terça-feira, 24 de maio de 2011

Os Maias - Pedro da Maia

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Pedro da Maia

Lendo com atenção o retrato de Pedro (pág. 20), verificamos que se trata de um retrato pormenorizado, à maneira naturalista, em que ressaltam os elementos psicossomáticos (pequenino e nervoso, abúlico, passivo, instável), a hereditariedade (mais ligado aos Runas do que aos Maias), o meio ou ambiente, primeiro de religiosidade piegas e depois de “romantismo torpe”.

Segundo a lógica do Naturalismo, tal constituição, tal educação e tal ambiente levariam seguramente a um casamento de “amor à primeira vista”, falhado, e ao suicídio.

Personagem que reflecte uma grande instabilidade emocional, fruto da hereditariedade e que a educação não corrigiu. Alia a valentia física à cobardia moral, facto confirmado com a reacção do suicídio face à fuga da mulher.

Hereditariamente, o retrato de Pedro da Maia assemelha-se ao ramo familiar dos Runas.

"Somente Afonso sentia que sua mulher não era feliz. Pensativa e triste, tossia sempre pelas salas. À noite sentava-se ao fogão, suspirava e ficava calada... Pobre senhora! A nostalgia do País, da parentela, das igrejas, ia-a minando. Verdadeira lisboeta, pequenina e trigueira, sem se queixar e sorrindo palidamente, tinha vivido desde que chegara num ódio surdo àquela terra de hereges e ao seu idioma bárbaro: sempre arrepiada, abafada em peles, olhando com pavor os céus fuscos ou a neve nas árvores, o seu coração não estivera nunca ali, mas longe, em Lisboa, nos adros, nos bairros batidos do sol. A sua devoção (a devoção dos Runas!) sempre grande, exaltara-se, exacerbara-se àquela hostilidade ambiente que ela sentia em redor contra os «papistas». E só se satisfazia à noite, indo refugiar-se no sótão com as criadas portuguesas, para rezar o terço agachada numa esteira — gozando ali, nesse murmúrio de ave-marias em país protestante, o encanto de uma conjuração católica!"

Os Maias, capítulo I

Pedro da Maia é o melhor exemplo da caracterização imposta pelo romance experimental naturalista que assenta na tese de que o ser humano é o produto dos factores naturalistas que o condicionam. Assim, é a hereditariedade, o meio em que vive e a sua educação que justificam as suas opções de vida: um casamento instável e falhado e, por fim, o suicídio.

Hereditariedade

Repara nas expressões que caracterizam Pedro da Maia, associadas aos recursos expressivos que acentuam a sua debilidade física e moral:

" (...) todo o seu ser resolvia-se a espaços em crises de melancolia negra (...) " - Adjectivo que sublinha o carácter negativo das suas crises de melancolia.

“ (...) tendo pouco da raça, da força dos Maias (...)" - Quantificador que sugere o afastamento do ramo familiar dos Maias.

“ (...) dois olhos maravilhosos e irresistíveis (...) " - Dupla adjectivação que remete para a subjectividade do seu olhar.

" (...) dois olhos (...) prontos sempre a humedecer-se, faziam-no assemelhar a um belo árabe." - Comparação que sugere a tristeza de Pedro.

“ (...) sem curiosidades (...) " - Preposição que designa a sua abulia (falta de vontade).

“ (...) mudo, murcho, amarelo (...) " - Tripla adjectivação que acentua a sua fragilidade e debilidade física e mental.

Meio

O meio é outro dos factores que justificam, à luz da tese naturalista, o fim trágico de Pedro da Maia.

Ambiente beato

Ambiente boémio

a passos de monge

luto pesado

lia Vidas de Santos

bruscos abatimentos de alma que outrora levavam os fracos aos mosteiros

pateadas em S. Carlos

vida dissipada e turbulenta

esperas de cavalos esfalfados

lupanares e botequins

estroinice banal

Educação

Conhecer a educação "à portuguesa", católica e tradicional que Maria Eduarda de Runa escolheu para o seu filho é fundamental para compreendermos o percurso biográfico e amoroso de Pedro:

“ (...) sobretudo a cartilha (...) " – Primado da cartilha.

“ (...) — Quantos são os inimigos da alma?

E o pequeno, mais dormente, lá ia murmurando:

— Três. Mundo, Diabo e Carne... (...) " - Valorização da moral do catecismo e da devoção religiosa com a concepção punitiva do pecado.

"O Vasques ensinava-lhe as declinações latinas (...) " - Estudo do Latim, considerada uma língua morta.

“ (...) tinha medo do vento e das árvores (...)" - Desvalorização do contacto com a Natureza.

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