segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Bocage



Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;



Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;


Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento
E somente no altar amando os frades,


Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.



Bocage

A considerar
  1. Estrutura interna bipartida: 
    • 1.ª parte, constituída pelas quadras e pelo 1.º terceto, na qual o sujeito poético esboça o seu auto-retrato;
    • 2.ª parte, constituída pelo último terceto, na qual o sujeito poético revela a sua identidade e as circunstâncias que proporcionaram a criação do soneto.

  1. Na 1.ª parte, devem ser considerados dois momentos distintos: a 1ª quadra, que respeita ao retrato físico; a 2.ª quadra e o primeiro terceto, que evidenciam o retrato psicológico.

  1. Aspectos psicológicos:
    • inconstante (propenso a paixões)
    • iroso
    • anticlerical

  1. Elementos neoclássicos:
    • a forma (soneto)
    • o vocabulário alatinado (níveas, letal, deidades)

  1. Elementos românticos:
    • o carácter autobiográfico
    • o individualismo
    • o tom confessional
    • o amor sensual

  1. Alguns recursos estilísticos:
    • adjectivação (magro, azuis, moreno, meão, triste, alto, pequeno, incapaz, propenso, níveas, escura, infernais, letal, devoto, pachorrento); antítese (vv 6, 7, 9/11); hipérbole (vv 9, 10); anástrofe (v 8, 11, 12, 13).


Podemos considerar dois momentos neste soneto, sendo o primeiro constituído pelas duas quadras e pelo primeiro terceto e a segunda pelo segundo terceto.

No primeiro momento, o sujeito poético esboça o seu auto-retrato - tema do poema - dando particular importância ao seu retrato físico (primeira quadra). Na segunda quadra e no primeiro terceto a descrição incide sobre o seu retrato psicológico, apontando  a inconstância, a ira e o facto de ser anticlerical.

No segundo terceto, o sujeito poético revela a sua identidade e as circunstâncias que conduziram à composição deste poema.

O presente soneto caracteriza-se por uma forte adjetivação na descrição do "eu".

Outros recursos estilísticos presentes são a antítese  e a hipérbole.

Nas quadras temos rima emparelhada e rima interpolada, abba / abba e rima cruzada nos tercetos cdc / dcd.


Elementos neoclássicos presentes neste soneto:

- a forma (soneto);
- o vocabulário alatinado (níveas, letal, deidades).

Elementos românticos presentes neste texto:

- o carácter autobiográfico;
- o individualismo;
- o tom confessional;
- o amor sensual.

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