Capital
Casas, carros, casas, casos.
Capital
encarcerada.
Colos, calos, cuspo, caspa.
Cautos, castas. Calvos, cabras.
Casos, casos... Carros, casas...
Capital
acumulado.
E capuzes. E capotas.
E que pêsames! Que passos!
Em que pensas? Como passas?
Capitães. E capatazes.
E cartazes. Que patadas!
E que chaves! Cofres, caixas...
Capital
acautelado.
Cascos, coxas, queixos, cornos.
Os capazes. Os capados.
Corpos. Corvos. Copos, copos.
Capital,
oh! capital,
capital
decapitada!”
David Mourão Ferreira
Este poema é constituído por quatro estrofes. A primeira com três versos (terceto), a segunda com cinco (quintilha) e a terceira e a quarta estrofes com oito versos cada (oitavas). A métrica é irregular, a versos longos, sucedem-se outros mais breves, dando ao poema um ritmo rápido nos versos com muitas enumerações em que a pontuação não prevê pausas, pois o sujeito poético quer sugerir o bulício da grande cidade. A aliteração (repetição do som c) intensifica também o ritmo do poema, que adquire rapidez e uma certa agressividade.
Esta capital é veemente condenada pelo sujeito poético, é uma capital cheia de capital (o eu joga com as palavras: capital = cidade grande e importante, e capital = dinheiro). O sujeito lírico, ao longo do poema vai-nos explicando quais os vícios a que a capital, pelo capital, se sujeita. É uma capital encarcerada, com carros e casas, sem espaço, sem vida, sufocada. É uma capital do capital acumulado, do desprezo pelo outros, “dos calvos e das cabras”, dos casos e mais casos que se vão repetindo continuamente, da necessidade de se ter sempre mais e mais, a capital da ganância pelo dinheiro, pelo capital. É a capital dos cofres, das caixas, das chaves, da insegurança, da desconfiança, do roubo, do capital acautelado, do capital prioritário. Há neste poema uma ideia de desumanização económica, o que interessa nesta capital não são as pessoas, a sociedade, não são os espaços verdes, trata-se de uma “paisagem”, de uma capital impessoal que caminha para a capital decapitada, para a capital do capital, para a capital que o não é. O que faz uma cidade é o número de cidadãos, é as pessoas.
Este poema fala-nos, no fundo, da ausência de poesia nesta capital. Os sons desta cidade estão nas aliterações, na enumeração, este jogo de sons procura recriar o ambiente desta capital repleta de coisas, de capital, de opulência, cheia do que não interessa. Os vocábulos que sugerem opulência são fortes e até mesmo agressivos e as suas sílabas dão um tom carregado ao poema. O sujeito poético quer alertar-nos, chamar a atenção para a verdade, para o “tom carregado” desta capital cada vez mais desumanizada, cada vez mais cheia de “coisas” que não são essenciais, é o ter que conta nesta capital.
Repara nos sentidos que a palavra capital assume neste poema:
"Capital/encarcerada." e "capital/decapitada!" = Cidade ou povoação onde reside o governo de uma nação.
"Capital/acumulado." e "Capital/acautelado." = Dinheiro que constitui o fundo de uma indústria, sociedade comercial ou de um rendimento.
As palavras homónimas escrevem-se e pronunciam-se da mesma maneira, mas têm significado e origem diferentes.
A Mena na cozinha
Natas do Céu
4 dl de natas
1 lata de leite condensado
6 folhas de gelatina
1 dl de leite morno
bolacha maria ralada
amêndoa ralada (ou nozes em pedacinhos ou pinhões)
Adicione as folhas de gelatina ao leite morno e misture bem até se dissolverem. Acrescente ao preparado das natas e envolva bem.
Verta o creme obtido numa taça e polvilhe a gosto com bolacha ralada. Leve ao frigorífico. Na hora de servir salpique com amêndoa ralada, pinhões ou noz picada.
Delicie-se!
Trabalhinhos: camisola e colar
1 comentário:
Olá Mena
Adorei tudo.
As fotos estão fantásticas.
Gosto dos Deolinda.
O poema é LINDO. Adoro David Mourão Ferreira.
Ahhhh...servi-me da sobremesa.
Experimentei o colar( muito elegante), embora prefira colares pequenos.
Bjs.
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