segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O Diário de Sebastião da Gama




O Diário de Sebastião da Gama


O Diário de Sebastião da Gama é o registo quotidiano, ao longo de dois anos (1948-1950), das suas experiências estimulantes enquanto professor estagiário na Escola Veiga Beirão, em Lisboa.



Fevereiro, 9


Ainda não disse que tenho um Poeta na turma. É o Romão. Faz o possível por «parecer» Poeta, pela maneira como se senta, pelo tom de voz, e até pelo reclamo falado que de si faz: assina o «Poeta»; acha naturalíssimo que eu lhe chame «ó Poeta» e diz aos outros que se não devem admirar de que haja Poetas que escrevem prosa: «Eu também sou Poeta e faço muitas redacções.» Tendo-lhe dito que é preciso ser Poeta principalmente por dentro; ele deve sabê-lo e é muito capaz de sê-lo: o que escreve traz o selo tão nítido que o rapazinho talvez não se tenha enganado a seu respeito. Imaginação, boa escolha de palavras e uma gramática pavorosamente à Gomes Leal; pontuação não é com ele: a sua prosa (assinada assim: «o Poeta prosador») é parente do verso de Aragon.

Pois o Romão quis ler «Uma Corrida em Salvaterra», e eu invejei a leitura de que foi capaz. Ouvi-o com gosto, se não com entusiasmo. E mais ainda quando, não aproveitando do trecho senão o facto de apresentar um português valente, dos que dantes havia, improvisa um discurso tão correctamente conduzido, tão bonito e tão rico de frases felizes, que parecia preparado. Mas não era: o Poeta estava a falar. E o Poeta tinha o coração nas mãos (já sei porque é que ele põe as mãos num gesto que eu a princípio não percebia).

Dizia ele que «a alma portuguesa foi sempre grande». Invencível sempre, foi antigamente, no entanto, «mais firme, mais impetuosa». Hoje deixaríamos morrer afogado, junto de nós, quem quer que não fosse de nossa família (pai, mãe, irmão...) porque a morte nos aterroriza; porque (como a ordem das palavras é já de Poeta nesta frase!) «hoje o medo de morrer é grande».


Sebastião da Gama, Diário, Ática [1948-1949]



Maio, 2


Gostava que os mocinhos não ligassem importância de valoração quantitativa às notas; que as tornassem como símbolos, não como prémios: que para eles a nota não fosse um lugar sentado no eléctrico. Que dissessem: «Que me importa ter tido dez valores, se eu valho dezoito?» Ou então «de que me serve ter tido dezoito, se eu valho dez?» (...)

Mas é evidente que isto há-de custar, se é que não é quase impossível. Pois se nós os grandes, os que temos

estas teorias...

Cala-te, boca!

Isto vem a ser da mesma natureza dos castigos - quero dizer, por mais justas palavras, do bom ou mau comportamento na escola. Ontem (ontem, saibam todos, foi o dia 11 de Maio) duas meninas vieram chamar o contínuo para que repreendesse um colega que lhes dissera palavras menos decentes; eu acompanhei-as, não fosse o empregado ser pouco suave e estragar completamente o que só estaria meio estragado. Fui eu quem falou ao rapazinho; e fiz-lhe ver que, embora o seu caso pudesse ser comunicado ao Senhor Director (pobres Senhores Directores, de quem os contínuos fazem um papão!) eu não queria que ele tornasse a fazer semelhante coisa por medo ao castigo: mas por honestidade, por aprumo moral, pela compreensão perfeita do erro que cometera. Disse-lhe mais coisas e apertei-lhe a mão no fim. Ou sou muito ingénuo ou o rapazinho está curado.

Vem esta lengalenga a propósito de que eu tive que explicar aos meus homens o motivo da descida de algumas classificações. «Tu, Aragão, baixaste para 17, mas para mim continuas a ter 18, e é isto que interessa.»

A lição foi quase toda deles: leram os seus trabalhos (a coisa que mais apetece nesta idade) e fizeram as suas observações às faltas de correcção que ocorriam. Tenho por costume fazer assim, quando eles espontaneamente não reconhecem o erro. Leio por inteiro a frase onde «há gato» e revelo: «Aqui há gato, aqui há qualquer coisa que eu não acho bem. Qual é a coisa qual é ela?» - e os rapazes descobrem, há quase sempre um, pelo menos um, que descobre. Que o professor seja humilde também aqui.


Sebastião da Gama, Diário, Ática [1948-1949]



No excerto do Diário de Sebastião da Gama (Fevereiro, 9), a opinião do sujeito acaba por se misturar com o relato da experiência vivida, aliás esta é uma das características do diário:


- "Hoje deixaríamos morrer afogado, junto de nós, quem quer que não fosse de nossa família (pai, mãe, irmão...) porque a morte nos aterroriza; porque (...) «hoje o medo de morrer é grande»”.


- "(...) e eu invejei a leitura de que foi capaz."


