domingo, 26 de agosto de 2012

QUEM NOS SALVA DOS PATOS?



               
Caros concidadãos, vivemos tempos difíceis, muito difíceis. E novos problemas exigem novas abordagens. Foi assim que, qual versão feminina de Nostradamus, criei uma Astrologia-de-fusão e concluí que entrámos há alguns anos, sem que disso nos tivéssemos apercebido, na cataclítica Era do Pato.

Tudo começou no momento em que fui iluminada por um jotinha. Todos sabemos que os nativos de Jota são dotados de uma verdadeira presciência que os guia a patamares elevadíssimos numa ascensão cármica, meteórica e olímpica por via do conhecimento ou, melhor, dos muitos conhecimentos que cultivam... Este Jota foi o primeiro a chamar a atenção da Humanidade em geral e dos portugueses em particular, em escritos veiculados pela versão "online" do semanário mais espesso da nossa praça, para a existência algures de dois patos, a saber: o "pato de estabilidade e crescimento" (Expresso, artigo de 04/02/2011) e o "pato de silêncio" (Expresso, artigo de 02/06/2011). Porém, a sagacidade subjacente a estes alertas não foi devidamente valorizada pela sociedade civil. Temi nessa altura que viesse a instalar-se e a generalizar-se o pânico perante a ameaça dos palmípedes, mas não...

Quanto a mim, francamente preocupada, reconheci a pertinência das observações de João Lemos Esteves e recorri aos vastos conhecimentos que tenho das Astrologias ocidentais e orientais para tentar discernir os contornos deste que, se não é sinal do Fim dos Tempos e creio que não será tanto, aponta pelo menos para o Fim da Civilização tal como a entendemos.

Do mesmo modo que as crianças se entretêm a fazer corresponder imagens às formas mutantes das nuvens, assim os antigos traçavam linhas imaginárias entre as estrelas mais brilhantes da esfera celeste e encontravam nessas linhas o desenho de toda a sorte de figuras animais ou humanas, reais ou mitológicas, e mesmo objectos... Segui-lhes – às crianças e aos antigos – as pisadas e, munida de telescópio, lá encontrei os dois aludidos patos nas estrelas, grasnando aos deuses.

Confirmei com estes dois que a terra há-de comer. O "pato de estabilidade e crescimento" (PEC) lá está, esquálido e entalado entre as constelações de Euro e de Dólar. Os nativos de PEC são profundamente crentes e, enquanto mantiverem a crença de que a sua parca fortuna se encontra lá onde a imaginam, sob o signo de Banco, sobreviverão. Muito magros, mas sobreviverão.

Já o "pato de silêncio" foi bem mais difícil de observar pois, tal como o nome indica, faz de tudo para passar despercebido. Caracteriza-se por se aliar a qualquer outra constelação conferindo-lhe uma forma totalmente diferente. Este é um pato contorcionista... Ainda assim, consegui apanhá-lo em flagrante nos céus, por diversas vezes, ora dando a aparência de Aquário à constelação de Combóio, ora dando o aspecto de Virgem à constelação de Eucalipto, ora ainda fazendo tomar por Balança a constelação de Tesoura... Enfim, sempre enganando os astrólogos menos avisados, este "pato de silêncio" vigarista.

Mas foi, precisamente, ao seguir as movimentações do "pato de silêncio" que vim a fazer depois uma descoberta bem mais importante. O "pato de silêncio" não age por iniciativa própria, está às ordens de um grande pato, esse que poderemos designar por Pato-dos-Patos, o "pato de regime" (PR). Esta ave pontifica nas alturas, visto que ocupa uma enorme área da esfera celeste e envolve os outros patinhos todos, estendendo as suas amplas asas desde a constelação de Betão até à constelação de Banco. É com o PR que devemos todos preocupar-nos e perceber que nos encontramos há muito tempo, há demasiado tempo, na desgraçada Era do Pato de Regime.

MADALENA HOMEM CARDOSO

1 comentário:

mfc disse...

Um magnífico texto que merece toda a divulgação!

Beijos,