
- Vou descer esta bela serra e voltar ao jardim das mil flores – disse ele à Bétula, sua companheira nas últimas noites.
A árvore olhou-o com tristeza, descruzou os seus ramos e apontando em seu redor, exclamou com voz meiga, mas tristonha:
- Vamos ter saudades tuas!
- Eu também vou sentir saudades de todos vós – concordou o Gladíolo, olhando à sua volta.
– Não vou esquecê-los nunca! – acrescentou ele com a voz trémula de emoção.
Na manhã seguinte, muito cedo, ainda todos dormiam, o Gladíolo iniciou a sua longa viagem de regresso. Não se despediu de ninguém e começou a descer, com pezinhos de lã, a bela e frondosa serra, agora, coberta por uma fina cortina de neblina que a tornava ainda mais bonita, mais misteriosa, de verdes difusos e esbatidos. Voltava a casa mais sábio e menos emproado, já não se sentia uma flor muito importante. Aprendeu que todas as flores, árvores, plantas… são igualmente importantes e têm o seu lugar na natureza.
Tinha passado dias maravilhosos, tinha conhecido muitas árvores, arbustos, plantas, flores e ervas, tinha feito muitos amigos.
- Valeu a pena aquela pequena mentira! – exclamava o Gladíolo, recordando a noite em que deixara o jardim das mil flores, para conhecer o mundo.


Fim

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá! Gostei muito da história do Gladíolo! Será que ele partirá, um dia, para novas aventura?
j