segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sermão de Santo António aos peixes - Exposição

Sermão de Santo António aos Peixes

Exposição (cap. II)

O bom pregador

Como estivesse reunida uma grande multidão, e de todas as cidades viessem ter com Ele, disse esta parábola: Saiu o semeador para semear a sua semente. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho, foi pisada e as aves do céu comeram-na; outra caiu sobre a rocha e, depois de ter germinado, secou por falta de humidade; outra caiu no meio de espinhos e os espinhos, crescendo com ela, sufocaram-na; uma outra caiu em boa terra e, uma vez nascida, deu frutos em duplicado.

“(...) a semente é a Palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem, mas em seguida vem o diabo e tira-lhes a palavra do coração, para não se salvarem, acreditando. Os que estão sobre a rocha são os que, ao ouvirem, recebem a palavra com alegria; mas, como não têm raiz, acreditam por algum tempo e afastam-se na hora da provação. A que caiu entre espinhos são aqueles que ouviram, mas, indo pelo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, pela riqueza, pelos prazeres da vida e não chegam a dar fruto. E a que caiu em terra boa são aqueles que, tendo ouvido a palavra, com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança.”

(S. Lucas VIII, 11)
No Sermão da Sexagésima, a partir do conceito predicável Semen est verbum Dei (a semente é a palavra de Deus), extraído da parábola do semeador, Antónia Vieira atribui a ausência de fruto na pregação das palavras de Deus aos pregadores que usam um estilo de difícil acesso ao público, quando deveriam ter um estilo "muito fácil e natural".
Na opinião do padre António Vieira, um bom pregador é aquele que consegue transmitir a mensagem do seu sermão de forma clara para que os ouvintes a compreendam, conseguindo também, assim, convencê-los a aceitar e a seguir a doutrina pregada.


O plano do Sermão
Se no Sermão da Sexagésima Padre António Vieira, insurgindo-se contra o emprego de um estilo difuso e obscuro dos pregadores cultistas, preconiza uma estética de simplicidade ao serviço do espírito evangélico, no Sermão de Santo António aos Peixes Vieira irá analisar a qualidade do auditório.

Para que os ouvintes se deixem converter é necessário, por um lado, que o auditório tenha as duas qualidades essenciais de um bom ouvinte (ouvem, mas não falam); por outro lado, partindo do conceito predicável (Vos estis sal terrae), Vieira sublinha a necessidade de todos os pregadores deverem ter todas as propriedades das pregações de Santo António que cumprem a verdadeira função do sal. Assim, Padre António Vieira pregará aos peixes, imitando Santo António, com o objectivo de converter os homens. Mas para que o público perceba melhor o assunto do sermão, a primeira condição para conquistar a sua benevolência, Vieira divide-o em duas partes: numa primeira parte louvará as virtudes dos peixes que, aliás, dividirá em louvores gerais e louvores particulares: numa segunda parte, repreenderá os vícios dos peixes que também subdividirá em repreensões gerais e repreensões particulares. Assim, pregando como Santo António, e pregando ao auditório ideal, será possível purificar a terra.

“Começando, pois, pelos vossos louvores, irmãos peixes, bem vos pudera eu dizer, que entre todas as criaturas viventes e sensitivas, vós fostes as primeiras que Deus criou. A vós criou primeiro que as aves do ar, a vós primeiro que aos animais da terra, e a vós primeiro que ao mesmo homem.”

Padre António Vieira serve-se da apóstrofe, que consiste numa interrupção que o orador faz no discurso para se dirigir a coisas ou a pessoas reais ou fictícias, para despertar a atenção do auditório. Esta figura de estilo torna o discurso mais vivo e real, logo mais convincente.
A partir deste capítulo, o auditório, isto é, o público da igreja de São Luís do Maranhão, passará a ser tratado, alegoricamente, por “irmãos peixes”.

