segunda-feira, 26 de abril de 2010

Espelho meu...



Espelho meu...


“Olhei-me ao espelho e não me vi, o meu reflexo deixou-me, morri…” É assim que começa o seu poema! E mesmo antes de o ler completamente, adivinhei-lhe logo os contornos. A sua imagem emergiu logo ali! Apesar de já não ser meu aluno, reconheci-o logo, aquele poema é o seu auto-retrato. É a imagem que ele tem de si, não a que nós vemos.

Conheci-o há três anos, pardal travesso, de cabelo emaranhado numa confusão de caracóis que lhe tombavam para os olhos doces como mel. Magrito e alto para a idade, parecia flutuar numa bola de sabão que esvoaçava pela sala, sem controlo, pousando aqui e ali de mansinho. Raramente era assíduo e pontual, os seus voos levavam-no para outras capoeiras, sem aviso prévio, e às oito e trinta, o seu poleiro estava lá, na sala 15, à espera, vazio. Depois de muitos pios, de muita lengalenga, já cansado de me ouvir a mesma cantata, passou a brindar-me todas as aulas com a sua presença. Chegava depois da hora, batia levemente na porta e espreitava com um sorriso maroto a bailar-lhe nos lábios finos, os olhinhos escuros a brilhar, a suplicar. E era com o olhar de mel que pedia para entrar, saltitando levemente até ao seu lugar. Ouvi-lo ler, era sentir uma toada suave que nos embalava delicadamente e nos transportava para lugares verdejantes, floridos, magníficos… A água murmurante a escorrer pelas pedrinhas cintilantes; a brisa fresca a beijar-nos as faces; as nuvens, novelos de lã, a pairar num manto azul celeste; a frescura da erva; o pipilar dos pardais; as borboletas a voltear; as abelhas, num zunido incessante, a beijocar as flores… E, envoltos no sonho, no embalo da sua voz cantante, o tempo parava, descansava… De repente, o silêncio acordava-nos e, todos caíamos de supetão na sala 15.

O poema emocionou-me, tremi, contive a custo uma lágrima indiscreta que teimava em espreitar pelo canto do olho…

Tenho um único desejo: que o espelho lhe devolva a imagem perdida embrulhada no mesmo sorriso maroto e doce com que me presenteou nas cento e muitas aulas daquele ano.





Ah, minha Dinamene, assi deixaste


Ah, minha Dinamene, assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te!
Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!

Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que ainda tenho por pouco o viver triste?


Neste texto é possível verificar o desgosto do sujeito poético perante o naufrágio da amada. Achar pequeno o sacrifício da vida («tem por pouco o viver triste») e a sua condição de exilado, fá-lo preferir ainda mais a morte.

Texto adaptado de João Mendes, Literatura Portuguesa I

Após um ano de prisão na cadeia do Tronco, em consequência de uma rixa com um funcionário da corte, Camões parte em exílio, viajando pela África Oriental, Goa, Macau e China. Foi neste período que terá acontecido o famoso naufrágio na foz do rio Mecom, a caminho de Goa, onde Luís de Camões terá salvado a nado o manuscrito de Os Lusíadas e onde terá visto morrer a sua Dinamene, rapariga chinesa que se lhe tinha afeiçoado. A esta fatídica morte dedicou os famosos sonetos do ciclo Dinamene, entre os quais se destaca "Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste".

Os sentimentos de dor, desgosto, desespero e ira do sujeito poético são visíveis em todo o poema. De modo gradativo, o soneto apresenta-nos a intensificação do sofrimento do sujeito poético:
1.ª Quadra: a interjeição "Ah" e as frases exclamativas sugerem o sofrimento do eu poético.
2.ª Quadra: as interrogações retóricas expressam a inconformidade e inquietação do sujeito e a expressão "para sempre" sublinha o carácter irremediável da separação dos amantes.
1.º Terceto: o léxico de conotações negativas, como “dura morte” e "negro manto", sugerem o carácter trágico da morte de Dinamene.
2.º Terceto: os vocativos - "Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!" - agudizam o desespero e a dor do sujeito e a expressividade da frase exclamativa e da interrogação retórica final expressa a inquietação de um sujeito que não se conforma com a perda irremediável de Dinamene.

O poema relata uma separação. No entanto, neste soneto, o motivo da separação dos amantes e da ausência da mulher amada é a morte.


