sexta-feira, 4 de maio de 2012

Síntese das características da poesia de Ricardo Reis





Aspectos temáticos

  • Conciliação da moral epicurista e da moral estóica - o ser humano nunca poderá ser feliz; deve evitar os prazeres fortes e aceitar a dor como algo que, inevitavelmente, teremos de sentir; a tranquilidade é o nosso único quinhão de felicidade e de liberdade;
  • exercício de auto-disciplina, renunciando às fortes emoções / violentas - o poeta racionaliza as emoções e recusa o seu valor, face à realidade que descobre, através do pensamento;
  • procura da ataraxia;
  • demissão da vida através de compromissos afectivos e sociais;
  • defesa da "aurea mediocritas";
  • elogio do "carpe diem" - a vivência do momento presente; 
  • a presença do fatalismo - o destino é uma força superior ao Homem, o Fado é uma entidade superior as deuses;
  • aceitação calma do destino;
  • consciência da inutilidade de qualquer esforço de mudança - atitude de renúncia;
  • obsessão da efemeridade da vida; 
  • consciência da fugacidade do tempo;
  • aparente tranquilidade, na qual se reconhece a angústia existencial do ortónimo;
  • presença do paganismo - os deuses também eles submetidos à força do Fado;
  • constatação da inutilidade da acção;
  • recusa da inserção do indivíduo na sociedade, pela negação da práxis, ou seja, pela crença da inutilidade da acção;
  • intenção didáctica dos seus versos (parece estar a ensinar uma lição de vida).

Aspectos formais e estilísticos
  • Uso de vocabulário erudito;
  • recurso a arcaísmos;
  • uso de latinismos;
  • formas estróficas e métricas de influência clássica - ode;
  • sintaxe alatinada - anástrofe e hipérbato;
  • predomínio da subordinação;
  • frequência dos advérbios de modo;
  • uso frequente do gerúndio;
  • uso do imperativo como manifestação de atitude filosófica;
  • coloquialidade - diálogo permanente com um "tu" (destinatário implícito ao discurso);
  • nomes usados como atributos (adquirindo o valor dos adjectivos);
  • recurso a apócopes (queda de um ou vários fonemas no final de uma palavra);

Sonoridades
  • Repetição de sons;
  • predominância de sons nasais e fechados;
  • rima no interior dos versos.


1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

A coerência poética dá tanto trabalho que não sei como é que Fernando Pessoa conseguia manter os "bonecos" inteiros ao longo do tempo...
Mena, querida amiga, tem um bom domingo.
Beijo.