Uma amiga minha enviou-me este artigo por email e eu, que contava apenas publicar algo amanhã, não pude deixar de vos dar a conhecer isto, hoje. É assustador (escreveu a minha amiga), e ela tem razão, porque é realmente assustador que, num país dito democrático, as pessoas não possam expressar-se livremente. É grave, muito grave!
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=161455
O Jornal de Notícias não publica hoje (01/02/10) a habitual crónica de Mário Crespo. O texto de opinião aborda um encontro, onde Crespo foi referido por membros do Governo como um «problema» que tinha de ter «solução».
O Fim da Linha
O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.
Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.
Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.
Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos.
Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados.
Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.
Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009.
O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu.
O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”.
O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”.
Foi-se o “problema” que era o Director do Público.
Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro-ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
Mário Crespo
Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado hoje (1/2/2010) na imprensa.
Trabalhito:
Leve água temperada com sal ao lume. Junte um raminho de alecrim, azeite e o caldo para arroz. Quando estiver a água a ferver, retire o ramo de alecrim e junte o arroz necessário para a água que colocou no tacho. Deixe cozinhar.
Sirva com bifes, pastéis, peixe frito...
Bom apetite!
3 comentários:
Olá Mena
Sempre disse e continuo a dizer que vivemos numa ditadura encoberta.
São lobos com pele de cordeiro!
Bjs.
gostei muito destas propostas tb para o dia dos namorados.
bjokas
A liberdade de expressão tem que ser para todos. Nada podado vale a pena...
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
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