A alegoria designa uma figura de estilo que consiste na corporização de uma ideia abstracta, muitas vezes conseguida através de um jogo de metáforas e de comparações. a sua descodificação prende a atenção do auditório.

Vocativo: palavra ou expressão que, numa frase, indica a pessoa, animal ou coisa personificada, a quem nos dirigimos directamente. Pode ser precedido de interjeições como (ó) e separa-se sempre por vírgula(s) dos outros elementos da frase.

Modificador apositivo: nome ou expressão nominal que se junta a outro nome ou a um pronome, a título de explicação ou de apreciação. Geralmente, coloca-se separado por vírgulas.

Apóstrofe: figura de estilo que consiste numa interrupção que o orador faz no discurso para se dirigir a coisas ou a pessoas reais ou fictícias.

Há que louvar nos peixes: a atenção, a obediência, a quietação, a ordem, o respeito, a devoção.
Ao exaltar as virtudes dos peixes, o orador confronta duas diferentes atitudes perante a palavra de Deus: os peixes ouviram a palavra de Deus que Santo António pregava (comportamento Racional); os homens perseguiam Santo António porque este os repreendia (comportamento irracional)

“Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditório. Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam. Uma só cousa pudera desconsolar o Pregador, que é serem gente os peixes que se não há-de converter. Mas esta dor é tão ordinária, que já pelo costume quase se não sente. Por esta causa não falarei hoje em Céu nem Inferno; e assim será menos triste este Sermão, do que os meus parecem aos homens, pelo encaminhar sempre à lembrança destes dois fins.

O orador inicia a apresentação do assunto do Sermão com uma interrogação retórica (“Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?), isto é, uma frase declarativa disfarçada de pergunta a partir da qual pretende, por um lado, tornar o discurso mais vivo e, por outro lado, suscitar a curiosidade do auditório em relação ao assunto que vai expor.

Para manter a atenção do auditório, António Vieira recorre a uma estratégia: tornar o texto claro a partir de uma estrutura coesa do assunto do sermão que vai conduzindo o ouvinte para que este não se perca no discurso que além de longo é oral. Um dos elementos que assegura a unidade e estruturação de um texto, para além da coerência, é a coesão. Esta consiste num conjunto de processos linguísticos que asseguram as ligações nas frases e entre frases. Assim, a conexão das ideias é garantida e os recursos e mecanismos linguísticos são empregues de forma pertinente, por exemplo, a conexão entre os dois parágrafos que se seguem é conseguida a partir do jogo pergunta-resposta, assinalado graficamente pelo ponto de interrogação.

"Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? (...)

Vos estis sal terrae. Haveis de saber, irmãos peixes, que o sal, filho do mar como vós,tem duas propriedades, as quais em vós mesmos se experimentam: conservar o são e preservá-lo, para que se não corrompa. Estas mesmas propriedades tinham as pregações do vosso Pregador Santo António, como também as devem ter as de todos os Pregadores. Uma é louvar o bem, outra repreender o mal: louvar o bem para o conservar e repreender o mal para preservar dele."


Mas existem outras formas de manter a coesão textual, através dos conectores discursivos:

"Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso sermão em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios. (…) Vindo pois, irmãos, às vossas virtudes, que são as que só podem dar o verdadeiro louvor, a primeira que se me oferece aos olhos hoje, é aquela obediência, (…)"




Trabalhinho:


A Mena na cozinha

Batido de melão, manga e morangos

1 ou 2 fatias de melão

12 morangos

½ manga

2 colheres de açúcar

Gelo


Coloque os ingredientes na máquina dos batidos e...

Delicie-se!

1 comentário:

APO (Bem-Trapilho) disse...

olá amiga! tudo bem?
bem o teu trabalhinho de hj está um espanto!!! adorei mesmo! é uma agenda? está fantástica!!!!
mas passei porque preciso uma colaboraçãozita lá no meu blog. gostava de saber se existem lares para 3ª idade, para utentes ainda não em fase terminal, lares não deprimentes, em Portugal. Conheces algum?
bjinhos