sábado, 12 de abril de 2008

Saga

Hoje, convido-vos a ler uma obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, HISTÓRIAS DA TERRA E DO MAR, mais propriamente o conto "Saga".

Saga é um conto que relata a vida e o drama de uma família de marinheiros da ilha de Vig.
O grande sonho de Hans, a personagem principal, era tornar-se marinheiro. O seu pai, Soren, proibiu o seu sonho, porque os seus irmãos mais novos, Gustav e Niels haviam morrido num naufrágio. No entanto, o apelo do mar era mais forte e Hans fugiu de Vig num cargueiro inglês, "Angus", alistado como grumete. Navegaram primeiro com bom tempo e atravessaram, depois, as tempestades da Biscaia. Chegaram a uma cidade desconhecida (Porto). Hans amou desde logo a cidade. Alguns dias mais tarde, Hans e o capitão do barco tiveram uma discussão e nessa noite Hans abandonou o navio. Vagueou pela cidade quatro dias, tonto de descobrimento, de espanto e de solidão. Ao quinto dia, um Inglês chamado Hoyle encontrou-o a chorar encostado ao muro da sua quinta e recolheu-o. Hans ficou a viver com o inglês, em parte como seu empregado, em parte como filho adoptivo. Dias depois, Hoyle comprou-lhe roupa, papel e caneta. Hans enviou uma carta à família a pedir perdão pela sua fuga, explicou as razões que o levaram a fugir, as suas aventuras e o seu paradeiro. Meses depois, a mãe respondeu-lhe, dizendo que não voltasse a Vig, pois seu pai não o receberia.

A sua adolescência cresceu entre os cais, os armazéns e os barcos.
Os anos passaram e Hans aprendeu a arte de navegar e a arte de comerciar. Aos 21 anos, Hans já era capitão de um navio de Hoyle e seu homem de confiança nos negócios. Desde muito cedo, Hans conheceu as Ilhas do Atlântico, a costa de África e do Brasil e os mares da China e escrevia para casa a contar as suas aventuras. Ao fim de longos meses, Hans regressou e Hoyle entregou-lhe as cartas que recebera na sua ausência, as cartas da sua mãe. Todas as cartas diziam para Deus o abençoar e que não voltasse a Vig, pois o pai não o receberia.
Quando estava já passada a sua primeira mocidade, de regresso de uma das suas viagens, Hans encontrou Hoyle doente. Estava velho e quase cego e pediu a Hans que ficasse com ele. Hans ficou, deixou de ser seu empregado e passou a ser seu sócio. Hans tratava agora de todos os negócios de Hoyle e à noite relatava-lhe tudo e, de seguida, bebiam um copo de vinho. Passados uns tempos, escreveu ao pai dizendo-lhe que não era mais um navegador, que era agora um homem estabelecido, em terra firme e que queria voltar a Vig. E mais uma vez, a mãe respondeu: O pai não o receberia.
Associado a Hoyle, Hans começou a criar fortuna. Algum tempo depois, casou-se com a filha dum general liberal que desembarcara no Mindelo. Ana tinha a cara redonda e rosada e cheirava a maçã tal como a primeira mulher criada e como a casa onde ele nascera e porque o seu cabelo loiro lhe lembrava as mulheres de Vig. Pouco antes do seu casamento, Hoyle morrera e Hans formara a sua própria firma cuja prosperidade crescia.
Hans era agora um homem rico e respeitado. E foi no tempo das últimas camélias que nasceu o seu primeiro filho. Tinha sido acordado que o bebé seria baptizado no sétimo dia de vida e que, após o baptizado, o primeiro barco de Hans seria lançado à água. Quando tudo se preparava para a festa, o bebé, na madrugada do sexto dia, adoeceu. Foi baptizado de urgência e recebeu o nome de Sören. A criança morreu, mas Hans não deixou de lançar à água o navio. Nasceu o segundo filho de Hans em Novembro do ano seguinte.
Os anos foram passando e a riqueza de Hans aumentando. Nasceram-lhe mais cinco filhos e duas filhas. Aumentou também o número dos seus barcos e a extensão dos seus negócios. Voltou ao mar, mas as suas viagens eram agora de negócios. A sua antiga fuga de Vig fora, de alguma maneira, inútil.
Os anos foram passando. Quando a mãe morreu, ele escreveu novamente ao pai, mas nunca recebeu resposta e foi então que Hans compreendeu que jamais regressaria a Vig.
Passados alguns meses, comprou uma quinta no alto de uma pequena colina que descia até ao cais de saída da barra. Hans mandou fazer grandes obras. Das várias partes do mundo, chegaram coisas novas e deslumbrantes para compor tão desmedida casa.
Agora que os filhos cresciam, Hans gostava dos longos jantares. Além da família, sempre se juntavam amigos e convidados. Entretanto, à medida que a vida ia cumprindo os seus ciclos, noivados, casamentos, nascimentos, baptizados iam povoando a casa de azáfama e festas.
Os filhos tinham crescido. Hans estava encalhado agora em hábitos, afazeres e demoras e o horizonte de Vig estava cada vez mais longe.
No fundo da quinta, perto da barra, Hans mandou construir uma torre para ver a entrada e a saída dos seus barcos. Daí em diante, de vez em quando, em vez de trabalhar no escritório, trabalhava no quarto da torre onde recebia os empregados e as pessoas que o procuravam. Consigo levava às vezes Joana, a sua neta mais velha, que via na torre grande aventura e mistério. Hans ensinava-lhe o nome e a história dos navios.
Os anos começaram a passar muito depressa e uma certa irrealidade começou a crescer. Hans já não viajava, estava velho. Tinha as mãos um pouco trémulas, o azul dos olhos desbotado, fundas rugas na testa, os cabelos e as compridas suíças estavam completamente brancas. Quando adoeceu para morrer, ia Novembro perto do fim.
Durante seis dias, Hans resistia sereno e consciente, mas ao sétimo dia a febre subiu, a respiração começou a ser difícil e na sua atenção algo se alterou. Ao cair da noite, Hans chamou a mulher e os filhos e pediu-lhes que quando morresse lhe construíssem um barco em cima da sua sepultura, os filhos perguntaram como era o navio e Hans respondeu: "Naufragado". Talvez Hans estivesse a delirar, quando disse as suas últimas palavras, mas fizeram o que ele pediu. Em pedra e bronze, com mastros quebrados e velas rasgadas, o navio foi construído sobre a campa de Hans.
E é nesse navio que, em noites de temporal, Hans sai a barra e navega para a sua ilha, Vig.


