...porque estas palavras poderiam muito bem ser minhas! Obrigada, Cristina!
Estou indignada com os governantes, conselheiros e “eminências pardas” do meu país (e não é de agora). Estou indignada com algumas expressões do primeiro ministro (“que se lixem”). Estou indignada por muitos portugueses ainda não estarem indignados. Estou indignada com os alunos que continuam em não valorizar a escola, de que dependem, para serem cidadãos respeitados e conscientes. Estou indignada por não respeitarem os professores, auxiliares e seus colegas. Estou indignada por ter alunos que andam na escola há pelo menos nove anos e nem sequer conseguiram aprender como comportar-se numa aula. Estou indignada com o vocabulário que os alunos usam na sala de aula, expressões de calão para disfarçar linguagem asneirenta. Estou indignada com a falência do papel da família e as consequências que tem na vida escolar e na sociedade. Estou indignada por os alunos não considerarem a sua família, desconhecendo muito do que lhes é relativo. Estou indignada por as escolas públicas da minha cidade terem horários Zero enquanto o Colégio, financiado por dinheiro dos contribuintes, está sobrelotado. Os impostos dos professores efectivos da escola pública pagam o seu futuro desemprego. Estou indignada por haver professores da escola pública que matriculam os seus filhos no Colégio, cavando a sua própria sepultura (eles lá sabem). Estou indignada com os cartazes das manifestações, mas aplaudo as manifestações. Gostava que o toque a reunir de mobilização nacional não fosse “Que se lixe a Troika”, por ser calão e por não ser a Troika que devemos culpabilizar. Por estar indignada fui ontem (29 de Setembro) à manifestação e fiquei ainda mais indignada com o que li e ouvi. As palavras de ordem de outros tempos, tão galvanizadoras, tão cheias de significado, tão correctas, deram lugar ao mau gosto, à brejeirice rasca, à asneira gratuita. Uma menina erguia um cartaz que dizia “Coelho se tens c… não concorras às próximas eleições” enquanto a mãe orgulhosa a protegia com um braço por cima dos ombros. Crianças que exibem cartazes obscenos com a conivência dos pais são potenciais fontes de problemas na escola, julgando que podem dizer tudo nas aulas aos seus professores porque os pais até apoiam. Um membro do meu sindicato gritava no megafone frases ridículas como “Há uma linha que nos separa do Coelho e do Gaspar, é a bola de Berlim que nos deixa sem ar”. Felizmente que quem desfilava não repetia. Atrás, ouvia outra palavra de ordem que se referia ao “coelhinho” e outras infantilidades. Cartazes a mandarem os nossos governantes para os mais variados sítios e nenhum recomendável numa manifestação de trabalhadores, de cidadãos eleitores que se querem responsáveis. O único sítio para o qual devem ser mandados é “para a rua”. “Fora com o FMI”, foi outra das palavras de ordem mais ouvidas. Mas, será que quem diz estas frases sabe o seu significado? Fora com quem não pediu para entrar? Fora com quem veio financiar? Fora com quem tem garantido o pagamento do meu salário? Um dos eternos problemas dos portugueses é a culpa, a qual é sempre dos outros e nunca nossa. É sempre da “sociedade”, dos “patrões”, dos “trabalhadores”, do “actual governo”, do “governo anterior”, do “25 de Abril”, do “rei Afonso Henriques”. Desci os Restauradores até ao Terreiro do Paço com vontade de “sair dali” por ouvir tanto disparate de professores que proferiam frases inadmissíveis. Quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito. Depois dos pais e alunos lerem e ouvirem os protestos dos professores na rua, o que é que vão pensar e dizer de nós?! Como é que lhes vamos exigir respeito pela instituição escolar, pelos seus professores quando insultamos gratuitamente e publicamente os nossos governantes?! Se estamos indignados enquanto professores, se estamos desesperados enquanto cidadãos, isso não pode levar a que percamos a nossa dignidade com estes protestos obscenos e ridículos. Quando finalmente cheguei ao Terreiro do Paço já o comício estava no fim. Ainda ouvi o hino da Intersindical, a Internacional e o Hino Nacional. Desde há uns tempos que sinto que as letras destes hinos estão ultrapassadas e que era necessário dar-lhes uma actualização. Os tempos mudaram, é um facto. Porém, ultimamente, mudaram para pior, e, de repente a célebre frase “do trabalho contra o capital” ganhou novamente sentido e, para mim, até um novo sentido. Não por estar contra o capitalismo enquanto sistema económico e político, mas por estar contra o capitalismo financeiro improdutivo e pela desvalorização do factor trabalho, pela diminuição do seu preço. Quando pensávamos que o salário mínimo deveria aumentar para proporcionar melhores condições de vida aos trabalhadores menos qualificados, assistimos a jovens licenciados a ganharem menos que o salário mínimo estabelecido. Estou indignada. Muito indignada com o meu país.
