sábado, 27 de novembro de 2010

Frei Luís de Sousa - sebastianismo

Frei Luís de Sousa - Acto I (sebastianismo)

1

Excerto do Canto III d' Os Lusíadas, episódio de Inês de Castro.

120

Estavas, linda Inês, posta em sossego,

De teus anos colhendo doce fruto,

Naquele engano da alma, ledo e cego,

Que a Fortuna não deixa durar muito,

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus formosos olhos nunca enxuto,

Aos montes ensinando e às ervinhas

O nome que no peito escrito tinhas.

121

Do teu Príncipe ali te respondiam

As lembranças que na alma lhe moravam,

Que sempre ante seus olhos te traziam,

Quando dos teus formosos se apartavam;

De noite, em doces sonhos que mentiam,

De dia, em pensamentos que voavam;

E quanto, enfim, cuidava e quanto via

Eram tudo memórias de alegria.

122

De outras belas senhoras e Princesas

Os desejados tálamos enjeita,

Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas

Quando um gesto suave te sujeita.

Vendo estas namoradas estranhezas,

O velho pai sesudo, que respeita

O murmurar do povo e a fantasia

Do filho, que casar-se não queria,

123

Tirar Inês ao mundo determina,

Por lhe tirar o filho que tem preso,

Crendo co sangue só da morte indina

Matar do firme amor o fogo aceso.

Que furor consentiu que a espada fina

Que pôde sustentar o grande peso

Do furor Mauro, fosse alevantada

Contra ua fraca dama delicada?

124

Traziam-a os horríficos algozes

Ante o Rei, já movido a piedade;

Mas o povo, com falsas e ferozes

Razões, à morte crua o persuade.

Ela, com tristes e piedosas vozes,

Saídas só da mágoa e saudade

Do seu Príncipe e filhos, que deixava,

Que mais que a própria morte a magoava,

125

Pera o céu cristalino alevantando,

Com lágrimas, os olhos piedosos

(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando

Um dos duros ministros rigorosos);

E depois nos mininos atentando,

Que tão queridos tinha e tão mimosos,

Cuja orfindade como mãe temia,

Pera o avô cruel assim dizia:


"MADALENA

(repetindo maquinalmente e devagar o que acaba de ler)

Naquele ingano d’alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito…

Com paz e alegria d’alma… um ingano, um ingano de poucos instantes que seja… deve de ser a felicidade suprema neste mundo.

E que importa que o não deixe durar muito a fortuna? Viveu-se, pode-se morrer. Mas eu!… (Pausa) . Oh! que o não saiba ele ao menos, que não suspeite o estado em que eu vivo… este medo, estes contínuos terrores, que ainda me não deixaram gozar um só momento de toda a imensa felicidade que me dava o seu amor. Oh! que amor, que felicidade… que desgraça a minha! (Torna a descair em profunda meditação; silêncio breve)."

A obra de "Frei Luís de Sousa" inicia-se com dois versos retirados do episódio de Inês de Castro d' Os Lusíadas. A personagem D. Madalena comenta os versos que lê, fazendo referência a um “ingano”: Uma felicidade aparente.

A aproximação que Garrett faz entre Inês de Castro e Dona Madalena indicia logo no início da obra um fim trágico.

No excerto acima, as interjeições e a pontuação evidenciam um sentimento de inquietação, típico do Romantismo.

As expressões sublinhadas (formadas por uma sucessão de palavras, gradação) revelam a intensificação do estado de espírito de D. Madalena.

Ambas as expressões gradativas contribuem para realçar o crescendo de emoções da personagem.

Neste excerto do monólogo de D. Madalena, o “mas” (conjunção coordenativa adversativa) revela uma alteração no seu estado emocional.

D. Madalena vive em desassossego, porque teme perder a felicidade que alcançou.

As lembranças do passado provocam em D. Madalena um grande sofrimento e isso é visível na pausa que ela faz no monólogo e nas expressões de desespero que se vão seguindo.


2

Dona Madalena casou pela primeira vez com D. João de Portugal, um nobre cavaleiro. Seu marido partiu numa jornada para África, lutou lado a lado com D. Sebastião na batalha de Alcácer Quibir e desapareceu tal como o rei. Durante 7 anos procuraram-no, mas em vão. D. Madalena voltou a casar com Manuel de Sousa Coutinho e teve uma filha, Maria.

O aio Telmo Pais foi um fiel servidor de D. João de Portugal e tem dúvidas em relação à morte de D. João de Portugal:

"MADALENA

(...)

Sabeis como chorei a sua perda, como respeitei a sua memória, como durante sete anos, incrédula a tantas provas e testemunhos da sua morte, o fiz procurar por essas costas de Berberia, (...)

Tudo inútil; e a ninguém mais ficou resto de dúvida…

TELMO

— Senão a mim.

(...)

TELMO

(gravemente)

(...)

Não me esqueceu uma letra daquelas palavras; e eu sei que homem era meu amo para as escrever em vão: — «vivo ou morto, Madalena, hei-de ver-vos pelo menos ainda uma vez neste mundo». — Não era assim que dizia?

