O capitalismo pode destruir-se, diz Roubini
No início do século, Nouriel Roubini recebeu a alcunha de Dr. Doom, devido às previsões catastróficas que fazia para a economia mundial. A crise no imobiliário confirmou-se, tal como Roubini tinha alertado e o economista turco de origem judaica e naturalizado norte-americano passou a ser considerado como uma das vozes a ser ouvida. Agora, em entrevista ao Wall Street Journal, Roubini afirma que os mercados não estão a fazer nada, não estão a ajudar a crise. Os riscos deixaram-nos nervosos e as empresas acabam por não contratar pessoas, porque dizem que não há tanta procura, mas chegámos a um paradoxo. Se não se contratam trabalhadores, não há verbas dos salários, não há confiança dos consumidores e não há consumo, logo não há a tal procura. O economista explica ainda que nos últimos dois ou três anos estivemos ainda pior, porque tivemos uma redistribuição de rendimentos do trabalho para o capital, dos salários para os lucros e os desequilíbrios entre rendimentos e riqueza aumentaram. Karl Marx estava certo, em algum ponto, o capitalismo pode destruir-se a si próprio, porque não se pode continuar a transferir rendimentos dos salários para os lucros sem ter menor capacidade de trabalho e uma menor procura. Ainda assim, Roubini não considera que a economia dos Estados Unidos esteja perto desse ponto, apesar de todo o risco que enfrenta. Mas não deixa de referir que as possibilidades de EUA, Europa e Japão entrarem numa segunda recessão conjunta são de 50%, o que pode colocar parte do sistema financeiro em insolvência. Ontem, o multimilionário norte-americano Warren Buffett escreveu um artigo de opinião no New York Times, em que enviou um recado a Barack Obama. Buffett entende que a partilha de sacrifícios pedidos à população é injusta para as classes mais pobres e não se dá ao trabalho de medir palavras: Parem de mimar os super-ricos, defende. Para revelar que a austeridade o tem mimado: Verifiquei junto dos meus amigos milionários para saber que sacrifícios lhes foram pedidos, mas também eles ficaram intactos. No último ano, a minha conta fiscal foi de 6 938 744 dólares, apenas 17,4% dos meus rendimentos tributáveis, o que é uma percentagem menor do que a que foi paga pelas outras 20 pessoas do meu escritório. As suas taxas de impostos estavam entre 33% e 41%, explica.
Filipe Morais
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