por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
Tomei conhecimento do duplo
incidente com o ministro Relvas através de uma entrevista televisiva ao
ex-ministro socialista Augusto Santos Silva. A indignação deste era tanta, por
causa dos maus tratos de que o primeiro teria sido vítima, que julguei ter
ocorrido uma nova "Noite Sangrenta" em Lisboa. Pensei que Relvas
tinha sido metido numa camioneta, tal como António Granjo, Machado Santos e
outros infelizes, assassinados na noite de 19 de outubro de 1921 por
marinheiros revoltados. Felizmente, a III República não tem imitado, até agora,
a cultura de violência da I. Nos tempos de abundância, Relvas seria uma figura
de comédia. Os governados sempre gostaram de encarar alguns governantes com
sarcasmo. Mas estes são tempos de escassez e tragédia. Convidar um homem que
nunca escreveu uma linha digna de memória futura, e que só diz trivialidades,
para uma conferência no Clube dos Pensadores (!) ou esperar que ele possa encerrar
um colóquio sobre o futuro da comunicação social, quando a sua tarefa principal
no Governo é a de lotear a rádio e televisão públicas, parecem-me dois gestos
insensatos. Ficar condoído com o silêncio forçado de Relvas, e esquecer as
vozes inteligentes que a sua ação tem afastado do serviço público de
comunicação social, parece-me tão despropositado como acusar a poesia erótica
de Bocage de pôr em causa as liberdades fundamentais do intendente Pina
Manique. Em Berlim, um ministro que plagia uma tese sai do governo em menos de
24 horas. Em Lisboa, um homem cuja vida é um perpétuo faz-de-conta, esgota a
agenda política. Só o primeiro-ministro não percebeu, ainda, que o caso Relvas
não é uma questão de direitos constitucionais, mas um assunto de higiene pública.
Contamina a pouca autoridade do Governo e mina o moral que resta ao País.
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Agora a minha opinião: o ministro
Relvas é mantido intencionalmente no Governo porque dá muito jeito: enquanto as
pessoas se vão distraindo com ele não focam o que é, de facto, importante....
1 comentário:
Estou de acordo contigo, o Relvas é mantido apenas para distrair...
Beijinhos, minha querida amiga Rita.
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