A ARANHA
A ARANHA do meu destino
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em
menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir.
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.
Fernando Pessoa
A aranha do meu destino /
Fez teias de eu não pensar. O sujeito poético quer dizer que, por nunca ter
pensado no seu futuro, teias de aranha ocuparam o espaço que na maioria dos homens
é ocupado pela prevenção, pelo planeamento. Ele nunca planeou o seu futuro, só
se preocupava com o presente e - em certa medida - pelo passado.
A referência a uma aranha é
- talvez - uma subtil ironia à lenda grega das tecelãs do destino. Chamavam-se
Moiras (os romanos chamavam-lhes Parcas) e eram três deusas que teciam o
destino dos homens.
O sujeito lírico diz que a
aranha (as deusas) não se preocuparam em tecer o seu destino, por duas razões:
por ele em criança já "ser adulto sem o achar", ou seja, ter crescido
de repente contra a sua vontade; a segunda razão diz ser a rede ter-lhe
apanhado "o querer ir", ou seja, o próprio presente (agora já
passado) impediu que ele tivesse o destino - o destino ficou preso por causa do
que lhe aconteceu quando era criança.
Assim ficou o sujeito
poético, "uma vida baloiçada", como uma mosca presa numa rede, viva e
só à espera da morte para desaparecer. O estar preso na rede, com a
"consciência de existir", é a sua pena pelo que lhe aconteceu.
...//...
O verso ”A Aranha do meu
destino”, refere-se ao rumo que a vida do sujeito lírico levou, afinal não se
pode fugir ao destino.
O verso “Faz teias de eu
não pensar”, de certa forma pode ser encarado como uma ironia, podemos falar no
caso de quando uma casa por exemplo é desabitada, passado algum tempo a casa
acaba por ganhar teias, o eu intelectualiza o pensamento, ou seja, ele pensa
nas coisas da vida “não ganhando assim as teias dentro da sua cabeça”.
O sujeito poético, quando
era criança “menino”, não sabia “não soube” se era feliz, pois as crianças não
racionalizam, mesmo assim agora em adulto ele tem a consciência, que quando era
criança era feliz, pois agora já racionaliza, vem daí “na consciência de
existir”, isso vai trazer reflexos como, o seu passado (infância) ser
idealizado, pois é uma época em que tudo é possível, no mundo das crianças não há impossíveis, ao contrário da prisão
intelectual do presente.
Os últimos dois versos, dão
a sensação de a teia ser como uma espécie de prisão. Referem-se a algo
que esteja preso, a ideia de fazer teia de muro a muro, e de ele estar na
“prisão”, e ser a presa, da própria teia “suporte”, ou seja do próprio destino,
nós como seres humanos, envolvemo-nos na teia para encontrar o nosso destino.
Sara Anjo, 12.º ano
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