terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cesário Verde - O carácter sensorial


Lavo, refresco, limpo os meus sentidos.
E tangem-me, excitados, sacudidos,

O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto!


Cristalizações


Inerente à dimensão pictórica, impressionista, da poesia da Cesário Verde, está, evidentemente, o seu carácter sensorial que resulta das sensações que a realidade exterior suscita no sujeito poético, são veiculadas através dos vários sentidos:
  • os cheiros
Um cheiro salutar e honesto ao pão no forno.

O Sentimento dum Ocidental

  • a luminosidade
A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos;

Alastram em lençol os seus reflexos brancos;

(...)


Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes

Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;

O Sentimento dum Ocidental

Uma iluminação a azeite de purgueira,
De noite, amarelava os prédios macilentos.


Nós

  • a cor
E abre-se-lhe o algodão azul da meia,
(...) E pendurando os seus bracinhos brancos

Num Bairro Moderno

A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.


De Tarde

  • os ruídos
Entretanto, não há maior prazer
Do que, na placidez das duas horas,

Ouvir e ver, entre o chiar das noras,

No largo tanque as bicas a correr.


Nós

Um parafuso cai nas lajes, às escuras

O Sentimento dum Ocidental

E o ferro e a pedra - que união sonora! -
Retinem alto pelo espaço fora,

Com choques rijos, ásperos, cantantes.


Cristalizações

2 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Admiro o teu saber.
Até fico com receio da leitura que fazes dos meus modestos poemas...
Querida amiga Mena, tem uma boa semana.
Beijos.

Rita disse...

Olá N., só faço boas leituras dos teus belos poemas!

Bj