domingo, 20 de fevereiro de 2011

Chegada a Calecut

Canto sétimo


Foi em Maio de 1498. Camões, num entusiasmo incontido, pára a narração para tecer um elogio ao espírito de cruzada da gente da "pequena casa lusitana", que ia ali para dilatar a Fé cristã. Já tinha portos em África, dominava a Ásia, colonizava a América e, "se mais mundo houvera, lá chegara". Em contrapartida, invectiva as outras nações da cristandade (a Alemanha de Lutero, a Inglaterra de Henrique VIII, a França de Francisco I, a Itália "submersa em vícios mil"), que lutavam entre si e deixavam o Santo Sepulcro em poder dos infiéis (estrofes 1-14).
Retomando o assunto, o Poeta, depois de descrever muito sumariamente a Índia, narra o desembarque do degredado João Martins que ia informar-se sobre o rei. Mas, "entre a gente que a vê-lo concorria", encontra um mouro chamado Monçaide, o qual fala castelhano e se mostra admirado de ali ver europeus. Depois de lhe dar a informação de que o Rei, de nome Samorim, habitava fora da cidade, recebe-o em sua casa, dálhe de comer e de beber. Em seguida, visita a nau capitaina, onde é recebido "benignamente". Sentado ao lado do Gama, fala sobre a Índia (est. 16-29).
O Mouro faz, em seguida, a descrição geográfica da província de Malabar, a terra onde se encontravam, e refere seus usos e costumes. Entretanto, o Samorim, que já sabia da chegada da gente lusa, manda emissários a bordo a convidar o Capitão-mor a visitá-lo. Desembarca com alguns "nobres portugueses" e, sendo cordialmente recebido pelo regedor, que ali se chamava Catual, rodeado de alguns soldados, é transportado num leito portátil (palanquim) ao palácio real, cujas belezas ornamentais são descritas. O Monçaide servirá de intérprete. Deitado num "rico leito" e ricamente vestido, o Samorim recebe-o admirado, por sua vez, com "o trajo e jeito da gente nunca dele vista". Vasco da Gama saúda-o em nome do Rei de Portugal que lhe promete amizade, alianças e comércio. O Rei responde que iria informar-se com os seus conselheiros e manda agasalhá-los.
O Catual, em seguida, procura junto do Monçaide e a pedido de seu Rei saber de onde vêm os visitantes, quais os seus costumes e que religião professavam. Aquele responde favoravelmente. Então resolve visitar a armada onde é recebido por Paulo da Gama que lhe vai explicar o significado das figuras pintadas nas bandeiras, processo usado pelo Épico para narrar mais alguns passos da História de Portugal. Invocando as ninfas do Tejo e do Mondego, já ia começar, mas interrompe bruscamente a narração para falar um pouco de si mesmo (est. 32-79).
Termina por jurar que não entregará seu Canto "em quem o não mereça": os que antepõem "o seu próprio interesse ao bem comum e do seu Rei"; os ambiciosos que desejam subir a "grandes cargos" só para "usar mais largamente de seus vícios"; os que para " comprazer ao vulgo" mudam de ideias e princípios; os que para "contentar o Rei" se entregam ao ofício de "despir e roubar o pobre povo"; finalmente, os que acham justo "guardar-se a lei do Rei severamente" e não pagam "o suor da servil gente" (est. 83-87).


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