segunda-feira, 7 de junho de 2010

A Capital do capital

Fui ver Os Deolinda no tradicional concerto comemorativo do Dia da Cidade, que juntou milhares de pessoas, na noite de 14 de Maio, na Praça 25 de Abril. Os Deolinda trouxeram música e animação e nem a chuvinha que teimava em refrescar-nos as ideias nos fez arredar dali. Cantámos, pulámos, dançámos, batemos palmas ao som da potente voz da Ana Bacalhau.
Depois do concerto, houve fogo de artifício e terminámos, numa roda de amigos, no Camaroeiro, acompanhados de amendoins, tremoços e imperiais . Foi linda a festa!





Capital

Casas, carros, casas, casos.

Capital

encarcerada.


Colos, calos, cuspo, caspa.

Cautos, castas. Calvos, cabras.

Casos, casos... Carros, casas...

Capital

acumulado.


E capuzes. E capotas.

E que pêsames! Que passos!

Em que pensas? Como passas?

Capitães. E capatazes.

E cartazes. Que patadas!

E que chaves! Cofres, caixas...

Capital

acautelado.


Cascos, coxas, queixos, cornos.

Os capazes. Os capados.

Corpos. Corvos. Copos, copos.

Capital,

oh! capital,

capital

decapitada!”

David Mourão Ferreira

Este poema é constituído por quatro estrofes. A primeira com três versos (terceto), a segunda com cinco (quintilha) e a terceira e a quarta estrofes com oito versos cada (oitavas). A métrica é irregular, a versos longos, sucedem-se outros mais breves, dando ao poema um ritmo rápido nos versos com muitas enumerações em que a pontuação não prevê pausas, pois o sujeito poético quer sugerir o bulício da grande cidade. A aliteração (repetição do som c) intensifica também o ritmo do poema, que adquire rapidez e uma certa agressividade.

Esta capital é veemente condenada pelo sujeito poético, é uma capital cheia de capital (o eu joga com as palavras: capital = cidade grande e importante, e capital = dinheiro). O sujeito lírico, ao longo do poema vai-nos explicando quais os vícios a que a capital, pelo capital, se sujeita. É uma capital encarcerada, com carros e casas, sem espaço, sem vida, sufocada. É uma capital do capital acumulado, do desprezo pelo outros, “dos calvos e das cabras”, dos casos e mais casos que se vão repetindo continuamente, da necessidade de se ter sempre mais e mais, a capital da ganância pelo dinheiro, pelo capital. É a capital dos cofres, das caixas, das chaves, da insegurança, da desconfiança, do roubo, do capital acautelado, do capital prioritário. Há neste poema uma ideia de desumanização económica, o que interessa nesta capital não são as pessoas, a sociedade, não são os espaços verdes, trata-se de uma “paisagem”, de uma capital impessoal que caminha para a capital decapitada, para a capital do capital, para a capital que o não é. O que faz uma cidade é o número de cidadãos, é as pessoas.

Este poema fala-nos, no fundo, da ausência de poesia nesta capital. Os sons desta cidade estão nas aliterações, na enumeração, este jogo de sons procura recriar o ambiente desta capital repleta de coisas, de capital, de opulência, cheia do que não interessa. Os vocábulos que sugerem opulência são fortes e até mesmo agressivos e as suas sílabas dão um tom carregado ao poema. O sujeito poético quer alertar-nos, chamar a atenção para a verdade, para o “tom carregado” desta capital cada vez mais desumanizada, cada vez mais cheia de “coisas” que não são essenciais, é o ter que conta nesta capital.

Repara nos sentidos que a palavra capital assume neste poema:

"Capital/encarcerada." e "capital/decapitada!" = Cidade ou povoação onde reside o governo de uma nação.

"Capital/acumulado." e "Capital/acautelado." = Dinheiro que constitui o fundo de uma indústria, sociedade comercial ou de um rendimento.

As palavras homónimas escrevem-se e pronunciam-se da mesma maneira, mas têm significado e origem diferentes.





A Mena na cozinha

Natas do Céu

4 dl de natas
1 lata de leite condensado
6 folhas de gelatina
1 dl de leite morno
bolacha maria ralada
amêndoa ralada (ou nozes em pedacinhos ou pinhões)

Ponha as folhas de gelatina de molho em água fria. Bata as natas até ficarem bem firmes e junte-lhes o leite condensado.

Adicione as folhas de gelatina ao leite morno e misture bem até se dissolverem. Acrescente ao preparado das natas e envolva bem.

Verta o creme obtido numa taça e polvilhe a gosto com bolacha ralada. Leve ao frigorífico. Na hora de servir salpique com amêndoa ralada, pinhões ou noz picada.
Delicie-se!


Trabalhinhos: camisola e colar


1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Adorei tudo.

As fotos estão fantásticas.
Gosto dos Deolinda.
O poema é LINDO. Adoro David Mourão Ferreira.
Ahhhh...servi-me da sobremesa.
Experimentei o colar( muito elegante), embora prefira colares pequenos.

Bjs.