terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A quem interessa que 2012 seja um ano difícil?

Não houve um único desacordo. Todos os políticos que nos enviaram mensagens de Natal ou de Ano Novo disseram--no. Cavaco Silva disse-o. Passos Coelho disse-o. Angela Merkel disse-o. Sarkozy disse-o. David Cameron disse-o. O quê? Que 2012 vai ser um ano muito difícil.

E, para o caso de ainda não termos percebido, todos os cronistas, comentadores, analistas, convidados de programas de TV, incluindo a Fátima Campos Ferreira em resposta a perguntas de João Baião, repetiram-no: 2012 vai ser um ano muito difícil.

Para os burros, os mesmo muito burros, aqueles que teimam em não compreender ou que recusam aceitar a gravidade da situação, ainda foi servida uma boa dose de notícias, de apontamentos, de dossiers, de filmes e de documentários sobre o fim do mundo, o fim dos tempos ou, na melhor das hipóteses, o fim da civilização tal como a conhecemos, graças à leitura de um calendário Maia cujo significado, para falar verdade, ninguém percebe a sério tal como, aliás, ninguém percebe a sério esta crise.

Se um génio do marketing tivesse como encomenda uma campanha a apelar ao suicídio coletivo, não conseguiria nada potencialmente mais eficaz do que aquilo que na última semana todos pudemos ler, ver e ouvir em todos os jornais, televisões, rádios e locais na Internet onde se debitam notícias e opiniões. Felizmente, quando apanhei os primeiros jornais do Novo Ano, confirmei não ter ocorrido um ataque de histeria generalizado e não estarem as ruas cheias de multidões de corpos sem vida por causa da gente que não quis esperar pelo apocalipse... Quão sensatas são as pessoas, graças a Deus!

O mecanismo que impulsiona esta ideologia da inevitabilidade, do conformismo, da aceitação determinista de um destino fatal, transversal, é uma arma paralisante. Como pode uma sociedade querer melhorar, como pode uma sociedade renovar-se, como pode uma sociedade curar as suas maleitas se, simplesmente, como um doente de cancro terminal vencido pelo cansaço, resigna à luta e aceita o fim que lhe traçam? A quem interessa essa desistência? Quem ganha com essa inércia? Ganha quem não quer mudar o statu quo atual, mesmo se for ele o causador principal da desgraça a que chegámos.

Se eu acho que 2012 vai ser um ano muito difícil? Acho, mas não me lembro de nenhum ano que não tenha sido difícil para quem, assalariado, vive, apenas, do trabalho que o seu esforço, saber, talento e capacidade consegue rentabilizar. Qual é, portanto, a novidade?



PEDRO TADEU

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