OPACIDADE
TOTAL NAS “PPP” DA EDUCAÇÃO: MILHÕES DE EUROS QUE NÃO SE SABE POR ONDE PARAM!
CONTRARIANDO
OBRIGAÇÃO LEGAL, HÁ 2,5 ANOS QUE O MEC DEIXOU DE PUBLICITAR, EM DIÁRIO DA
REPÚBLICA, O DINHEIRO PAGO AOS COLÉGIOS
As
parcerias público-privadas também existem na Educação. Concretizam-se através
da celebração de contratos de associação com colégios privados que,
alegadamente, dão uma resposta educativa pública.
Muitos
destes colégios não respeitam os requisitos legalmente fixados (situarem-se a
mais de 4 quilómetros de escolas públicas, ou, estando a menor distância, estas
encontrarem-se lotadas). Alguns respeitam os requisitos dos 4 quilómetros mas,
com as suas carrinhas, transportam alunos que vivem próximo da escola pública.
Contudo, o MEC considera-os elegíveis para efeito de financiamento por contrato
de associação. Há colégios financiados através de contrato de associação que se
encontram em zonas em que a resposta das escolas públicas seria suficiente para
abranger todos os alunos. É o caso, por exemplo, de Coimbra. No entanto, ano
após ano, o MEC mantém a atribuição de turmas a estes colégios.
Acresce
que, apesar do financiamento que recebem, estes colégios tratam mal os seus
trabalhadores, desde logo os professores. As histórias são muitas, algumas
merecedoras de castigo exemplar, mas o medo do desemprego não permite que, quem
as vive, as torne públicas. Ouvem-se em privado, geralmente acompanhadas de
frequentes pedidos para que não se conte a ninguém ou, se for contado, não se
revele a fonte.
Os
abusos relativamente aos horários de trabalho, ao trabalho extraordinário
gratuito, à permanente violação de direitos laborais e profissionais, bem como
os processos persecutórios e os despedimentos colectivos são inúmeros. Devido a
queixas e denúncias feitas pelos Sindicatos de Professores da FENPROF, muitos
colégios já foram alvo de processos disciplinares, na sequência de acções inspectivas
desencadeadas pela IGE. Desconhece-se, no entanto, se houve penalizações e
quais foram.
Grande
parte destes colégios abriu na década de 90 por processos pouco claros então
denunciados pelos Sindicatos da FENPROF. Os proprietários, individuais ou
sociedades, são, por norma, gente que teve ligações à administração educativa
e/ou mantém ligações aos partidos que, por norma, alternam no poder.
O
maior grupo de proprietários de colégios privados é o GPS, um operador
empresarial que trata a Educação como produto e actua, sobretudo, na região
centro de Portugal. Entre colégios com contrato de associação, colégios sem
contrato de associação, escolas profissionais e escolas técnicas e
profissionais, este grupo detém 26 estabelecimentos. Destes, 13, em 2009,
celebraram contrato de associação tendo o grupo GPS recebido do Estado, nesse
ano, só com estes colégios, mais de trinta e três milhões de euros, exactamente
33.263.844,16 euros!
Daí
para cá, desconhece-se o valor dos financiamentos. A lei impõe (Lei
26/94, de 19 de Agosto) a obrigatoriedade de publicitação das transferências
dos ministérios, em Diário da República, desde que ultrapassem os 20.730 euros
(3 anualizações do salário mínimo). Só num caso, a transferência aproxima-se dos 10 milhões
de euros... porém, não foram publicitadas as transferências de 2010, 2011 e
primeiro trimestre de 2012!
Nos
termos da lei, até Setembro de cada ano deverão publicitar-se as verbas do
primeiro trimestre, até Março do ano seguinte, as do segundo trimestre do ano
anterior. É, portanto, total a falta de transparência, desconhecendo-se o valor
das transferências para os colégios.
Para
se ter a noção do total de transferências anuais – contratos de associação,
contratos simples, contratos de patrocínio, entre outros tipos de financiamento
– em 2009 foi atingido um valor global de cerca de 500 milhões de euros, de
acordo com o que publicitou o Diário da República. Daí para cá, desconhece-se!
As responsabilidades são de dois governos: o actual e o anterior!
