quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A Alcoviteira


A Alcoviteira (Brízida Vaz)

As Alcoviteiras dedicavam-se a fazer casamentos, a desencaminhar mulheres casadas e solteiras e a lançar rapariguitas na prostituição. Como esta profissão estava proibida por lei, para não caírem na alçada da justiça, fingiam que se dedicavam a bordar e a fabricar perfumes e cosméticos. O povo tachava-as de bruxas ou feiticeiras.

É o tipo que nos aparece, neste auto, com mais elementos distintivos e caracterizadores. É um autêntico carregamento deles: além das moças que prostituía, transportava consigo seiscentos virgos postiços, jóias e vestidos roubados. Para poder montar o negócio no outro mundo, levava ainda uma casa movediça, um estrado de cortiça e dous coxins.

A linguagem que a Alcoviteira emprega, nomeadamente com o Anjo, funciona também como elemento distintivo. Trata-se de uma linguagem melíflua, lisonjeira, repleta de termos carinhosos, embora empregados hipocritamente. É de notar como a Alcoviteira tenta cativar o Anjo, chamando-lhe mano, meus olhos, minha rosa, meu amor, minhas boninas, olhos de perlinhas finas, etc. seria certamente com esta lábia que ela conseguia atrair as jovens à chamada vida fácil.

A defesa arquitectada e posta em prática pela Alcoviteira revela mentira, hipocrisia, descaramento. Considera-se uma mártir por ter sido açoitada diversas vezes e compara a sua missão à dos apóstolos. Chega até a afirmar que converteu mais moças do que Santa Úrsula, que nenhuma delas se perdeu e que todas se salvaram. Trata-se de uma linguagem ambígua, em que os termos converter, salvar e perder-se, frequentes em textos religiosos, saem dos seus lábios com um significado chulo (ela atraiu (converteu) muitas raparigas para a prostituição, tirou-as (salvou-as) de uma vida de pobreza e todas tiveram sucesso/clientes (nenhuma se perdeu)).

Nesta cena faz-se também uma crítica ao clero (“Eu sou aquela preciosa / que dava as moças a molhos, / a que criava as meninas / pêra os cónegos da Sé…” Note-se que, no século XVI, meninas era o nome reservado às raparigas burguesas, ricas e educadas. Segundo a Alcoviteira, estas eram reservadas aos clientes pertencentes a classes sociais altas (nobreza e clero). As moças eram raparigas do povo, pobres, muitas vezes com grandes dificuldades económicas, vivendo na miséria e serviam para satisfazer as classes sociais mais baixas (Brízida Vaz diz que “salvou” muitas moças da miséria, mas acabou por convertê-las a uma miséria ainda maior – a prostituição).

“A Alcoviteira” na época de Gil Vicente

Alcoviteiro – o que auxilia em relações amorosas; mexeriqueiro; intriguista; o que vive à custa de prostitutas (alcovitar + eiro).

Elementos cénicos

Brízida Vaz traz consigo vários elementos cénicos que representam a sua actividade:

“Seiscentos virgos postiços / e três arcas de feitiços” - feitiçaria

“Três almários de mentir, / e cinco cofres de enleos” - mentira

“e alguns furtos alheos, / assi jóias de vestir, / guarda-roupa de encobrir” - roubo

“um estrado de cortiça / com dous couxins d´encobrir.” - prostituição

“A mor cárrega que é: essas moças que vendia.” - prostituição

Mais uma vez, Gil Vicente critica a sociedade em que vive.

A existência da profissão imoral de Brìzida Vaz e a sua pertinência na sociedade revela a decadência e a devassidão dos bons costumes no séc. XVI. O próprio clero, que simboliza de alguma forma a castidade e os bons costumes, é denunciado.

Discurso Argumentativo

A Alcoviteira pretendendo convencer o Anjo de que merecia ir para o céu usa uma linguagem persuasiva:

- O Anjo é tratado por “mano”, “meus olhos”, “minha rosa”, “meu amor”, “minhas boninas”, “ olhos de perlinhas finas”.

- A Alcoviteira usa léxico de cariz religioso como “converter”, “salvar”, e “perder-se”, embora com um sentido diferente (“converter” significa levar as moças para a prostituição, “salvar” com sentido de livrar as moças da penúria e “perder-se” no sentido de não conseguir clientes).