Estou indignada com os governantes, conselheiros e “eminências pardas” do meu país (e não é de agora). Estou indignada com algumas expressões do primeiro ministro (“que se lixem”). Estou indignada por muitos portugueses ainda não estarem indignados. Estou indignada com os alunos que continuam em não valorizar a escola, de que dependem, para serem cidadãos respeitados e conscientes. Estou indignada por não respeitarem os professores, auxiliares e seus colegas. Estou indignada por ter alunos que andam na escola há pelo menos nove anos e nem sequer conseguiram aprender como comportar-se numa aula. Estou indignada com o vocabulário que os alunos usam na sala de aula, expressões de calão para disfarçar linguagem asneirenta. Estou indignada com a falência do papel da família e as consequências que tem na vida escolar e na sociedade. Estou indignada por os alunos não considerarem a sua família, desconhecendo muito do que lhes é relativo. Estou indignada por as escolas públicas da minha cidade terem horários Zero enquanto o Colégio, financiado por dinheiro dos contribuintes, está sobrelotado. Os impostos dos professores efectivos da escola pública pagam o seu futuro desemprego. Estou indignada por haver professores da escola pública que matriculam os seus filhos no Colégio, cavando a sua própria sepultura (eles lá sabem). Estou indignada com os cartazes das manifestações, mas aplaudo as manifestações. Gostava que o toque a reunir de mobilização nacional não fosse “Que se lixe a Troika”, por ser calão e por não ser a Troika que devemos culpabilizar. Por estar indignada fui ontem (29 de Setembro) à manifestação e fiquei ainda mais indignada com o que li e ouvi. As palavras de ordem de outros tempos, tão galvanizadoras, tão cheias de significado, tão correctas, deram lugar ao mau gosto, à brejeirice rasca, à asneira gratuita. Uma menina erguia um cartaz que dizia “Coelho se tens c… não concorras às próximas eleições” enquanto a mãe orgulhosa a protegia com um braço por cima dos ombros. Crianças que exibem cartazes obscenos com a conivência dos pais são potenciais fontes de problemas na escola, julgando que podem dizer tudo nas aulas aos seus professores porque os pais até apoiam. Um membro do meu sindicato gritava no megafone frases ridículas como “Há uma linha que nos separa do Coelho e do Gaspar, é a bola de Berlim que nos deixa sem ar”. Felizmente que quem desfilava não repetia. Atrás, ouvia outra palavra de ordem que se referia ao “coelhinho” e outras infantilidades. Cartazes a mandarem os nossos governantes para os mais variados sítios e nenhum recomendável numa manifestação de trabalhadores, de cidadãos eleitores que se querem responsáveis. O único sítio para o qual devem ser mandados é “para a rua”. “Fora com o FMI”, foi outra das palavras de ordem mais ouvidas. Mas, será que quem diz estas frases sabe o seu significado? Fora com quem não pediu para entrar? Fora com quem veio financiar? Fora com quem tem garantido o pagamento do meu salário? Um dos eternos problemas dos portugueses é a culpa, a qual é sempre dos outros e nunca nossa. É sempre da “sociedade”, dos “patrões”, dos “trabalhadores”, do “actual governo”, do “governo anterior”, do “25 de Abril”, do “rei Afonso Henriques”. Desci os Restauradores até ao Terreiro do Paço com vontade de “sair dali” por ouvir tanto disparate de professores que proferiam frases inadmissíveis. Quem quer ser respeitado tem que se dar ao respeito. Depois dos pais e alunos lerem e ouvirem os protestos dos professores na rua, o que é que vão pensar e dizer de nós?! Como é que lhes vamos exigir respeito pela instituição escolar, pelos seus professores quando insultamos gratuitamente e publicamente os nossos governantes?! Se estamos indignados enquanto professores, se estamos desesperados enquanto cidadãos, isso não pode levar a que percamos a nossa dignidade com estes protestos obscenos e ridículos. Quando finalmente cheguei ao Terreiro do Paço já o comício estava no fim. Ainda ouvi o hino da Intersindical, a Internacional e o Hino Nacional. Desde há uns tempos que sinto que as letras destes hinos estão ultrapassadas e que era necessário dar-lhes uma actualização. Os tempos mudaram, é um facto. Porém, ultimamente, mudaram para pior, e, de repente a célebre frase “do trabalho contra o capital” ganhou novamente sentido e, para mim, até um novo sentido. Não por estar contra o capitalismo enquanto sistema económico e político, mas por estar contra o capitalismo financeiro improdutivo e pela desvalorização do factor trabalho, pela diminuição do seu preço. Quando pensávamos que o salário mínimo deveria aumentar para proporcionar melhores condições de vida aos trabalhadores menos qualificados, assistimos a jovens licenciados a ganharem menos que o salário mínimo estabelecido. Estou indignada. Muito indignada com o meu país.
Cristina
Mendonça de Sousa
1 comentário:
Mas a indignação só passa se tiver maior intensidade que a provocação... e esta é absurdamente elevada.
E há mesmo ladrões no governo.
Beijo, querida amiga.
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