A Luavezinha
( primeira estória para a Rita )
Minha filha tem um adormecer custoso. Ninguém sabe os medos que o sono acorda nela. Cada noite sou chamado a pai e invento-lhe um embalo. Desse encargo me saio sempre mal. Já vou pontuando fim na história quando ela me pede mais:
- E depois?
O que Rita quer é que o mundo inteiro seja adormecido. E ela sempre argumenta um sonho de encontro ao sono: quer ser lua. A menina quer luarejar e, os dois, faz contarmo-nos assim, eu terra, ela lua. As tradições moçambicanas ainda lhe aumentam o namoro lunar. A menina ouve, em plena verdade da rua: "olha os cornos da lua estão para baixo: vai cair a chuva que a lua guarda na barriga".
Me deu um destes dias, a ideia de lhe contar uma estorinha para fazer pousar o sonho dela. E desencorajar seus infindáveis "e depois". Lhe inventei a estória que agora vos conto.
Era uma avezita que sonhava em seu poleirinho. Olhava o luar e fazia subir fantasias pelo céu. Seu sonho se imensidava:
- Hei-de pousar lá, na lua.
Os outros lhe chamavam à térrea realidade. Mas o passarinho devaneava, insistonto: vou subir lá, mais acima que os firmamentos. Seus colegas de galho se riram: aquilo não passava de menineira. Todos sabiam: não havia voo que bastasse para vencer aquela distância. Mas o passarinho sonhador não se compadecia. Ele queria luarar-se. Pelo que o tudo ficava nada.
Certa noite, de lua inteira, ele se lançou nos céus, cheio de sonho. E voou, voou, voou. Perdeu conta do tempo. Em certo momento ele não sabia se subia, se tombava. Seus sentidos se enrolaram uns nos outros. Desmaiou? Ou sonhou que sonhava? Certo é que seu corpo foi sacudido pelo embate de um outro corpo.
E pousou naquela terra da lua, imensa savana pétrea. A ave contemplou aquela extensão de luz e ficou esperando a noite para adormecer. Mas noite nenhuma chegou.
Na lua não fazia dia nem noite. É sempre luz. E o pássaro cansado da sua vigília quis voltar à terra. Bateu as asas mas não viu seu corpo se suspender. As asas se tinham convertido em luar. Com o bico desalisou as penas. Mas penas já nem eram: agora simples reflexos, rebrilhos de um sol coado. O pássaro lançou seu grito, esses que deflagrava antes de se erguer nos céus. Mas sua voz ficou na intenção. A ave estava emudecida. Porque na lua o céu é quase pouco. E sem céu não existe canto.
Triste, ela chorou. Mas as lágrimas não escorreram. Ficaram pedrinhas na berma da pálpebra, cristais de prata. A avezita estava cativa da lua, aprisionada em seu próprio sonho. Foi então que ela escutou uma voz feita de ecos. Era a própria carne da lua falando:
- Eu sonhei que tu vinhas cantar-me.
- E porquê me sonhaste?
- Porque aqui não há voz vivente.
- Eu também sonhei que haveria de pousar em ti.
- Eu sei. Agora vais cantar em luar. Eu sonhei assim e nenhum sonho é mais forte que o meu.
É assim que ainda hoje se vê, lá na prata da lua, a pupila estrelinhada do passarinho sonhador. E nenhuma criatura, a não ser a noite, escuta o canto da avezinha enluarada. Sobre as primeiras folhas da madrugada, tombam gotas de cacimbo. São lagriminhas do pássaro que sonhou pousar na lua.
- E depois, pai?
Mia Couto, "A luavezinha", in Contos do Nascer da Terra
Mia Couto, escritor moçambicano, é considerado um dos expoentes da literatura africana de expressão portuguesa.
1955 – Nasce na cidade da Beira.
1971 – Inicia os estudos de medicina na Universidade de Lourenço Marques.
1974 – Interrompe os seus estudos para trabalhar como jornalista, n’ A Tribuna, juntamente com Rui Knopfli. Torna-se director da Agência de Informação de Moçambique.
1983 – Publica o seu primeiro livro, Raiz de Orvalho, que consiste numa espécie de contestação contra o domínio absoluto da poesia militante e panfletária.
1985 – Forma-se em Biologia na Universidade Eduardo Mondlane.
1986 – Publica Vozes Anoitecidas, livro de contos que foi premiado pela Associação de Escritores de Moçambique.
1988 – Publica Cronicando, livro de crónicas.
1990 – Publica Cada Homem é uma Raça.
1992 – Publica Terra Sonâmbula, o seu primeiro romance.
