Os romances de Eça de Queirós
Eça de Queirós foi um grande mestre do romance português moderno.
O romance é um género narrativo ficcional em prosa, mais longo que a novela e o conto, em que as personagens são apresentadas com maior densidade psicológica e o tempo e o espaço são elementos mais elaborados. Este género narrativo de larga projecção cultural é, de acordo com a entrada “romance” do Dicionário de Narratologia, de Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes, “fruto de uma popularidade e de uma atenção por parte dos seus cultores que, sobretudo a partir do século XVIII, fez dele decerto o mais importante dos géneros literários modernos.
O Crime do Padre Amaro – a primeira versão surge nas páginas da “Revista Ocidental”, em 1875.
O Primo Basílio – 1878
O Mandarim - foi publicado em folhetins no “Diário de Portugal”, em 1880.
A Relíquia - 1887
Os Maias - 1888
A Cidade e as Serras – editado postumamente, em 1901.
A Correspondência de Fradique Mendes – obra póstuma.
A Ilustre Casa de Ramires – editado em volume no ano da morte do autor.
O Realismo
A conferência proferida por Eça de Queirós lança as bases estéticas deste movimento literário, que se constitui como reacção ao romantismo e resulta de uma nova preocupação, agora voltada para a realidade concreta e para as questões sociais e humanas, que serão analisadas ao pormenor.
Stendhal, em França, foi o primeiro a reagir ao sentimentalismo romântico. Mas é Balzac quem melhor define o realismo, dada a observação objectiva de que se serve, concretamente na Comédie Humaine, a que se seguiram Salammbô e Madame Bovary de Flaubert.
Além disso, as teorias positivistas e experimentais influem no aparecimento de uma literatura realista, de cariz analista que fará despoletar o naturalismo.
Em síntese, pode afirmar-se que o realismo é um movimento artístico que tenta observar e captar a realidade de uma forma objectiva, fazendo dela uma análise rigorosa, servindo-se da narrativa, particularmente do romance, por ser este que permite articular a narração com a descrição minuciosa dos espaços onde decorre a acção. Aqui, a personagem ganha relevo, especialmente porque se lhe associam aspectos profissionais, económicos, culturais e esta estabelece ligação com o mundo real, representativo de uma época histórica.
O Naturalismo
O naturalismo serve-se do real objectivo embora lhe imprima um carácter analítico. Isto equivale a dizer que parte do mesmo pressuposto do realismo, que defende que a arte deve ser a representação mimética e objectiva da realidade exterior, usando a impessoalidade e o objectivismo como técnica. Mas não se limita a representá-lo, procura aprofundá-lo através da análise das circunstâncias sociais que envolvem as personagens e que condicionam o seu comportamento. Parte, por isso, dos princípios deterministas como a hereditariedade, o meio social e a educação que condicionam os fenómenos humanos em todas as dimensões. Neste sentido, compreendem-se as afirmações de Eça de Queirós quando, na conferência intitulada "O Realismo como nova expressão de arte", afirma que "o Realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade". Estas palavras comprovam a noção de que o Naturalismo não é independente do Realismo, é antes o seu aprofundamento porque tem subjacente um conjunto de correntes científicas e filosóficas que imprimem ao realismo um carácter algo científico.
Os temas fundamentais do romance naturalista ("experimental") são os seguintes:
- o alcoolismo, como deformação social e dos caracteres;
- o jogo, encarado como consequência de determinadas situações de injustiça;
- o adultério, como denúncia de certo modo de vida resultante duma errada educação romântica;
- A opressão social, como resultado de conflitos de interesses, denunciando as suas causas económicas, políticas e sociais;
- Até a própria doença (a loucura, por exemplo), enquanto manifestação de taras hereditárias.
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