sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Criancinhas

Fomos mais uma vez a Lisboa com os 9.º anos ver o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente. Vimos também a exposição patente no CCB, passeámos pelos jardins ali em redor e visitámos a ermida de Nossa Senhora de Belém, o local onde os nossos marinheiros iam orar, partindo seguidamente em procissão rumo às naus que os levariam a novos mundos.


Estas são algumas das fotos que tirei no CCB.






Criancinhas


A criancinha quer Playstation. A gente dá.

A criancinha quer estrangular o gato. A gente deixa.

A criancinha berra porque não quer comer a sopa. A gente elimina-a da ementa e acaba tudo em festim de chocolate.

A criancinha quer bife e batatas fritas. Hambúrgueres muitos. Pizzas, umas tantas. Coca-Cola, às litradas. A gente olha para o lado e ela incha.

A criancinha quer camisola adidas e ténis nike. A gente dá porque a criancinha tem tanto direito como os colegas da escola e é perigoso ser diferente.

A criancinha quer ficar a ver televisão até tarde. A gente senta-a ao nosso lado no sofá e passa-lhe o comando.

A criancinha desata num berreiro no restaurante. A gente faz de conta e o berreiro continua.

Entretanto, a criancinha cresce. Faz-se projecto de homem ou mulher.

Desperta.

É então que a criancinha, já mais crescida, começa a pedir mesada, semanada, diária. E gasta metade do orçamento familiar em saídas, roupa da moda, jantares e bares.

A criancinha já estuda. Às vezes passa de ano, outras nem por isso. Mas não se pode pressioná-la porque ela já tem uma vida stressante, de convívio em convívio e de noitada em noitada.

A criancinha cresce a ver Morangos com Açúcar, cheia de pinta e tal, e torna-se mais exigente com os papás. Agora, já não lhe basta que eles estejam por perto. Convém que se comecem a chegar à frente na mota, no popó e numas férias à maneira.

A criancinha, entregue aos seus desejos e sem referências, inicia o processo de independência meramente informal. A rebeldia é de trazer por casa. Responde torto aos papás, põe a avó em sentido, suja e não lava, come e não limpa, desarruma e não arruma, as tarefas domésticas são «uma seca».

Um dia, na escola, o professor dá-lhe um berro, tenta em cinco minutos pôr nos eixos a criancinha que os papás abandonaram à sua sorte, mimo e umbiguismo. A criancinha, já crescidinha, fica traumatizada. Sente-se vítima de violência verbal e etc. e tal.

Em casa, faz queixinhas, lamenta-se, chora. Os papás, arrepiados com a violência sobre as criancinhas de que a televisão fala e na dúvida entre a conta de um eventual psiquiatra e o derreter do ordenado em folias de hipermercado, correm para a escola e espetam duas bofetadas bem dadas no professor «que não tem nada que se armar em paizinho, pois quem sabe do meu filho sou eu».

A criancinha cresce. Cresce e cresce. Aos 30 anos, ainda será criancinha, continuará a viver na casa dos papás, a levar a gorda fatia do salário deles. Provavelmente, não terá um emprego. «Mas ao menos não anda para aí a fazer porcarias».

Não é este um fiel retrato da realidade dos bairros sociais, das escolas em zonas problemáticas, das famílias no fio da navalha?

Pois não, bem sei. Estou apenas a antecipar-me. Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo. E então teremos muitos congressos e debates para nos entretermos.

Miguel Carvalho



A corrente tradicional da lírica camoniana



A cantiga


Verdes são os campos,
Da cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.



Luís de Camões


Esta composição poética é uma cantiga em redondilha menor (cinco sílabas métricas), com um mote de quatro versos e duas voltas de oito, segundo o esquema rimático ABCB DEEDDBFB, sendo de notar que a rima dos três últimos versos da segunda volta é igual à dos três últimos versos do mote.


Mote - Pensamento, do autor ou alheio, que irá depois ser desenvolvido nas glosas ou voltas e a partir do qual se compõe um novo poema.


Glosa ou volta - Estrofe que retoma, desenvolvendo-o, o sentido de um dado tema ou mote, do qual repete um ou mais versos em posição certa.


O sujeito poético elogia os olhos verdes da sua amada, cuja cor e beleza compara com o encanto e a verdura do campo em que o gado se apascenta.

Podemos considerar, nas duas voltas, três momentos, que correspondem às três apóstrofes dirigidas ao “campo” (versos 5 e 6), às “ovelhas” (versos 7-12) e ao “gado” (versos 13-20). A verdura dos campos e das ervas é como que uma projecção da cor dos olhos da amada (“meu coração”), justificando-se assim que o sujeito poético evoque as ovelhas e o gado como beneficiários de um bem só comparável às suas “lembranças” e “às graças” (encantos) da sua amada. Mais do que verdes, os olhos da amada são a própria verdura, a origem da verdura. A verdura dos campos e das ervas que o gado pasce é uma “graça” dos seus olhos, provém da sua verdura essencial.

Assim, os elementos naturais – campo, verdura, pasto, ervas – estão para as ovelhas e para o gado como as recordações da pessoa amada para o sujeito poético. Ambos funcionam como “alimento”, em sentido próprio – no caso dos animais – e simbólico – no caso do “eu” lírico.




A Mena na cozinha

Tapioca tropical

90 g de tapioca

4 dl de leite de coco

pau de canela (facultativo)

casca de laranja ou de limão (facultativo)

sal

6 colheres de açúcar

4 dl de água

2 gemas

canela em pó


Ponha a tapioca de molho num tacho com a água e aguarde até a tapioca inchar (cerca de 15 m).

Coloque o leite de coco com a casca de limão e o pau de canela ao lume até ferver (se quiser que a tapioca fique com um gosto e perfume mais acentuado a coco, não adicione pau de canela nem casca de limão).

Bata as gemas e acrescente-lhe um pouco de leite de coco, mexendo bem para não cozer as gemas.

Leve a tapioca ao lume, tempere com um pouco de sal e vá deitando o leite restante. Deixe ferver, mexendo sempre. Junte o açúcar, mexa bem e quando estiver de novo a ferver, retire do lume. Adicione o preparado das gemas a pouco e pouco à tapioca, mexendo bem. Leve ao lume e quando levantar fervura, retire e deite em taças. Enfeite com canela em pó.

Delicie-se!



Trabalhinhos:


Porta-chaves

A agenda da Beatriz

4 comentários:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Gostei da cheirinho da exposição.

Quanto ao texto relata, infelizmente, a realidade de muitas das nossas crianças.
Culpa dos PAIS!

Hoje não me servi da sobremesa,pois não gosto de tapioca.

Bjs e bom fim de semana.

Lisa

artes_romao disse...

boa noite, td bem?
hummm, uma exposição fantástica;)
e quanto ás criancinhas subscrevo na integra...
apesar de ser ainda nova...está tudo completamente diferente daquilo que foi a minha infância e adolescência...
é uma triseza...pois não sei onde isto vai parar...mas não vai ser bom não.
bom fdsemana, fica bem.
jinhos***

~*Rebeca*~ disse...

Mena,

Educar é tão complicado, né? Mas se for com amor, sem excessos nos quereres, tudo fica bem.

Beijo imenso, menina linda.

Rebeca

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Sofia disse...

Agora já descobri onde vais buscar os colares lindos que usa.
Parabéns pelo blog e até uma quinta-feira destas :)
bjs,
Sofia