segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Modernismo - Movimento "Orpheu"


Movimento "Orpheu" (primeiro Modernismo)

Fernando Pessoa, educado na África do Sul sob influência da cultura inglesa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Santa-Rita Pintor, que beberam em Paris as últimas novidades literárias e plásticas do Futurismo e de outras correntes modernas, por alturas da Primeira Grande Guerra (1914 - 1918), lançaram em Portugal o movimento modernista. António Botto e Luís de Montalvor são também nomes de vulto do primeiro Modernismo.

O grande motor de arranque do movimento foi a revista Orpheu, de que saíram dois números apenas (1915). Outras revistas se lhe seguiram, divulgadoras da mesma mensagem artística: Centauro (1 número), Portugal Futurista (1 número), Contemporânea (13 números - 1922-33) e Athena (5 números - 1924-25).

Os homens deste movimento modernista escandalizaram e assustaram os intelectuais e a sociedade "bem pensante" da época, tal a sua inclinação para o desprezo do bom senso, com tendências que evolucionavam do sentir sebastianista mais delirante até às ciências ocultas e à astrologia.

O que estes homens queriam em primeiro lugar, era escandalizar. Os dois números do Orpheu surgiram mesmo "para irritar o burguês, para escandalizar, e alcançaram o fim proposto, tornaram-se alvo das troças dos jornais". Era assim que se procedia à maior reviravolta da literatura portuguesa.

Pessoa e os seus amigos sentiam-se entediados pelos seus contemporâneos. O repúdio do espírito da Renascença Portuguesa, em que pontificava Teixeira de Pascoais, foi o primeiro efeito desse tédio.

"Nós não somos, diz Almada Negreiros, do século de inventar as palavras. As palavras já foram inventadas. Nós somos do século de inventar outra vez as palavras que já foram inventadas". Eugénio Lisboa, comentando as palavras de Almada, acrescenta: "Não só as palavras: havia que reinventar a visão do mundo, os valores, as metáforas, a sintaxe, a mitologia em vigor, a estrutura dos poemas, toda uma metodologia mais sofisticada do conhecimento".

As tendências do primeiro Orpheu evolucionaram do Decadentismo-Simbolismo até ao Modernismo sensacionista de Álvaro de Campos.

O Futurismo e o Sensacionismo devem-se, em Portugal, aos homens mais influentes do movimento Orpheu: Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro.

O Futurismo, lançado na Europa sobretudo pelo poeta italiano Marinetti, é representado em Portugal pelos seguintes textos e autores: "Ode Triunfal" (1914) e "Ultimatum" (1917) de Álvaro de Campos; "Manucure" e "Apoteose" (1915) de Sá-Carneiro; "A Cena do Ódio" (1915), "Manifesto Anti-Dantas" (1916) e "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Séc. XX" (1917) de Almada Negreiros.

Ao mesmo tempo que se mostravam demolidores dos sistemas ideológicos tradicionais, estes homens impunham também um conceito novo de arte, substituindo o conceito de Belo (imitação harmoniosa da Natureza), herdado da velha "estética aristotélica". Queriam uma estética que espelhasse o mundo progressivo do futuro, uma estética dinâmica e agressiva.

Daí a defesa de uma autêntica liberdade da escrita, com recurso ao verso livre e aos atropelos morfo-sintácticos, às metáforas e imagens arrojadas, um estilo que destrua o EU, isto é, toda a psicologia, na literatura, voltando-se para o mundo da técnica, o estilo da força física, do mecanismo e da própria violência. "Queremos na literatura a vida do motor".



2 comentários:

mfc disse...

Gostei de rever este texto.

Rita disse...

E sempre bom recordar e "rever a matéria" dada!