Trabalhinho: sabonete


A Mena na cozinha

Estufado com vinho tinto

1,5 kg carne de porco ou de vaca
2 alhos laminados
1 cebola grandinha
4 tomates
2,5 dl de vinho tinto
0,5 dl de azeite
sal
pimenta
piripiri

Batatas perfumadas com orégãos

batatas
azeite
sal
pimenta
orégãos


Corte a cebola grosseiramente e os tomates aos pedaços e leve ao lume em azeite, juntamente com os alhos laminados. Deixe cozinhar um pouco.

Junte a carne, o vinho, o sal, a pimenta, o piripiri e por fim regue com o vinho. Tape a panela de pressão e deixe cozer durante 30 minutos.

Descasque e corte as batatas às rodelas. Unte um pirex com um pouco de azeite e disponha as batatas às camadas, temperando cada camada com sal e pimenta. Polvilhe-as também com orégãos e regue com um fio de azeite. Leve-as ao forno.

Sirva a carne com as batatinhas e salada de tomate.
Bom apetite!

sábado, 24 de abril de 2010

Abril sempre


A escola continua em festa! Montam-se e desmontam-se exposições, a azáfama é grande, os alunos vibram e contam e recontam que são os autores dos muitos trabalhos. Estão orgulhosos das suas obras!
Assinalou-se o Dia do Livro, 23 de Abril, com a leitura dos poemas premiados (actividade já aqui relatada - Concurso de Poesia), seguida da entrega dos prémios. Todos os que requisitaram livros, receberam uma rosa vermelha. Muitas rosas saíram felizes e a sorrir da nossa Biblioteca!

Comemorou-se o 25 de Abril no átrio da escola com este trabalho pleno de simbolismo, realizado pelos alunos na aula de Área de Projecto: os 36 vasos com cravos representam os anos que decorreram desde 1974, cada cravo proclama o que concedeu a revolução ao povo português, vítima de opressão (40 anos): liberdade de expressão, campanhas eleitorais livres, democracia, fim da polícia política, criação de sindicatos, liberdade religiosa, igualdade de oportunidades, defesa dos direitos humanos, direito à greve...

Do tecto pende um balde de zinco com um ralo de rega de onde escorrem 36 fios de nylon, simbolizando a água que irriga os cravos. Assim como as flores, também a democracia tem de ser "regada e adubada" para crescer saudável e não murchar nem morrer. A democracia é uma flor única, linda, e a liberdade é o néctar que dela colhemos cada dia. Viva a liberdade! Viva o 25 de Abril!

Perto deste trabalho, juntaram-se alguns alunos para cantar a liberdade. As suas vozes infantis entoavam timidamente uma canção alusiva ao 25 de Abril. De repente, as vozes multiplicaram-se e o átrio foi ficando inundado de alunos...

E o grupo crescia, crescia, e as vozes soavam agora fortes, determinadas...

A canção já não era só de uma ou de duas turmas, era uma escola a cantar!

Recordou-se também José Afonso, figura central da canção de intervenção em Portugal e um compositor notável que soube conciliar a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto.


A lírica camoniana

A separação da mulher amada


Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada

Saía, dando ao mundo claridade,

Viu apartar-se d’ua outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
Que d’uns e d’outros olhos derivadas
S’acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio,
E dar descanso às almas condenadas.


O sujeito poético, neste soneto, afirma que nunca mais quer ver esquecida aquela madrugada, pois foi ela a única testemunha que assistiu à cena dramática e dolorosa que o separou da sua amada.

Este poema pode dividir-se em três partes lógicas. Na primeira parte (primeira quadra), o sujeito lírico enuncia o desejo de nunca mais ver esquecida a madrugada em que se deu a separação. A segunda parte (segunda quadra) constitui a justificação do desejo expresso na primeira parte: o sujeito poético deseja recordar sempre essa madrugada porque foi ela a única testemunha da separação. Na terceira parte (dois tercetos) há uma concretização dos fenómenos presenciados: a separação dos dois amantes, as lágrimas em fio, as palavras magoadas. Verifica-se que há no poema uma estruturação lógica das ideias: há um caminhar do mundo interior para o mundo exterior, do mais geral para o mais particular.

O sentimento fundamental que o eu lírico pretende exprimir é a profunda tristeza da separação. O soneto abre logo com a antítese “triste e leda madrugada”. A madrugada é objectivamente alegre porque é cheia de luz, de cor, de movimento, é subjectivamente triste porque ela própria sente (personificação) a dor dos namorados que se separam. O sentido do adjectivo “triste” é continuado e caracterizado pela expressão “cheia toda de mágoa e piedade”, que aponta mais para uma tristeza tranquila e resignada, sem deixar de ser profunda. Da mesma forma a alegria traduzida pelo adjectivo “leda” é mais claramente objectivada pela oração subordinada temporal “quando amena e marchetada / saía, dando ao mundo claridade”.