Face
a esta e outras ilegalidades, a FENPROF solicitou reunião ao MEC (que se espera
para breve), apresentará o problema à IGE e levará o caso ao Ministério
Público, para que fique atento à situação e, em caso de dúvida, possa actuar.
Pensamos ser essa uma responsabilidade nossa, enquanto organização responsável
e enquanto cidadãos.
Apenas
alguns exemplos das transferências verificadas em 2009 (valor em euros
do último ano publicitado) numa lista de valores crescentes situados entre os
1.194.274,52 e os 9.769.674,60:
-
Instituo Vasco da Gama* (Ansião) - 1.194.274,52;
Colégio de São Cristóvão* (Caldas
da Rainha) – 1.304.164,81; Colégio
Infante Santo* (Santarém) – 1.890.939,97;
Colégio de Santo André* (Mafra) –
1.981.691,39;
Colégio de São Mamede* (Batalha) – 1.988.877,77;
Colégio de
Quiaios* (Figueira da Foz) – 2.097.047,11;
Colégio Sagrado Coração de Maria
(Fátima) – 2.131.693,41;
Instituo de Almalaguês* (Coimbra) – 2.141.079,06;
Instituto Duarte Lemos (Trofa) – 2.143.075,84;
Instituto Vaz Serra* (Cernache
do Bonjardim) – 2.166.471,65; Colégio
Evaristo Nogueira (Guarda) – 2.202.397,20;
Centro de Estudos de Ançã
(Cantanhede) – 2.247.623,54; Colégio de São Teotónio (Coimbra) – 2.310.692,59;
Instituto de Lordemão (Coimbra) –
2.310.711,35;
Colégio de São Martinho (Coimbra) – 2.410.797,75; Instituto
Pedro Hispano (Soure) – 2.431.417,47; Colégio de Nossa Senhora da Assunção (Anadia) –
2.450.653,52; D. Fuas Roupinho* (Nazaré)
– 2.519.744,58;
Colégio D. Dinis de Melo (Leiria) – 2.568.852,40;
Colégio de
São Gonçalo (Amarante) – 2.654.602,71; Instituto de Souselas (Coimbra) – 2.812.395,53;
Colégio Miramar* (Mafra) – 2.845.454,70;
Colégio Nossa Senhora da Graça (Beja)
– 2.829.851,71;
Colégio João de Barros (Pombal) – 2.970.731,50;
Instituto de
Cernache (Coimbra) – 2.977.650,90;
Colégio Rainha D. Leonor* (Caldas da
Rainha) – 3.008.657,62;
Instituo do Juncal (Porto de Mós) – 3.946.323,62;
Ancorensis (Vila Praia de Âncora) – 3.963.217,23;
Colégio Dr. Luís Pereira da
Costa* (Monte Redondo) – 4.019.859, 17; Colégio de Gaia – 4.286.449,61;
Colégio Nossa
Senhora da Apresentação (Vagos) – 4.683.270,56;
DIDALVI (Barcelos) –
4.695.240,90;
Colégio de São Miguel (Leiria) – 5.025.181,59;
Externato da
Benedita (Alcobaça) – 5.036.863,71;
Externato Delfim Ferreira (Braga) –
5.052.054,73;
Colégio dos Carvalhos – 5.128.416,93;
Externato de Vila Meã
(Amarante) – 5.332.269,80;
Centro de Estudos de Fátima – 5.470320;
ALFACOOP
(Braga) – 5.739.546,89; Instituto
Nun’Álvares (Santo Tirso) – 5.884.430,80;
Colégio de Campos () –
5.892.217,23;
- Colégio D. João V* (Pombal) – 6.105.572,01;
Cooptécnica
Gustave Eiffel (Lisboa) – 6.732.476,51;
Escola Salesiana de Manique (Lisboa) –
6.412.273,54;
Externato João Alberto Faria (Arruda dos Vinhos) – 6.964.022,02;
Externato Vale de São Cosme (Braga) –
7.312.758; Externato
Penafirme (A-dos-Cunhados) – 7.684.639,37;
Dixadis (Braga) – 9.517.045,04;
Colégio Liceal Santa Maria de Lamas (Santa Maria da Feira) – 9.769.674,60.
*Grupo
GPS – 33.263.844,16
euros em 2009, último ano sobre o qual há dados publicitados em Diário da
República, nos termos da Lei 26/94, de 19/08.
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