1. Annette Schavan, directora espiritual de Crato para o ensino profissional e até há pouco ministra da Educação da Alemanha, demitiu-se após ter sido acusada de plágio pela universidade onde se havia doutorado há 33 anos. Na origem do escândalo esteve a denúncia de um blogue. Schavan reclama inocência e vai pleitear a causa em tribunal. Mas a sua consciência disse-lhe que, neste momento, esse era o caminho. Curiosamente, a tese que escreveu (ou plagiou) estudava o carácter e a consciência. Antes de Schavan, Karl Guttenberg, ministro da Defesa, procedeu do mesmo modo, por motivo idêntico. E, antes dele, fora a vice-presidente do Parlamento Europeu, Silvana Koch-Mehrin: mesmo erro, idêntico padrão de comportamento e de consciência.
2. A Lusa questionou Nuno Crato sobre o relatório do FMI, que alude ao eventual despedimento de 50 a 60 mil funcionários do sistema de ensino, docentes e não docentes.
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Importa reter e comentar algumas afirmações do ministro, extraídas da resposta:
- “Nós não somos irresponsáveis. Isso não está em causa, de forma alguma.”
- “O Governo irá apresentar um conjunto de medidas … para a redução da despesa, algo que todos os contribuintes querem”.
- “Nós, até este momento, não fizemos nenhum despedimento na Educação …”
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Da consciência de Crato foram varridos os factos que atormentam a consciência dos que sofrem a inconsciência dele. O que Crato considerou irresponsável foi qualificado, por pares do Governo, como muito responsável. A acção política de Crato é uma sucessão de incumprimentos, hoje, do que defendeu ontem. Por que motivo algum cidadão iria acreditar que, amanhã, seria diferente? Tivera Crato consciência social e saberia que as despesas que os contribuintes querem reduzir são aquelas que lhe permitem, em 2013, ano da fome, do desemprego e da espoliação abjecta dos que trabalham, gastar por mês, em estudos e pareceres para implodir a escola pública, um milhão, 71 mil 995 euros e 42 cêntimos. Mas não as da Educação de todos. Tivera Crato consciência social e não jogaria com as palavras dizendo que não despediu professores, quando os números oficiais mostram que o desemprego na classe quadruplicou nos últimos anos.
3. Como o próprio reconheceu, o maior erro da vida profissional de Franquelim Alves foi ter-se ligado à instituição que originou o mais nojento assalto aos bolsos de todos os portugueses, tendo permitido um intervalo de três meses entre o conhecimento da ligação, indevida, entre o BPN e o Banco Insular de Cabo Verde e a denúncia, devida, ao Banco de Portugal. Porque o fez certamente sem dolo, o facto pode ser irrelevante para qualquer empresa. Mas sofre de incultura cívica a consciência de Passos Coelho quando não divisa diferenças entre gerir o Estado e gerir uma empresa e escolhe Franquelim. Tivera Passos consciência social e teria percebido como é insustentável a menor dúvida ética, que não legal, sobre governantes.
4. A Internet, as redes sociais e toda a tecnologia que as permitem tornaram muito mais escrutináveis os comportamentos dos que ocupam cargos públicos e muito menos suportável todo o tipo de tráfico de favores e jogos de palavras. Mas esse salutar incremento de escrutínio não foi acompanhado pelo desenvolvimento da consciência social daqueles que a ele estão sujeitos. Sócrates nunca teve sobressaltos de consciência provocados pela forma como a sua licenciatura foi obtida na Universidade Independente. A velocidade lusófona a que se licenciou o doutor Relvas tão-pouco lhe beliscou a consciência. E foi com as ditas tranquilas que Passos escolheu Franquelim e Franquelim se apresentou ao povo, de curriculum prudentemente expurgado. Temos, assim, consciências que não se perturbam com o atropelo de regras e valores comuns. Que permanecem serenas depois de desonradas pelo incumprimento das promessas que fizeram à sociedade. Que protagonizam lances que insultam o entendimento geral sobre o que é o bem e sobre o que é o mal. Consciências que se apaziguam com o simples conforto de leis vis, que elas próprias produzem. A crise, antes de ser financeira, é económica. A crise, antes de ser económica, é política. E a natureza da crise política é moral, porque é a moral que molda as consciências dos que mandam.
5. Um sociopata tem uma personalidade patológica, a que falta sentido de responsabilidade moral, isto é, consciência. A consciência, resultado de valores morais interiorizados ao longo de um processo educacional, opera em relação ao passado e em relação ao futuro. Quanto ao passado, provoca no ser humano sentimentos de alegria ou de culpa arrastada, a que chamamos remorso. Relativamente ao futuro, actua como regulador de comportamentos, como juiz de actuações. É aterrador sabê-lo, quando alguns governantes se revelam sociopatas.
Santana Castilho
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