Na relação estabelecida entre a tristeza dos amantes separados e a alegria objectiva da natureza é evidente a intenção da antítese: realçar a profunda tristeza da separação. Mas quando o sujeito poético vê a natureza também triste, fazendo-a solidarizar com a tristeza dos dois amantes (personificação ou animização), a antítese transferiu-se da oposição namorados tristes / natureza alegre, para a oposição natureza triste / natureza alegre. A personificação da madrugada (natureza) repete-se a jeito de anáfora: "Ela só, viu", " Ela só viu", "ela viu" (ouviu). A intenção desta reiteração consiste em realçar que a natureza foi a única testemunha de tal separação, ela só assistiu, embora passivamente, a uma imensa dor.

Com o fim de intensificar o profundo sofrimento da separação, são ainda de realçar as hipérboles: "as lágrimas em fio", "que... juntando-se, formaram grande rio", "palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio, e dar descanso às almas condenadas".

De notar também o paradoxo "tornar o fogo frio" para exprimir um sofrimento desumano, acima do que é normal aguentar-se, maior do que o próprio sofrimento do inferno.

Além do adjectivo triste (em relação antitética com leda), há ainda um vocabulário especialmente escolhido para caracterizar a dor da separação: mágoa, piedade, lágrimas, palavras magoadas. O verbo acrescentar (se acrescentaram em grande e largo rio) sugere não só a persistência das lágrimas, mas também a sua grande quantidade que vai e vai aumentando. Os tempos verbais sugerem que a saudade do sujeito poético é sentida no presente ("quero"), se projecta no futuro ("que seja sempre celebrada, enquanto houver no mundo saudade") e, como sempre, vem do passado ("ela só viu").

Parece haver uma aparente falta de lógica na afirmação "Ela viu as palavras magoadas", as palavras não se vêem, ouvem-se. É intencional, no entanto, a escolha do vocábulo viu. Viu sugere não apenas o acto de ouvir, mas também o acto de observar os gestos, as atitudes, a fisionomia triste dos namorados.

O poema é um soneto constituído por duas quadras e dois tercetos: soneto. Os versos são decassílabos, com os acentos rítmicos na sexta e na décima sílaba. A s rimas são interploada, emparelhada e cruzada, segundo o esquema rimático ABBA ABBA CDC DCD.

O soneto é uma forma poética adequada à expressão de um sentimento que domina o texto, a dor da separação.




Trabalhinho:



A Mena na cozinha

Pataniscas de bacalhau

1 boa posta de bacalhau cozido
1 cebola picada

200g de farinha de trigo
1 colher de sopa de azeite
0,5dl de água
3 ovos
salsa picada
azeite ou óleo para fritar
sal

Deite a farinha numa tigela, abra uma cavidade no meio e deite o azeite, o sal e os ovos. Comece a mexer no centro com uma colher de pau até envolver toda a farinha. Depois, sem parar de mexer, junte a água em fio até obter uma massa leve.
Junte o bacalhau desfiado, a salsa e a cebola picadas. Mexa tudo muito bem. Deite azeite ou óleo numa frigideira e aqueça-o.
Com uma colher de sopa, coloque porções separadas e vire logo que fiquem douradas.

Quando estiverem douradinhas dos dois lados, retire-as da frigideira e coloque-as sobre papel absorvente para tirar o excesso de azeite. Depois de bem escorridinhas, enfeite-as com um raminho de salsa.

Sirva com arroz de feijão verde.
Bom apetite!


quarta-feira, 21 de abril de 2010

Perfis com padrões

Chega o terceiro período e as paredes da escola deixam de ter o ar de hospital. Os azulejos de cores deslavadas são quase completamente revestidos com os muitos trabalhos realizados pelos alunos durante o ano lectivo. A escola fica bem mais bonita!

Estes perfis pertencem aos alunos do oitavo ano e é só olharmos com um pouco de atenção para descobrirmos a Catarina, a Beatriz, o José, a Francisca, a Rita…





O engraçado é que até os padrões escolhidos para a decoração dos perfis dizem muito acerca da personalidade de cada aluno retratado! Nada surgiu por acaso!





