terça-feira, 22 de março de 2011

Este líquido é água




Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.


António Gedeão


Antigamente, até ao início do século XIX não havia agências de publicidade. Eram os escritores, principalmente os poetas, que faziam os anúncios.

Um amigo de Olavo Bilac pretendia vender a sua propriedade e pediu ao poeta um reclame para pôr à venda o seu sítio.
O poeta visitou o lugar e, depois, escreveu:

“Vende-se uma encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso e frondoso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes na bela varanda”.

Dias depois, soube o poeta que o amigo desistira da venda da propriedade. O sujeito, ao ler o reclame, “descobriu” a beleza, a maravilha que era o sítio, para ele, até então, apenas um terreno, uma casa velha e umas árvores, coisas que só lhe davam prejuízo.

Ah, o que os olhos de um poeta vêem e fazem ver!

1 comentário:

mfc disse...

Adorei o teu texto sobre a publicidade de antanho!