sábado, 8 de dezembro de 2012

O POVO VIVEU ACIMA DAS SUAS POSSIBILIDADES?




Não me fecundem... porque f-----s andamos nós!

Zé do Tijolo resolveu fazer uma vivenda. Com as poupanças de uma vida de trabalho e uns dinheiritos que recebeu da herança dos seus sogros satisfez o sonho compartilhado com a mulher.
Pagou 23 % de IVA sobre os materiais, pagou as certidões das Finanças e da Conservatória, pagou o Imposto de Transacções, pagou o imposto de selo, pagou a Escritura e respectivo registo, pagou a ligação da água e da electricidade, pagou à Câmara as licenças, etc. etc. etc.
Apesar de ter perdido tanto tempo para pagar todos estes impostos ao Estado e de ter de pagar ainda durante toda a vida uma renda chamada IMI, ficou de sorriso rasgado ao olhar para a sua bela casinha. O seu esforço, os muitos sacrifícios e privações tinham valido a pena: tinha um tecto a que podia chamar seu...
Qual não é o seu espanto quando ouve um comentador de economia na TV, sujeito engravatado e bem falante, dizer o seguinte:
- o país está nesta grave crise porque os portugueses gastaram demais , construíram demasiadas moradias, por isso os sacrifícios impostos pela Troika , blá, blá, blá...
Zé do Tijolo sentiu-se um Zé do Calhau! Sempre tinha pensado que tinha feito a sua casinha com o seu próprio dinheiro e nem um tostão tinha pedido ao Estado! Era tão idiota, tão imbecil que chegara mesmo a pensar, dada a enorme panóplia de impostos que tinha liquidado ao Estado, que esse mesmo Estado devia estar agradecido pela sua contribuição.
Este importante catedrático de economia veio-lhe abrir os olhos. Afinal, o dinheiro que tinha penosamente poupado ao longo da vida não era seu... nem o dinheiro da herançazita... porque se fosse realmente seu como poderia ser responsável pela crise do país? Zé do Tijolo sentiu uma enorme vergonha e remorso por ter feito o imóvel e ter dado trabalho e dinheiro a ganhar a tantas artes, provocando, segundo a tal sumidade catedrática, a bancarrota do seu país adorado.
O sorriso rasgado do Zé do Tijolo transformou-se num esgar: era ladrão... tinha roubado a pátria lusa e vivido acima das suas possibilidades...!?!?
O Manel Fangio vestiu-se com primor. Pegou no filho de 18 meses ao colo e acompanhado da mulher dirigiu-se ao Stand no centro da cidade. Ia ansioso e não via a hora de sentar o seu fiofó naquele sonhado Renault Clio prateado. Deu um longo suspiro de satisfação. Não mais teria que conduzir a velha e ruidosa motorizada, com a proa empinada pelo peso dos nadegueiros roliços da companheira grávida, obrigando-o a um equilibrismo de artista circense. O pior era o Inverno, chuva e gelo , quando tinha de levar e trazer o rebento do infantário. Cortava-lhe o coração sujeitar o filho a tais condições e tremia de medo só de imaginar um acidente, que andava sempre à espreita. Águas passadas: agora tinha um popó que poderia chamar seu. Bem, não era mesmo seu porque pedira emprestado ao banco uma parte do dinheiro e só após 48 prestações mensais poderia ficar registado como sua propriedade.
Manel Fangio assinou ansioso os documentos: o ISV, o IVA, o IUC, o seguro e o registo provisório...
Agora era rodar a chave, parar na estação de serviço e abastecer de combustível. Ufa! Achou caro: o funcionário argumentou que sobre o preço do litro incidia um imposto para o Estado de 58 %, repartido pelo ISP e IVA.
Bem... não havia nada a fazer: era pagar e "não bufar" porque se bufasse estava sujeito a acelerar a evaporação do precioso líquido. Apanhou a SCUT e escutou nos pórticos um piar. Não, não era o chilrear de uma ave a repousar do voo. Era a electrónica a zelar pelo erário público...
Enfim, chegou a casa. Ligou a "caixa que mudou o mundo" e escuta o perorar papagueado de um anafado comentador político, que dizia:
- o país está na bancarrota porque o povo viveu acima das suas possibilidades reais , compraram-se muitas viaturas , agora é preciso pagar a factura e aceitar a austeridade , blá , blá , blá...
Manel Fangio escorregou do sofá. Tinha, de facto, pedido dinheiro ao banco para pagar o automóvel, tinha pagado do seu bolso todos os impostos inerentes ao Estado, nunca lhe passou pela "cachimónia", nem se lembrava, de ter pedido dinheiro ao dito Estado para comprar o veículo!!! Como poderia ser responsável pela crise do país?
Bem... este lustroso político, licenciado em economia ainda muito jovem, com apenas 37 anos, possuidor de uma retórica invejável não podia estar enganado... era um doutor...
O sorriso de satisfação do Manel Fangio murchou: era um corrécio... tinha esbulhado a ditosa pátria muito amada,  levando com o seu escandaloso dislate rodoviário o país à ruptura financeira...
Os pecados implicam penitências. Manel Fangio e sua família, incluindo o rebento e o que estava para rebentar, teriam que pagar durante décadas e com "língua de palmo" pelo crime da exuberância de ter passado da motorizada para o Clio.
como sou burro...
como sou jumento...
como sou asno...
como sou solípede...
como sou cavalgadura...
como sou asinino..
como sou jegue...
como sou azémola...
como sou alimária...
como sou tudo isso e muito mais...
e com a jeriquisse crónica de que sou feliz portador ou contemplado, pergunto:
O Zé do Tijolo e o Manel Fangio pediram algum dinheiro ao Estado?
Viveram acima das suas possibilidades ou viveram com as suas possibilidades?
Como podem ser criticados ou responsabilizados pelos medias ( apetecia-me dizer merdas...) pela crise que o país atravessa?
O dinheiro não era deles? E não podiam fazer com o seu dinheiro o que muito bem desejassem?
Não pagaram, para além disso, uma imensidade de impostos?
Em resumo: quando vejo os economistas residentes e afins a justificar a austeridade com o argumento de que o povo foi despesista (para branquear a corrupção endémica dos políticos)
Apetece-me mandá-los apanhar no subilatório... e só não mando porque não quero matar alguns com mimos...
Pensem nisto e deixem de me fecundar... porque fodidos andamos nós...!

 El Jerico assanhado

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1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Jé estamos bem fecundados. E no próximo ano, seremos fecundadíssimos...
Rita, minha querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.