(...) "

A crença de Telmo no regresso do seu amo era vista como um agouro por D. Madalena que passou a ver a figura de D. João de Portugal com um fantasma. Telmo desempenha assim o papel tradicional que o coro assumia nas tragédias gregas, anunciando o mal que viria sem intervir na acção.

Os dois amos vistos por Telmo:

D. João de Portugal – “…que têmpera d’alma era aquela…”

Manuel de Sousa Coutinho – “…honrado fidalgo, bom português…”; “…nunca há-de ser aquele espelho de cavalaria e gentileza…”; “…que não sei latim como meu senhor…”; “…fidalgo de tanto primor e de tão boa linhagem…”

Telmo, apesar de todo o respeito que guarda a D. Madalena e ao seu segundo marido, continua leal ao seu primeiro amo, desejando o seu regresso e não acreditando na sua morte.

3

A crença no regresso de D. Sebastião assusta duas das personagens desta peça: D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho. O medo na crença do regresso de D. Sebastião reside na probabilidade do regresso de D. João de Portugal.

O rei D. Sebastião nasceu em 1554 e ficou conhecido pelos seus grandes feitos heróicos. Acabou por morrer em 1578, combatendo na batalha de Alcácer Quibir, onde lutava pela expansão territorial. Como era solteiro e não tinha filhos, o seu desaparecimento provocou uma crise dinástica que veio originar a aclamação de Filipe II de Espanha como rei de Portugal. A notícia da morte do rei português, mal aceite pelos populares, deu azo ao nascimento de um mito, o mito sebastianista que se baseia na crença do regresso daquele que salvará a pátria e lhe restituirá a sua glória.


Expressões que contribuem para a caracterização de Maria, presentes nas falas de D. Madalena e de Telmo: “…está uma senhora…”; “…pobre menina!”; “um anjo…”; “uma viveza, um espírto!”; “…que coração!”; “…está sempre a querer saber…”; “…delgadinha…”

Telmo considera Maria merecedora de uma situação mais digna, porque é fruto de um casamento que ele considera ilegítimo.

Tendo em conta o texto, podemos concluir que Madalena considera que a sua filha necessita de moderar a sua curiosidade.

Maria apresenta características tipicamente românticas de menina-anjo, delicada e de extrema bondade. A sua perspicácia assusta Madalena, na medida em que a sua filha se aproxima cada vez mais da verdade.

Maria é uma personagem idealizada:

- a ingenuidade, a pureza, a meiguice, o abandono, …, próprios duma alma infantil, e a inteligência, a experiência, a cultura, a intuição, características de um espírito adulto, confluem numa personagem pouco real, só entendida à luz do desvelo que Garrett votava a sua filha Maria Adelaide e à condição social que, para a mesma, resultara da morte prematura da mãe;

- protótipo da menina-anjo, tão do agrado dos românticos, Maria é demasiado angélica para ser verdadeira;

- a sua dimensão psicológica resulta, por isso, contraditória, ao revelar comportamentos, simultaneamente, de criança e de adulto;

Alguns traços caracterizadores de Maria:

- ternura

- culto sebastianista

- dom de sibila (dom da profecia)

- cultura

- coragem, ingenuidade e pureza

- tuberculosa


MARIA

— Não é isso, não é isso; é que vos tenho lido nos olhos… Oh, que eu leio nos olhos, leio, leio!… e nas estrelas do céu também, e sei cousas

MADALENA

— Que estás a dizer, filha, que estás a dizer? que desvarios!

Uma menina do teu juízo, temente a Deus… não te quero ouvir falar assim. Ora vamos: anda cá, Maria, conta-me do teu jardim, das tuas flores. Que flores tens tu agora? O que são estas? (Pegando nas que ela traz na mão.)

MARIA

(abrindo a mão e deixando-as cair no regaço da mãe)

— Murchou tudo… tudo estragado da calma… Estas são papoulas que fazem dormir; colhi-as para as meter debaixo do meu cabeçal esta noite; quero-a dormir de um sono, não quero sonhar, que me faz ver cousas… lindas às vezes, mas tão extraordinárias e confusas…”

As expressões textuais a negrito remetem para o carácter divinatório de Maria.

O carácter divinatório e visionário de Maria é demonstrado por uma série de indícios trágicos por si revelados, não só relacionados consigo própria, mas também com as restantes personagens.


A Mena na cozinha

Lombo assado à São Martinho

1 lombo de porco
piripiri
sal
1 cebola
4 dentes de alho
pimenta
vinho branco
coentros
azeite
castanhas

Faça vários furos no lombo e introduza nesses furos piripiri. Esfregue o lombo com sal e pimenta e reserve.
Corte a cebola às meias-luas e os alhos às rodelas e faça uma cama num pirex. Regue com um pouco de azeite. Disponha o lombo em cima da cebolada.

Acrescente as castanhas, colocando-as à volta do lombo. Regue tudo com vinho branco. Por cima do lombo, disponha os coentros.

Leve ao forno a assar, regando, de vez em quando, com o molho que se vai formando. Se o molho for pouco, prepare um caldo com vinho e azeite e regue o lombo e as castanhas.

Sirva com batatinhas fritas e salada.
Bom apetite!

Trabalhinho:

1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

As tuas fotos estão LINDAS!

Não jantei...é tarde.

Gostei imenso do sabonete.

Bjs.