Este retrato colectivo foi realizado na disciplina de Educação Visual com as professoras Dulce e Ana. São trabalhos lindíssimos e vão dar, temporariamente, cor e vivacidade a uma escola sombria, uma escola igual a tantas outras!

Em tempos esta escola era a “nossa escola”, de alunos, funcionários, professores… Hoje, como diz um grande colega e amigo: “Esta já não é a nossa escola, é mais uma escola entre outras...”


A lírica camoniana


A separação da mulher amada


A fermosura desta fresca serra


O tema deste soneto é a necessidade da presença da mulher amada para que a felicidade do sujeito poético seja possível ("Sem ti, tudo me enoja e me aborrece").

O soneto pode dividir-se em duas partes, desempenhando o advérbio "enfim" a função de palavra- charneira:
- a primeira parte corresponde às duas quadras em que se descreve uma natureza harmoniosa, propícia ao amor (A harmonia Eu lírico / Natureza - presença da mulher amada);
- a segunda parte, os dois tercetos, refere a irrelevância da beleza da natureza sem a presença da mulher amada (O conflito Sujeito poético / Natureza - ausência da mulher amada "Sem ti, tudo me enoja e me aborrece").

A primeira parte do soneto é, portanto, constituída por uma descrição que se estrutura numa enumeração de elementos que constituem a paisagem e que são qualificados (e até personificados), ora por adjectivos ora por substantivos ou orações relativas:
  • Elementos da paisagem (enumeração) - serra, castanheiros, o caminhar dos ribeiros, o som do mar, a terra, o esconder do sol pelos outeiros, o recolher dos gados, as nuvens.
  • Adjectivos - fresca (serra), verdes (castanheiros), manso (o caminhar dos ribeiros), rouco (o som do mar), estranha (a terra), derradeiros (o recolher dos gados), branda (as nuvens).
  • Substantivos - fermosura (serra), sombra (castanheiros), guerra (nuvens).
  • Orações relativas - donde toda a tristeza se desterra (o caminhar dos ribeiros).
Depois desta visão estática e analítica da paisagem, a segunda parte constitui uma síntese ("Enfim, tudo o que a rara Natureza / com tanta variedade nos oferece"). Para além desta síntese, o sujeito poético introduz, nesta parte, um novo elemento - o "tu" -, que se vem juntar à dupla Eu lírico / Natureza. A presença deste terceiro elemento assume um carácter decisivo na visão da paisagem: na ausência da mulher amada (o "tu") tudo o "enoja" e "aborrece" e "perpetuamente" passará "nas mores alegrias, mor tristeza".
Enquanto a descrição da primeira parte tendia para a objectividade (exterioridade /terceira pessoa), na segunda parte, com a introdução da primeira e segunda pessoas do singular (instituindo-se uma relação eu - tu - Natureza), o texto assume um certo dramatismo e uma grande subjectividade.
O dramatismo e a subjectividade da segunda parte devem a sua intensidade à utilização de alguns recursos estilísticos:
- elementos fónicos expressivos, sobretudo sons nasais (tanta, não, magoando, sem, perpetuamente, passando) e sons fechados (Natureza, tristeza);
- a conjugação perifrástica com o verbo estar ("está magoando", "estou passando") para sugerir uma continuidade que o advérbio de modo "perpetuamente" vem acentuar;
- a anáfora "Sem ti... Sem ti..." (verso 12 e 13) que revela a importância da mulher amada na relação eu / tu;
- a antítese: "Nas mores alegrias, mor tristeza".

Este soneto em verso decassilábico heróico tem rima interpolada e emparelhada nas quadras e interpolada e cruzada nos tercetos, segundo o esquema rimático ABBA ABBA CDE DEC.


Sugestão da Regina:



Trabalhinho:
T- shirt


A Mena na cozinha

Carne assada no forno

Lombo de porco
1 cebola grande
pimento verde e laranja
1 malagueta grande
4 tomates grandes
2 dentes de alho
salsa
1 dl de vinho branco
sal
pimenta
azeite

Prepare a caminha onde vai deitar a carne com a cebola e os alhos cortados às rodelas, parte dos tomates aos pedaços, da malagueta às rodelas, dos pimentos às tiras e da salsa (metade de cada um dos ingredientes).
Coloque a carne na caminha e sapique-a com sal e pimenta. Por cima, disponha o resto dos ingredientes que reservou. Regue com o vinho e o azeite e leve ao forno a 200º.

Sirva com puré de batata... ou batatas fritas... ou arroz... ou legumes.
Bom apetite!