As memórias
As memórias estão no meio-termo entre a autobiografia e a crónica, variando, de caso para caso, o peso relativo do eu no conjunto do narrado. São, sem dúvida, uma forma de escrita sobre si mesmo [...], mas dão-nos também, e sobretudo, o testemunho de um tempo e de um meio, somando ao relato de casos pessoais e familiares o de acontecimentos históricos e políticos. A narrativa memorialística tem um fundo histórico-cultural, sujeito embora à filtragem subjectiva de quem a produz. Nela se acumulam nomes de personagens ilustres [...] que foram actores da História, ao mesmo tempo que o memorialista é actor da sua história. O eu torna-se aqui flagrantemente social. [...]
O memorialista é um Narciso com o sentido da História: ao mesmo tempo que procura conciliar a admiração do leitor, presta um serviço aos vindouros, legando-lhes um testemunho cuja justificação primeira é o valor documental.
Clara Rocha, Máscaras de Narciso
Características do texto memorialístico
Género literário narrativo.
Escrita sobre si mesmo (perspectiva do eu).
Relato de vivências pessoais e familiares.
Recordação de acontecimentos passados com um fundo histórico-cultural.
Valor documental (testemunho de um tempo e de um meio)
O Discurso de José Saramago, Prémio Nobel da literatura 1998, perante a Real Academia Sueca, em 8 de Dezembro de 1998
O excerto do discurso que José Saramago proferiu perante a Real Academia Sueca, no dia 10 de Dezembro de 1998, na cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Literatura, é todo ele construído através de memórias da infância, transportando-nos para um tempo passado. Repara no predomínio do mesmo tempo verbal sempre que se descreve alguém ou determinado acontecimento.
De como a Personagem Foi Mestre e o Autor Seu Aprendiz
Por José Saramago
O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia. Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. (...) algumas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: “José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira”. (...) Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. (...)
Escrevi estas palavras há quase trinta anos, sem outra intenção que não fosse reconstituir e registar instantes da vida das pessoas que me geraram e que mais perto de mim estiveram, pensando que nada mais precisaria de explicar para que se soubesse de onde venho e de que materiais se fez a pessoa que comecei por ser e esta em que pouco a pouco me vim tornando. (...) Ao pintar os meus pais e os meus avós com tintas de literatura, transformando-os, de simples pessoas de carne e osso que haviam sido, em personagens novamente e de outro modo construtoras da minha vida, estava, sem o perceber, a traçar o caminho por onde as personagens que viesse a inventar, as outras, as efectivamente literárias, iriam fabricar e trazer-me os materiais e as ferramentas que, finalmente, no bom e no menos bom, no bastante e no insuficiente, no ganho e no perdido, naquilo que é defeito mas também naquilo que é excesso, acabariam por fazer de mim a pessoa em que hoje me reconheço: criador dessas personagens, mas, ao mesmo tempo, criatura delas. Em certo sentido poder-se-á mesmo dizer que, letra a letra, palavra a palavra, página a página, livro a livro, tenho vindo, sucessivamente, a implantar no homem que fui as personagens que criei. Creio que, sem elas, não seria a pessoa que hoje sou, sem elas talvez a minha vida não tivesse logrado ser mais do que um esboço impreciso, uma promessa como tantas outras que de promessa não conseguiram passar, a existência de alguém que talvez pudesse ter sido e afinal não tinha chegado a ser.
Enxerga - colchão grosseiro de palha; cama pobre;
Logrado - conseguido.
Este excerto do discurso de José Saramago é um relato do seu passado, das suas memórias de infância, daí a utilização predominante do pretérito imperfeito. Este é, por excelência, o tempo verbal da descrição do passado, porque transmite continuidade e durabilidade, contribuindo para a constância das características.
No discurso de José Saramago verifica-se um eu que remete para o passado e outro para o presente.
No momento dos acontecimentos, o sujeito da memória:
ouviu
“(…) o meu avô ia contando: lendas, aparições (…), palavras de antepassados (…)”
sentiu
“(…) um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava (…)”
No momento da escrita, o sujeito da memória:
pensa
“Escrevi estas palavras há quase trinta anos (…) pensando que nada mais precisaria de explicar para que se soubesse de onde venho (…)”
avalia
“Creio que, sem elas, não seria a pessoa que hoje sou (…)”
As vivências de José Saramago no seu passado, mais propriamente na sua infância, são reflectidas no momento da escrita no presente.
Na primeira parte do texto encontramos as seguintes vivências pessoais e familiares relatadas segundo uma ordem lógica.
Considero o meu avô um homem sapiente.
O meu avô era analfabeto.
O meu avô, Jerónimo Melrinho, começava a trabalhar muito cedo.
Os meus avós viviam com dificuldades.
Os meus avós maternos não sabiam, ler nem escrever.
O meu avô costumava contar-me histórias.
Era muito reconfortante ouvir as histórias do meu avô.
A Mena na cozinha
Filetes no forno com caril
1 cebola
1 dente de alho
pimentos (vermelho, verde, amarelo, laranja)
salsa
cebolinho
caril
pimenta
sal
azeite
vinho branco
Salpique os filetes com a salsa e o cebolinho picados. Disponha, por cima dos filetes, uma parte dos pimentos cortados em tiras. Sobreponha o resto dos filetes e proceda do mesmo modo até gastar todos os ingredientes, não esquecendo de temperar com sal, pimenta e caril.
Termine com umas rodelas de cebola. Regue com um fio de azeite e com 1 dl de vinho branco. Leve ao forno.
Sirva com batatinhas cozidas, cortadas às rodelas.
Bom apetite!
Trabalhinho:
E foi deste mesmo cantinho que trouxe isto!
Sweet Dreams from Kirsten Lepore on Vimeo.
9 comentários:
Depois de um passeio pelo teu escolhido Jardim de santos... nada melhor que nos sentarmos à mesa.
E como sempre com um prato que apetece!
Olá Mena
Dei um passeio pelo jardim dos Santos,sentei-me a ouvir Sérgio Godinho e ao chegar a casa...hummmm esperava-me um delicioso jantar:
Bjs.
Lisa
Olá Mena!
Já publiquei o nome da vencedora do desafio... as tuas respostas estavam correctíssimas, mas não foste a primeira a acertar em todas. Mesmo não vencendo, quero agradecer a tua participação!
As flores do colar estão fenomenais, lindíssimas!
Bjos
Oi Mena!!!!!
Estou a perceber que peixes fazem parte do seu cardápio quase que diário.
Aqui tbm gostamos muito de peixe.
bjks
sonia
Mena,
Comer peixe é tão saudável... sabe o que me faz mal? É olhar essa sua comida e não poder comer...ahahaha.
Adoro e adoro!
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
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Chego aqui porque procurava material sobre Gil Vicente e deixo um comentário de obrigada e parabéns pelo espaço tão agradável :))
boa tarde,td bem?
hummm, memórias...
o colar está lindíssimo.
agradeço o miminho.
fica bem,jinhos***
Olá amiga.
Nunca mais consigo, pôr os comentários em dia.
As férias são boas, mas atrasam tudo.
Vou levar este miminho que acho uma gracinha.
Jinhos grandes
Este colar também está lindo.
Jinhos
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