Mais um trabalhito: uma caixinha em tons de rosa.



Boas leituras!

13 comentários:

Atelier da Casaleira disse...

olá boa tarde mena tudo bem?boa sugestão de leitura.!adorei a caixa muito linda tb beijos e bom fim de semana

SabriIsabel disse...

Hola Mena!!!creo que voy a aprender portugues!!!Lei un poquito la historia y entendí la mitad!!!!Gracias por visitarme,muy bonito tu trabajito!!!!Besos y buen fin de semana!!!

Nile e Richard disse...

Oi querida amiga.Adorei a sugestão da literatura.Os trabalhos rstão muito lingos.Um bom fim de semana para voce.bjitos.nile.

Marilú disse...

Oi Mena...adorei o conto e a caixinha também...Boa noite

εïз Andrea Cris εïз disse...

Olá Amiga
Adorei a postagem e a suagestão da Leitura... e a caixinha um encanto
PARABENS
BOM DOMINGO
Bjs
Andrea

Sylvana disse...

Hola Mena, creo que no me quedo otra opcion que intentar. Vi la historia y justamente mi esposo se llama Hans y decidi continuar. Yo pensaba que no entendia nada de portugues pero una vez leyendo logre seguir la historia,claro que hay cosas que no entendi pero la idea general quedo clara.
Muy linda la historia y tu cajita de rosas.
Un beso grande y buen resto de fin de semana.

Syl

Alexandrina disse...

Adorei, tanto o conto como as caixinhas!
Beijinhos

D. disse...

Olá!
Passei por aqui para lhe mandar um grande beijinho...
Adorei a caixinha!


Olhe, tenho coisas novas no meu blog, passe por lá...

Adorei, passar por aqui.
Diana.

Anónimo disse...

Sempre com trabalhos bonitos e formas originais de tirar as fotos =)

*Uma excelente semana para ti,
Joanita

SabriIsabel disse...

Mena te dejé un raglo en mi blog!!!Besos

SabriIsabel disse...

quice decir regalo!!!!

VanessaGuerra disse...

olá lindinha.. deve ter sido a minha afilhadinha a sweetie que te recomendou o meu blog.. é uma querida.. adorei o teu blog.. ainda bem que me deixas-te um comentario pois não conhecia o teu blog e não sabia o que estava a perder.. adorei mesmo o teu espacinho.. fazes coisas muito giras.. amei os teus colares... vou passar mais vezes de certeza... beijinhos enormes

Alexandrina disse...

Olá!
Passa no meu blog, tenho um desafio para ti!

Beijinhos