quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce

Praia do Pedrógão


O INFANTE

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!


O desenvolvimento do assunto deste poema desenvolve-se em três partes. A primeira parte é constituída apenas pelo primeiro verso, que contém uma afirmação tripartida de tipo aforístico: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce". Os três termos desta afirmação seguem-se segundo a ordem lógica causa-efeito: o agente ou causa próxima da obra (efeito) é o homem, mas a causa remota, o primeiro determinante é Deus. Se Deus não quisesse, o homem não sonharia e a obra não nasceria. De notar que o sentido aforístico da frase tem um valor universal: o substantivo homem refere-se ao ser humano em geral e obra designa qualquer acção humana.
A segunda parte do texto (do segundo verso da 1.ª estrofe até ao fim da 2.ª) apresenta-nos a vontade de Deus que quer toda a terra unida pelo mar (que a separava), confiando essa missão ao Infante D. Henrique que levou, como por encanto, essa orla branca até ao fim do mundo, surgindo, em visão miraculosa, a terra redonda do azul profundo. Esta segunda parte subdivide-se em três momentos: a acção de Deus, a acção do Infante (herói ungido por Deus) e a realização da obra (o grandioso efeito que transcende as forças humanas, próprio de heróis).
A terceira parte é constituída pela última estrofe, em que se transpõe para o povo português a glória do Infante (quem te sagrou criou-te português). O povo português foi, pois, o eleito por Deus para esta façanha. Mas o sujeito poético assinala também o desmoronar-se do império dos mares (o império se desfez), prevendo, no entanto, uma nova acção para renovação e engrandecimento de Portugal
(falta cumprir-se Portugal).
O assunto evolui primeiro do geral (universal) para o particular: o homem e a obra do primeiro verso têm aplicação universal, ao passo que, na segunda parte, o homem se particulariza no Infante e a obra na epopeia marítima. Dá-se, depois, na passagem da segunda para a última parte do poema, uma mudança de sentido oposto: transição de um plano particular (Infante) para um plano geral (os portugueses).
Deus => o homem => a obra = Pela vontade de Deus e pelo querer e acção do homem português realizou-se a epopeia marítima, "cumpriu-se o mar", mas, logo a seguir, o Império se desfez. Dá-se o desânimo nacional, uma pausa no caminho glorioso do nosso povo. Daí a súplica do sujeito poético ao Senhor que dá origem a tudo: "Senhor, falta cumprir-se Portugal!..." Sugere-se, pois, uma nova acção de Deus e do homem português, de forma a repor, ou a acrescentar ainda mais a glória do povo luso. De novo se vai repetir a mesma sequência do primeiro verso do poema: um impulso de Deus => um sonho do homem => e uma nova epopeia.
Neste poema realça-se a função iniciática do Infante na obra dos descobrimentos, acção essa que lhe foi confiada pela própria divindade. Daí o emprego de palavras carregadas de conotações simbólicas. Assim, a expressão "sagrou-te", talvez ligada na mente do sujeito poético
à palavra Sagres (o Infante de Sagres), sugere a escolha do Infante para uma missão divina ("Deus quer"). O facto de o sujeito lírico usar maiúsculas em "Mar" e "Império" dá às palavras uma dimensão marcadamente simbólica. Mar é símbolo do desconhecido, do mistério. Daí as expressões "desvendando a espuma" (desfazendo o mistério), "nos deu sinal" (dar um sinal é dar a chave para decifrar o mistério), que denunciam já o levantar de um véu, o caminhar para a plena luz. As palavras, ou expressões "espuma" (branca), "orla branca", "clareou", "surgir" (sair das sombras, revelar-se), "do azul profundo" (do mar imenso, do fundo do mistério), com todo o seu conteúdo simbólico, exprimem a passagem do mistério para a plena luz. Esta passagem apresenta-se como repentina, espectacular, miraculosa. É o que sugere a expressão: "E viu-se a terra inteira, de repente,/ Surgir redonda..."
Esta visão da terra redonda, surgida repentinamente, sugere a ideia de que a obra dos portugueses é o realizar de um plano divino. O redondo, a esfera, é o símbolo da perfeição cósmica, da unidade, da obra completa e perfeita que Deus quis: "Deus quer... /Deus quis que a terra fosse toda uma..."
O próprio Infante surge-nos aqui mais como símbolo do herói português escolhido por Deus para ser agente da sua vontade: "Quem te sagrou criou-te português".
É nítido no poema um certo pendor dramático não só atendendo à tensão emocional que se revela sobretudo na segunda estrofe com a visão da terra redonda surgindo magicamente do azul profundo, mas também porque há três personagens: o sujeito emissor (sujeito poético), Deus e o Infante. Se os dois últimos não falam, o primeiro dirige-se ao Infante (sagrou-te, Quem te sagrou, em ti) e interpela Deus (Senhor, falta cumprir-se Portugal). Há portanto um diálogo, pelo menos implícito, o que está de harmonia com o carácter misterioso, messiânico do poema.
O texto começa com os verbos no presente (quer, sonha, nasce), de harmonia com o discurso aforístico do primeiro verso, passa para o passado (quis, sagrou-te, foi, clareou, viu-se) narrativo de acontecimentos passados, para regressar ao tempo presente (Falta cumprir-se Portugal).
Após a primeira aventura vitoriosa dos portugueses (o Império se fez), veio o desânimo. Por isso o sujeito poético, voltando-se para Deus: "Senhor, falta cumprir-se Portugal". Este presente "falta" confere à frase uma sugestão de urgência, necessidade. De notar que esta última frase do texto, com toda a sua indeterminação e ambiguidade, juntamente com todas as palavras e expressões carregadas de conotações simbólicas (já referidas atrás) dá ao poema características simbolistas.
O último verso só indirectamente formula uma súplica a Deus. Apenas se enuncia perante Ele um facto: falta cumprir-se Portugal. Segundo a técnica simbolista, é mais belo sugerir do que afirmar. Além disso, esta enunciação da súplica, não em forma imperativa, mas em forma informativa, relaciona-se com as características messiânicas do poema: o povo português é o eleito de Deus; basta que Deus veja o que falta a Portugal para que desencadeie as acções necessárias para restabelecer a glória do seu povo.
Esta dinâmica cíclica-messiânica da história de Portugal não se encontra apenas neste poema de Fernando Pessoa; vemo-la também n'Os Lusíadas de Camões: no último canto é claro o incitamente do poeta a D. Sebastião (enviado por Deus) para que reponha e, se possível, acrescente a glória de Portugal.




