Transcrição
das intervenções de estudantes da Escola Secundária da Amadora na audiência de
21.02.13 no Grupo de Trabalho parlamentar sobre o AO90.
«Sou
a Carina Moutinho e sou aluna também do secundário do 11º ano.
Basicamente,
o nosso objectivo é mostrar-vos o nosso profundo desagrado com a implementação
do novo acordo ortográfico. Há um grande descontentamento. Passamos assim a um
conjunto de problemas mais concretos:
Na
leitura, palavras que antes eram banais e que nós utilizávamos normalmente
começaram a tornar-se confusas com outras e, ao mesmo tempo, eram palavras
completamente novas, palavras novas que nós antes, afinal, utilizávamos sempre
na nossa rotina e isso agora já não acontece.»
«Sou
a Inês Valdoleiros, 11º ano, ESA
Acerca
desta leitura que nós temos que fazer constantemente nas aulas, falamos então
de uma simples apresentação de um livro numa aula de Português ou até na
simples leitura de um texto pedido pela professora. Há certas frases com que
nos temos vindo a deparar, como por exemplo, “o comboio pára em todas as
estações” – esta frase pode ser igual lida assim, mas fora do contexto, este
“pára” pode-nos levar para o “comboio para”. E como podemos ver então, um
simples acento, muda o sentido da frase.»
[Provavelmente,
de novo Carina Moutinho]
«Sendo
assim, já que falamos nos acentos, passamos assim a outro âmbito, ao âmbito da
escrita, em que chegámos à conclusão que não sabemos o que fazer, é uma grande
confusão. Não sabemos se havemos de tirar letras, de pôr, se tirar os acentos
ou não, e é muito triste chegarmos a esta altura e nós não sabermos como
havemos de escrever a nossa própria língua, e acho que isso não está a
favorecer grande coisa.
Também
nos deparamos com textos nos nossos manuais em que alguns adoptam o novo AO e
outros não, e ficamos confusos, porque afinal em que é que ficamos?
Esta
dúvida constante acerca de como havemos de escrever as nossas simples
composições da escola, digamos que não nos está a deixar muito contentes com
esta presente situação, e era isso que nós vínhamos aqui também dizer que para
nós não é muito bom mudarmos a nossa língua, e a língua que aprendemos no
primeiro ciclo e que temos vindo a aprender para apenas facilitar a comunicação
com países como o Brasil e os Palops e a nossa opinião é que, mudarmos a nossa
língua agora, a meio da nossa vida, é como mudarmos as nossas origens.
Sinceramente
nós duvidamos que com todas essas mudanças haja alguém que consiga escrever
realmente com todas as regras do novo AO sem ter o novo corrector, sem ter o
corrector, pronto, no computador ou sem estar sistematicamente a ver quais é
que são essas regras. Para além do mais nós também não conseguimos compreender
que com tantas coisas para mudar, porque razão mudar a nossa língua? Penso que
não havia necessidade para tal.
Concluímos
assim que não queremos que seja apenas, que pensem apenas que somos só nós os
quatro que temos essa opinião, mas sim toda a escola e todas as outras escolas,
porque sempre que falamos sobre este assunto há sinceramente um grande
descontentamento entre todos.
Portanto,
a gente pedia que vocês reflictam sinceramente sobre este assunto, porque se
pensam que esta mudança vai provocar um melhor aproveitamento para os alunos e
tudo mais, não está realmente a resultar.»
«Sou
o Pedro Silva, sou também aluno da ESA.
Em
termos mesmo do acordo, portanto, o acordo, como já foi dito pelas minhas
colegas, serve também para facilitar as comunicações e uniformizar o português
globalmente, portanto, termos uma língua mais semelhante. Mas penso que tal não
seja necessário. Como também já a minha professora disse, cada cultura,
dependendo das outras com que contacta, vai absorvendo características
diferentes. E à medida que uma cultura evolui, ela pode mudar. E mudando a
cultura, não precisamos de estar constantemente a uniformizar tudo. Temos por exemplo
o Latim. Hoje em dia, sabem, há várias línguas que são línguas latinas, todas
baseadas na mesma original. Mas, à medida que essas culturas foram evoluindo
entre si, as línguas foram-se cada vez mais separando e se, talvez, daqui a
muitos anos, se se vir que as línguas, o português de Portugal e o português
brasileiro, são diferentes o suficiente para se [ininteligível] uma à outra,
uma língua diferente, que seja, que falemos outra. Mas não é preciso estarmos a
mudar as nossas culturas só para termos algo mais em comum com a outra, quando
já não existe nada assim.»