Quando queremos convencer uma pessoa a aceitar ou a consentir aquilo que defendemos, precisamos de argumentar, ou seja, de apresentar razões, provas, exemplos, etc., que a levem a aceitar a nossa posição.

Habitualmente, o discurso argumentativo apresenta a seguinte estrutura:


  • Introdução: exposição de tese, ou seja, apresentação do assunto e opinião sucinta sobre o mesmo.
  • Desenvolvimento: enumeração das provas, e argumentos a favor ou contra a tese exposta. Os argumentos podem ser complementados com exemplos de estudos realizados por outros autores, outros casos concretos, etc., de modo a comprovar a tese.
  • Conclusão: reforço final, ou reafirmação da tese inicial.



Ter dúvidas é saber…

Ainda “A gente”

Um aluno meu saiu-se com esta: “A gente vamos s´imbora”

Não! “A gente vai-se embora” ou “Nós vamo-nos embora”.

Quando o corrigi, disse-me que toda a gente dizia assim. Pois, infelizmente, ouve-se por aí, a torto e a direito. É portanto uma forma de uso corrente, mas nem por isso deixa de ser incorrecta.

Como vimos anteriormente o sujeito “A gente” é singular, logo exige o verbo na 3.ª pessoa do singular.

Mas há ainda outra questão importante aqui: o pronome reflexo. Numa conjugação reflexa, o pronome reflexo é sempre da mesma pessoa gramatical do sujeito, por isso se diz reflexo: a acção reflecte-se sobre o sujeito, o sujeito pratica e sofre a acção: Eu lavo-me; tu lavas-te; ele lava-se…

Está errado portanto dizer: “Nós lavamos-se”. Correctamente, diz-se: “Nós lavamo-nos”.

E, por agora, é tudo, portanto a gente vai-se então embora



A Mena na cozinha


Ovos escondidos


6 ovos

salsichas, chouriço, toucinho fumado, presunto... (o que mais gostarem)

sal

pimenta

batata frita palha

1 curgete

1 cebola

2 dentes de alho

azeite

salsa

2 tomates maduros


Corte a cebola e os alhos às rodelas, junte um fio de azeite e leve ao lume.

Adicione a curgete, a salsa picada e o tomate aos cubos. Deixe apurar. Tempere com sal e pimenta.

Entretanto bata os ovos. Corte as salsichas às rodelas e adicione ao preparado anterior.

Leve ao lume numa frigideira, com um pouco de azeite e mexa sempre.

Num pirex, ponha uma camada de batata palha e por cima os ovos mexidos com salsichas.


Termine com os legumes refogados. Se gostar, pode salpicar com queijo ralado. Leve ao forno por 15 minutos.

Sirva quente co salada a gosto.
Bom apetite!

Trabalhinho: Pijama




5 comentários:

artes_romao disse...

Boa tarde,td bem?
mais um post deveras interessante...parabens.
em relaçao a pintura no pijama, esta lindissimo...
a menina vai adorar, tenho a certeza...fika bem,jinhos***

mfc disse...

Simples e tão bom!

Ainda sobrou algum pouquinho?!
Ahhh ja está frio?! Não faz mal... eu gosto mesmo aquecido.

Unknown disse...

Olá Mena,
Adorei a Alcoviteira e as subjacentes explicações. Quanto ao Português do seu aluno, sem comentários, pois se há algo que realmente me magoa, são as atrocidades que se cometem com a língua Portuguesa!!
Adorei os vídeos e o pijama está um espectáculo. O prato de hoje, uma delícia, acredito!!
Beijinhos e bom fim de semana,
Lia.

caloca disse...

Olá Mena.
Aqui continua tudo bom, bonito e com uma dose de cultura impecável.
Quem dormir com esse pijaminha vai de certeza ter bons sonhos.
Jinhos e bom fim de semana prolongado (que já estávamos a precisar, com tantos feriados perdidos)
Armanda

Atelier da Casaleira disse...

olá, mena:)

gostei muito desta tshirt:)

continuação de boas pinturas:)

beijinhos e bom fim de semana