Memórias de João Lobo Antunes
O texto que agora se apresenta - Memória de Nova Iorque e Outros Ensaios de João Lobo Antunes - é, como o próprio título indica, um texto de memórias de viagem.
Quando recordo a minha vida em Nova Iorque será sempre para mim impossível dissociar os actos de estudar, trabalhar ou, em vista mais ampla, simplesmente crescer em Nova Iorque. (...)
Em Nova Iorque, diz White, encontram-se três tipos de pessoas: em primeiro lugar, as que lá nasceram e aceitam como natural e inevitável a dimensão, a turbulência, as luzes, o ruído e as pessoas. (...) Em segundo lugar, aqueles que todas as manhãs viajam dos subúrbios para trabalhar em Manhattan, uma praga de gafanhotos que a ilha engole de manhã para logo os regurgitar à noite. Eu pertencia ao terceiro grupo, aqueles que vêm de longe, à procura de alguma coisa, impelidos apenas pela certeza de que Nova Iorque é a cidade do destino final. Para estes, como para mim, a cidade está igualmente ligada ao nascer da família e, também às vezes, a um pouco do seu fim.
Era hábito dizer-se, e Joan Didion na sua despedida elegíaca da cidade assim o recordou, que esta é uma cidade «for only the very rich and the very poor» (1), mas também, para quem vem de fora, «a city for the very young» (2). Duas filhas aí nasceram e uma terceira, a mais velha, deu os seus primeiros passos no Fort Tryon Park, junto ao Museu dos Cloister, onde o Metropolitan (e é preciso saber, se não se quer passar por labrego, que em Nova Iorque Metropolitan significa o Museu e simplesmente «Met» significa a Ópera) reconstruiu, pedra sobre pedra, um pequeno mosteiro medieval, comprado no Velho Continente, e aí instalou parte da sua colecção de arte sacra.
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Muitos dos seus edifícios, mas sobretudo quem os ocupa, estão em constante transmutação, e o restaurante a que nos habituámos, ou aquele onde queremos voltar em romântica peregrinação amanhã, sem notícia, torna-se montra de um qualquer «empório» (3).
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Naquela altura, viver naquela parte de Manhattan obrigava a saber gerir o risco e o medo, sobretudo quando se viajava no subway. Um escritor nova-iorquino observou: «Quando se viaja de metropolitano duas vezes por dia é difícil acreditar na imortalidade da alma.» Aquela zona era servida pelo A Train, celebrado numa famosa composição de Duke Ellington (4). Era de facto uma experiência aterradora, (...) Esta é a solidão urbana que Hopper (5) não pintou.
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Nos primeiros meses vivi sozinho, e foram tempos de indizível solidão, que apenas voltei a conhecer, embora sob outra forma, quando, por razões diferentes, me encontrei de novo só.
(...) Na escuridão silenciosa de um quarto, rompida apenas pelo alarme estridente das ambulâncias que toda a noite cortam o sono sobressaltado da cidade que nunca dorme, alguém pediu um dia: «Stay with me tonight, it is my birthday.» (6)
João Lobo Antunes, Memória de Nova Iorque e Outros Ensaios
(texto com supressões)
1. Trad: apenas para os muito ricos e os muito pobres;
2. Trad: uma cidade para os muito jovens;
3. grande armazém, mercado.
4. Duke Ellington: compositor jazz norte-americano, de nome verdadeiro Edward Kennedy Ellington, nasceu a 29 de Abril de 1899 e faleceu em 1974. Deu uma enorme contribuição para o jazz e música americana em geral, combinando o blues, o jazz, e o som das grandes orquestras de swing . A sua orquestra manteve-se no topo da popularidade de 1926 a 1974.
5. Edward Hopper: pintor norte-americano nascido em 1882 e falecido em 1967. As suas representações da vida quotidiana da cidade de Nova Iorque e de pequenas cidades norte-americanas das décadas de 30 e 40 - um mundo que aparece desolado, com personagens melancólicas e uma perturbadora escassez de elementos no espaço do quadro - influenciaram grandemente a pop art e o grupo neo-realista dos anos 60 e 70.
