Gosto de histórias! Quando era pequena, a minha mãe juntava os garotos todos do bairro, no vão da escada que dava para o sótão, sentávamos à sua volta no chão. E as tardes corriam tão depressa ao som melodioso da voz melíflua da minha mãe. Ficávamos até à hora de jantar suspensos nas suas palavras e quando ela dizia, "Vitória, vitória... acabou-se a história!" Soltávamos os mais dolorosos ais de que tenho memória. No outro dia, à mesma hora, lá estávamos todos outra vez, religiosamente...
Gosto de contar histórias, os meus filhos e alunos que o digam! A propósito de tudo e de nada sai-me uma história e, triste sorte a minha, os alunos prestam mais atenção às minhas histórias do que às minhas explicações... Professora, hoje ainda não nos contou nenhuma história! E eu sorrio e atiro um: Meninos, quando me pedem, com esses olhinhos brilhantes, que dê a matéria sumariada? Ah, isso é chato, professora!
Outras histórias
Reparem nesta conversa:
- Que roupa trazias ontem?
- O quê? Que roupa vesti ontem?
Pensei, mas nem me cansei e disse:
- Se queres saber não me lembro, mas também porque me haveria de lembrar? E não sofro de Alzheimer!
- Pois, pois eu sei exactamente o que vestiste ontem.
- Sabes? Eu ontem nem te vi...
- Nem eu.
- Então, não me viste e sabes o que trazia vestido... Muito bem, sonhaste?
- Não. Soube hoje de manhã. O repertório completo... Soube o que trazias vestido e o que outras pessoas traziam...
- Estás a gozar? Brincas, só pode...
- Não, é verdade. Olha, tu trazias um vestido azul escuro justinho, um casaco castanho com pele à frente, meias cor de pele e botins de salto castanhos e a mala também castanha com ursinhos... Ah, e uns brincos compridos de prata...
- Tu viste-me passar algures, foi isso?
- Não te vi, juro. Então, vê lá se te lembras...
- Sim, era eu, mas...
- Quando cheguei à escola, a conversa era o que esta e a outra vestia, a sorte de algumas com corpinho Danone... tudo lhes fica bem... o azar de outras que por mais que gastem dinheiro em roupa de marca e cara... nada lhes assenta, nenhuma graça têm...
- Por amor da santa!
- É para veres que interesses movem certas pessoas... A futilidade que nos rodeia...
- Sabes, estou-me a c_ _ _r.
- Já somos dois!
Sem comentários:
Enviar um comentário