A Nini de Pedro e a
linhagem de Crato
Depois da desastrosa
comunicação ao país do Primeiro-Ministro, o “Pedro” (são a mesma pessoa)
escreveu banalidades no “facebook” e foi alegremente cantar a “ Nini dos meus
15 Anos” para o Tivoli. Depois do ministro da Educação passar um ano a destruir
o ensino público, o filho do primo-sobrinho-trineto em 2º grau do 1.º Barão e
1.º Visconde de Nossa Senhora da Luz (são a mesma pessoa, esclarece a
“Wikipédia”) falou ao “Sol” e à “TVI”, como se fosse coisa boa o que até aqui
fez. Assim começa o pior ano-lectivo da democracia, para os que sobrevivam a
Passos e Crato.
Crato, interrogado no
“Sol” sobre as causas do despedimento colectivo de 5.147 professores, disse que
isso era consequência de “várias coisas”, mas só referiu uma: “… redução da
população escolar em cerca de 200 mil alunos nos últimos anos…”. Quando voltou
ao mesmo na “TVI”, manteve o número, mas clarificou o período: três últimos
anos. Ora ou as estatísticas dos serviços que dirige estão erradas, ou mente.
Eis os números (GEPE/ME, citado por PORDATA): no ensino básico tivemos um
decréscimo de 10.000 alunos (1.051.384 em 2008 e 1.041.384 em 2011); no
secundário registou-se um aumento de 80.265 alunos (289.714 em 2007 e 369.979
em 2010, números usados por não haver dados de 2011); e no pré-escolar
verificou-se um aumento de 1.618 alunos (141.854 em 2008 e 143.472 em 2011).
Será certamente oculta a ciência a que o matemático insigne recorreu para falar
como falou. À Estatística não foi, certamente.
Crato já mostrou ser
um acrobata dos melhores com as piruetas que deu desde os tempos do “Plano
Inclinado”. Mas não é convincente como ilusionista. Com débil honestidade
intelectual, comparou capciosamente a relação professor-alunos de Portugal e
Áustria. Ora ele sabe que isso depende de outras variáveis (dispersão e
extensão do curriculum, por exemplo) que não só do número de professores. E
sabe que se quer falar de riqueza, o indicador válido é o que o Estado gasta
por aluno. E sabe que estamos na cauda da Europa, 16 níveis abaixo da Áustria,
bem abaixo da média da União Europeia a 27 (Eurostat, 2009). Invocar a Áustria
neste contexto é tão infeliz e desajustado como ir cantar a “Nini” depois de
pisotear quem já estava de rastos.
A imprensa noticiou
que os alunos que durante os primeiros seis anos de escolaridade obrigatória
(11 anos de idade) tivessem registado duas reprovações seguidas ou três
alternadas aprenderiam uma profissão até ao nono ano. No 10º poderiam voltar à
via “regular”, se quisessem prosseguir estudos. Essa solução, obrigatória para
os casos descritos, estaria ainda ao alcance de quem a preferisse e iria ser
testada numa dúzia de escolas experimentais. Nuno Crato vem agora dizer que
nada será obrigatório, mas tão-só se os pais anuírem. Mas associar o ensino
profissionalizante aos maus alunos é mau. Porque cola a aprendizagem de uma
profissão a insuficiência intelectual. Iniciar nessa via uma criança de 11 anos
é prematuro. Queremos uma formação básica que rasgue horizontes ou que gere,
precocemente, mão-de-obra barata? Não será paradoxal a coexistência da
obrigatoriedade de permanecer na escola até aos 18 anos com o início precoce da
aprendizagem de uma profissão? Imaginemos um jovem que conclui o 6º ano com 11
anos e escolhe o tal curso profissionalizante de três. Termina-o com 14 anos,
mas não pode trabalhar. Que faz até aos 18? Aprende outra profissão? Todas as
profissões requerem períodos de formação de três anos? Acresce que, depois de
tudo o que se tem feito para limpar administrativamente as reprovações no
ensino básico, os casos de dois chumbos seguidos ou três intercalados têm
expressão diminuta. O ministro desconhece essa realidade? Ou prevê que as
alterações que introduziu façam disparar o número de reprovações? O ministro
devia ter pensado nisto e dizer-nos, fundamentadamente, o que pensou. Do que
acha, estamos fartos.
Em Fevereiro
transacto, Nuno Crato mudou as regras de acesso ao ensino superior para os
alunos do ensino recorrente. A medida entendia-se para corrigir uma gritante
injustiça (a via regular exigia exames nacionais e a recorrente dispensava-os).
Mas só deveria servir para futuro e nunca alterar as regras a meio do jogo.
Prepotentemente, Crato traiu a confiança dos jovens no Estado. Muitos anularam
as matrículas e desistiram. Alguns recorreram para tribunal. Todos os que o
fizeram, 295, ganharam. Cerca de 3.700 aceitaram a ilegalidade e
apresentaram-se a exames. Crato prometeu vagas supervenientes aos alunos do
ensino regular que se consideraram prejudicados pelos 295 colegas. Sobre os
3.700, disse nada. Querem maior trapalhada? Que sentido de equidade e de
justiça tem este homem? Eis o rigor de Crato: quem não chora não mama!
Santana Castilho
1 comentário:
A incompetência da maioria dos elementos que compõem o governo é gritante.
O próprio PM fala de temas onde se nota que está mal preparado.
Mas com tantos assessores de vinte e tal anos a ganhar 4 e 5.000 Euros (14 meses), não é de admirar.
Beijo, querida Mena.
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