Fui às compras com os meus filhos e, desta vez, comprámos uma máquina para fazer pão. Tem sido um verdadeiro sucesso, cá em casa, além de todos já saberem fazer pão (caseiro, rústico, saloio, integral, francês, com sementes, com chouriço, com bacon...), na máquina também se podem fazer bolos, scones, massa para pizzas, doces, compotas... E é tão agradável ter paozinho fresco e quentinho a todas as refeições!
Aqui ficam fotos de algumas especialidades da casa: pão rústico, pão saloio e pão com chouriço.






Trabalhitos
:

Prato

Mais uma almofadinha que era da minha avó. Esta também é bem bonita!

8 comentários:

DRIKA TREVILATO disse...

Olá vim conhecer seu espaço. E retribuir a visita.
Me encantei com os bordados e barrados em croche, todos muito lindos!!! Guardarei seu link para retornar outras vezes, ok?
Achei a foto da praia tão tranquila que dá vontade de estar lá, rsrsrs.
Tenha um bom restante de semana.
Bjks de Drika Trevilato

Chocolate disse...

olá querida!
eu sei que deveria ter usado uma cor clara, mas aquela tinta é nova e estava cheia de vontade da experimentar! so uma pergunta, se usarmos tinta escura com guardanapo escuro a cor do motivo também absorve?
beijinhos ***********

Feltro em casa disse...

Oi Mena!!!
Bacana a sua máquina de pão!!!Eu tenho uma, mas ela está quebrada já faz um tempo...ainda não mandei arrumar. Ela bate a massa mas não esquenta. Mas o pão fica super bom não é? Fora que não se tem trabalho algum!!!
Linda a almofada da sua avó. Foi ela quem fez? Um beijão. Malú

artes_romao disse...

Boa noite,td bem?
um belo post...como sempre..
e uma makina k deves amar.
eu tb tenho um padeiro aki em casa de vez em quando la poe as maos na massa,hoje foi um bolo...
variou,lol...
mas tens toda a razao, é excelente ter em casa desse paozinho...
os trabalhitos tb estao lindos,parabens.
fika bem,jinhos***

Anónimo disse...

Olá Mena

Como vais amiga?
Espero esteja tudo bem.

Ontem fui ao teu cantinho, para ver as tuas novidades e dar-te uma boa novidade para mim, mas não tinha onde deixar recado.

Por isso aqui vai...

Vou ser vóvó novamente de um rapaz...a grávida é a minha filha que está com 20 meses de gestação!
Só agora o digo, pois como ela teve um aborto com 8 semanas, pediu-me para desta vez não dizer nada até agora.
Claro que "a muito custo" compreendi...e cumpri!
Mas custou muito...andar amordaçada! Evidente que já fiz um post no meu blogue...agora tenho que me "vingar" e dizer aos quatro ventos como estou feliz!...afinal andei "amordaçada" durante muito tempo....!

Mena, quanto aos teus posts, como é costume adorei tudo...mas mesmo tudo!

Mas minha querida a almofada da tua avó não me sai da cabeça...!
Se a outra era espectacular...esta espectacular é!
Minha querida...que tesouros mais lindos e de grande valor afectivo e não só...tu tens.
Mais uma vez, parabéns á tua vovó.

Bom fim de semana
Um grande beijinho com muita amizade
Cassilda

Unknown disse...

Olá Mena,
Parabéns por mais um belíssimo "post" e pelos trabalhos apresentados, em particular a almofada que acho um arraso!!
Beijinhos e bom fim de semana,
Lia.

Sonia Facion disse...

Oi Mena querida!!!

Linda essa almofada. Vc só tem relíquia da avó.
Passe no meu blog que tem mimo para ti.

Bom fim de semana.

Sonia

Sandra Neves disse...

Obrigado :) ajudaste-me na realização do trabalho de Língua Portuguesa sobre o "Infante"