6. Trad: Fica comigo esta noite, é o meu aniversário.
As expressões e frases que se seguem sugerem que o autor das vivências relatadas foi um habitante da cidade e não um visitante ocasional.
"(...)a minha vida em Nova Iorque (...)"
"(...) simplesmente crescer em Nova Iorque."
"(...) a cidade do destino final(...)"
"(...)igualmente ligada ao nascer da família (...)"
"(...) restaurante a que nos habituámos (...)"
"Nos primeiros meses vivi sozinho, (...)"
No texto, João Lobo Antunes dá-nos conta das suas impressões, sensações e sentimentos relativamente à cidade de Nova Iorque.
- “(...) o restaurante a que nos habituámos, ou aquele onde queremos voltar em romântica peregrinação amanhã, sem notícia, torna-se montra de um qualquer «empório»” – a permanente transformação
- “(...) a dimensão, a turbulência, as luzes, o ruído e as pessoas” – a irrequietude e movimentação
- “(...) uma cidade «for only the very rich and the very poor», mas também, para quem vem de fora, «a city for the very young»” – os contrastes e as contradições
- “«Quando se viaja de metropolitano duas vezes por dia é difícil acreditar na imortalidade da alma.»” – o perigo, a violência e o medo
- “ (...) alguém pediu um dia: «Stay with me tonight, it is my birthday.»” – a solidão
Gelatina marmoreada
0,5 l de água a ferver
200 ml de natas
3 dl de água
Dissolva bem a outra saqueta de gelatina em 0,3 l de água fervente, juntando-lhe seguidamente as natas. Verta sobre a gelatina anterior. Leve ao frigorífico.
Desenforme e enfeite com morangos.
Delicie-se!
Trabalhinho:
Aqui fica para quem o quiser levar!
Queremos o melhor para os nossos filhos!
10 comentários:
Olá amiga,
UM ótimo final de semana para você também.
Bjsss
Olá Mena
Memórias quem as não tem!
Fazem parte de nós.
Adorei recordar "We allstand together". Aproveitei e provei a gelatina.
Hummmmm...uma delícia.
Bjs e bom fim de semana.
Lisa
oi***
mas que memórias...
adorei o aspecto da gelatina,hehe...
assim como as restantes novidades.
jinhos***
Aff.... como deu vontade de mergulhar nesse rio e banhar minha alma.
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
-
Mena, ainda fiz sobremesas que levassem natas e gelatina, mas ouço dizer maravilhas!:)
Ha, adorei a pescada do post anterior, vou levar comigo!:) Beijókas****
Oi Mena!!!
Que lindo o "musical dos sapos" hehehe... amei!!!!
TÕ levando miminho.
Linda semana prá ti.
bjks
Sonia
Mena, olha eu de novo aqui, hehehe....
Deixei um selinho arretado prá vc no blog de mimos!!!!
Bjks
sonia
Néctar da Flor faz a primeira Blogagem Coletiva onde o tema é: Um conto de amor com cheiro de Néctar da Flor. É com muita felicidade que convidamos todos a conhecer um mundo encantado que há dentro de cada um. Conte um conto, seja personagem da sua história e sinta cada palavra escrita na hora que for contar.
As 10 melhores postagens com o tema levarão um layout personalizado ou uma página de scrapbooking digital. O restante das informações já estão incluídas na imagem acima e a inscrição já está aberta.
Basta colocar nessa postagem o seu nome, o nome do blog que irá concorrer e o email.
Faça parte dessa festa... que festa?
Aquela que se fantasia com emoção...
... VEM?
Obs: Quem for participar tem que levar esse selo abaixo e deixar visível para todos verem.
-
Adorei seu blog.
Obrigada pela visita.
Vera
Olá amiguinha.
Para que não te zangues comigo, deixo-te alguns comentários.
Estou a contar em breve voltar ao normal.
Mas como tu és uma "fofa", não te vais zangar, pois não?
Vou levar este miminho também.
Memórias...Quem as não tem...
Fazem parte da nossa vida.
Tenho fome... dos teus lindos petiscos.
Em breve venho cá jantar.
Jinhos grandes
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