- "Ouvi-o com gosto, se não com entusiasmo."


- "(...) improvisa um discurso tão correctamente conduzido, tão bonito e tão rico de frases felizes, que parecia preparado."


- "E o Poeta tinha o coração nas mãos (já sei porque é que ele põe as mãos num gesto que eu a princípio não percebia)."



Já no excerto do Diário de Sebastião da Gama (Maio, 2), o sujeito, mais do que deixar passar a sua opinião, expressa alguns desejos:


- O professor queria que os seus alunos dessem mais importância às notas qualitativas.


- O professor desejava que o rapaz, que dissera palavras menos próprias a duas meninas, percebesse que não devemos agir mal por medo do castigo, mas sim porque sabemos que estamos a agir mal.



Nos excertos de ambos os textos há também outras características do diário:


- “(já sei porque é que ele põe as mãos num gesto que eu a princípio não percebia).” - Marca de oralidade


- “(...) eu não queria que ele tornasse a fazer semelhante coisa por medo ao castigo (...) ” - Marca de 1.ª pessoa


- “Maio, 2 ” – Datação


- “Hoje deixaríamos morrer afogado, junto de nós, quem quer que não fosse de nossa família.” - Marca do tom coloquial


- “(...) e eu invejei a leitura de que foi capaz.“ - Marca de 1.ª pessoa




A Mena na cozinha


Entrecosto assado no forno com batatinhas

entrecosto
batatas
pimenta
sal
4 ou 5 tomates maduros ou concentrado de tomate
1 cebola
2 dentes de alho
1 malagueta grande
cebolinho
pimento verde, vermelho, amarelo, laranja
salsa
1 dl de vinho branco
azeite

Descasque as batatas e corte-as aos quadrados pequenos. Num tabuleiro de barro, faça uma cama a cebola às rodelas, alho picado, salsa, metade da malagueta e cebolinho cortado aos pedacinhos.

Disponha as batatinhas em cima da "cama", polvilhe-as com sal e pimenta e por cima destas coloque o entrecosto. Tempere com sal e pimenta.

Por cima, coloque os outros ingredientes: os pimentos às tiras (basta 1/4 de cada espécie), o tomate aos quadrados, uns tronquinhos de salsa, o vinho branco, o cebolinho picado e o resto da malagueta. Regue com um pouco de azeite.

Leve ao forno a 180º.
Quando estiver quase pronto, retire de cima do entrecosto todos os legumes e passe o forno para o programa de grelhar. Deixe ganhar cor de um lado e do outro.
Retire do forno.

Sirva o entrecosto com as batatinhas e salada de tomate.


Trabalhinho:

Mais umas molinhas para fechar os meus pacotes.



Miminho

Este miminho foi-me oferecido pela Lisa! Obrigada, amiga!
Aqui fica para quem o quiser levar!



9 comentários:

APO (Bem-Trapilho) disse...

olá Mena!
Cá estou eu de volta para te dar um grande bjinho e agradecer a sempre simpática visita! volta sempre amiga! gosto de te ver por lá! :)
adorei a sugestao culinária. tenho que fazer tb.
e as molinhas sempre úteis e muito bonitas.
bjo bjo bjo

artes_romao disse...

boa tarde,td bem?
humm, uma bela história;)
é o nome da Rua onde moram os meus sogros,lol...
adorei as molinhas, muito bonitas.
agradeço tb o selinho.
fica bem,jinhos***

Edilene Pacheco disse...

Olá amiga,

Obrigada pelos mimo.
Estou levando.

Que vocÊ tenha uma semana maravilhosa.

Bjsss

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Entrei agora e aproveitei para jantar, ouvindo os Pink Floyd.

Gostei de recordar o texto de Skakespeare.
Um momento de reflexão!

Ah...as molinhas estão LINDAS!


`Referia-me ao correio electrónico, mas não sei qual é. Não o vejo aqui no teu perfil.
Manda-mo.

Bjs.

Lisa

Anónimo disse...

Adoro entrecosto e já não como há algum tempo, esta receita com os pimentos é uma bela alternativa!
Um pratinho muito completo...e gosto do glamour da louça preta! hehehe:)

Sonia Facion disse...

Que linduchos esses prendedores.

O prato, já estou a salivar, hummmmmmm...

O miminho já está a caminho do meu blog, tanks.

Boa semana.

Sonia

~*Rebeca*~ disse...

Mena linda,

Olhando essas comidas acabei de lembrar que não jantei.

Hoje o dia foi meio pesado, ainda bem que tudo voltou ao normal.

Beijo imenso, menina linda.

Rebeca

-

Maria Cusca disse...

Olá amiga.
Obrigada pela presença e pelo carinho.
Quando vier de férias, venho ver esta postagem, com olhos de ver.
Porque a esta hora, já são olhos de sono.
Jinhos grandes e uma óptima semana

Chocolate disse...

olá! os teus pacotes ficaram super alegres com as molinhas! beijinhos