quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Mensagem - Fernando Pessoa



Sonho, Sebastianismo e Quinto Império

A obra Mensagem foi publicada no dia 1 de Dezembro de 1934 e foi a única obra completa e em português que Fernando Pessoa publicou em vida. É uma espécie de versão moderna de Os Lusíadas, na qual o poeta exprime o seu ideal espiritualista, sebastianista e regenerador da pátria. Em termos mais gerais e filosóficos, é uma obra que valoriza o sonho e a utopia, colocando-os num plano superior ao da própria realidade.

Na verdade, escrita e publicada numa época de profunda crise do mundo ocidental (entre as duas guerras mundiais, ascensão ao poder das ditaduras nazis, fascistas e estalinistas) e de decadência de Portugal (início do salazarismo do Estado Novo), esta obra pretende defender uma perspectiva utópica e por muitos considerada megalómana, segundo a qual, Portugal tem uma missão a cumprir, como cabeça da Europa adormecida. Assim, se Portugal é o rosto da Europa, é Portugal que tem a capacidade de olhar o Ocidente atlântico, o Longe, a Distância. O seu olhar indagador pode ver para além do visível, pode sonhar, e o sonho é a mola do futuro, pois é o sonho que nos projecta para o futuro, para além da nossa realidade.

Nesse sentido, sonhar é mais importante do que realizar o sonho, porque uma vez realizados, os sonhos transformam-se em realidade e, por isso, acabam, pois deixam de ser sonhos. É, então, necessário inventar e alimentar novos sonhos, como faz o navegador Diogo Cão que, no poema "Padrão", depois de deixar a cruz de pedra (o padrão) na terra descoberta, navega para diante, na perseguição de um novo sonho.

Ora, o sonho é feito da mesma matéria imaterial que o mito e a Mensagem afirma, no poema "Ulisses", que "o mito é o nada que é tudo", o sinal e a força que permanece, enquanto a realidade se desvanece. Os mitos serão, pois, a raiz sobre a qual Portugal adormecido e sem luz irá edificar o sonho utópico do futuro. O mito mais importante, símbolo de todos os mitos, será D. Sebastião, o Encoberto, que transferindo para nós a sua loucura de ir mais além, nos conduzirá na travessia no nevoeiro. Portugal, que no passado edificou um império territorial, edificará no futuro um império espiritual - o Quinto Império. E é o poeta que, investido da sua missão visionária, exprime, ao longo da obra, a sua reflexão pessoal sobre a Pátria que, no presente, está mergulhada na noite, é "nevoeiro", e só poderá recuperar a identidade através do sonho utópico do Quinto Império e do exemplo da loucura de Encoberto.

Esta é, enfim, a mensagem da Mensagem - movidos pelo sonho, pela loucura, pela "febre de Além", devemos procurar a utopia do impossível, do infinito, do Longe, da Distância, do Absoluto. Contemplando o horizonte e vendo o invisível, devemos procurar "uma Índia que não há", a "Distância / do mar ou outra, mas que seja nossa".

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