1994 – Publica Estórias Abensonhadas.
1996 – Publica A Varanda do Frangipani.
1997 – Publica Contos do Nascer da Terra.
1999 – Publica Vinte e Zinco. Recebe o Prémio Vergílio Ferreira.
2001 – Recebe o Prémio Literário Mário António pela sua obra O Último Voo do Flamingo.
2002 – Publica Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra.
Mia Couto é um excelente contador de histórias. As suas histórias cheias de belas imagens lembram-nos mundos fantásticos – o mundo dos sonhos, pacífico e terno.
A sua linguagem é extraordinariamente rica. Os muitos neologismos, palavras inventadas, adivinham a secreta natureza daquilo que nos pretende transmitir. Por exemplo, a palavra abensonhadas, que adjectiva as histórias, surge do cruzamento entre as palavras abençoadas e sonhadas; insistonto, de insistente e tonto… E, nós entendemos e aceitamos estes neologismos como bênçãos, são palavras abençoadas, porque sentimos que é isso mesmo, que nenhum outro vocábulo poderia ser utilizado em seu lugar, pois não teria o mesmo significado. Mia Couto cria um mundo vivo de histórias, com palavras, também elas, vivas e pulsantes.
Formação de palavras (continuação)
B – COMPOSIÇÃO
A composição é um processo de formação de palavras através do qual novas palavras com
1. Justaposição.
A justaposição ocorre quando duas ou mais palavras se unem sem que ocorra alteração das suas
2. Aglutinação.
A composição por aglutinação ocorre quando duas ou mais palavras se unem para formar uma nova palavra, ocorrendo alteração na forma ou na acentuação. Ex.: fidalgo (filho + de +algo), aguardente (água + ardente).
Peru com aguardente
1 cebola
2 dentes de alho
pimentos (laranja e amarelo)
1 malagueta grande
azeite
sal
pimenta
1 cálice de aguardente
1 copo de água
Deite o peru numa cama preparada com metade da cebola cortada às meias-luas, dos pimentos às tiras, da malagueta e dos alhos. Por cima, ponha o resto da cebola, dos pimentos, dos alhos e da malagueta e regue com o azeite, a aguardente misturada com a água. Salpique com sal e pimenta e leve ao forno a 180º.
Sirva com salada, arroz branco da avó ou puré de batata com curgete.
Bom apetite!
Trabalhinho:
8 comentários:
Olá Mena
Mia Couto, um escritor que muito me agrada.
Tb gosto imenso dos seus poemas.
Hoje aproveitei e almocei.
Uma delícia!
Bjs.
Olá
É sempre bom visitar seu espaço.
Mas hoje vim pedir uma ajudinha...
O seu clique solidário não custará nada.
Digam aos seus amigos ainda hoje!
O Instituto Neo Mama de Prevenção e Combate ao Câncer de Mama em conjunto com a Equipe do Site do Câncer de Mama gerenciam uma campanha que necessita de cliques para alcançar quotas que lhes permitam oferecer mamografias gratuitas a mulheres brasileiras necessitadas.
Demora menos de 5 segundos, mas fará uma grande diferença acessar o site e clicar no botão cor de rosa que diz:
"Campanha da Mamografia Digital Gratuita
Acesse: http://www.cancerdemama.com.br
Não demora e não custa nada, ajudem a detectar precocemente o câncer de mama. Ele tem cura!
Obrigada
Beijinho
Lua Reis
boa noiite,td bem?
adorei este post de Mia Couto...
falamos várias vezes nos seus livros tal como o de 1988 e 1994...em CLC.
e com o teu post fiquei a conhecer este escritor mais premonizadamente,lol...
as agendas também estão muito giras,parabéns.
fica bem,jinhos***
ahh e muito obrigada pela resposta ao alisador de cabelo! eu tenho uma escova dessa de alisar, e para o meu rebelde cabelo nao dá. Eu gosto dele mesmo mesmo lisinho, tipo asiática, sabes?!
e lindas agendas! adorei!!!
bjokas :)
Como é linda a inocência de uma criança...
Beijo imenso, Mena linda.
Rebeca
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Hummmm quando eu for a Portugal quero comer no "Restaurante da Mena" rsrsrsr
Olá Mena
que ausente eu tenho estado e vou ser sincera por mais que gostasse não consigo ter tempo de ler post anteriores... mas vou tentar vir o mais que puder para me actualizar e me deliciar com algumas das suas receitas
jokas
Olá querida,
Passei para deixar-te um bom dia.
Tudo está muito bom por aqui.
Bjss
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