Estava no cabeleireiro e a funcionária que me
atendia, estendeu-me uma revista, é para passar o tempo, disse. A revista tinha
na capa uma actriz que conheci numa apresentação da Samsung Portugal e que para
meu espanto não é nada como a vemos nas revistas nem na televisão... É baixinha
e não é nada bonita, comparada com muitas das comuns mortais que existem por
aí. Comentei o facto com a cabeleireira que anuiu:
- Quando trabalhava em Lisboa, fartei-me de cortar
cabelos a actrizes, modelos, cantoras, apresentadoras de televisão... Tinha até
uma bela colecção de pessoas do mundo do espectáculo que penteava e até lhe
posso dizer que algumas tiveram de me dizer quem eram, pois eu não as
reconheci... E em certos casos, até duvidei que estivessem a dizer a verdade.
Folheei a revista e nas páginas centrais, aparecia
uma actriz praticamente nua em várias poses, mais ou menos, ousadas...
A cabeleireira olhou e disse:
- Hoje, todas se despem e até as menos bonitas, ficam
belíssimas.
- É o poder do Photoshop, estica daqui, encolhe dali,
alisa, encobre... e fica tudo perfeitinho! – disse-lhe rindo e acrescentei –
Mas, a beleza é efémera, há que ter algo mais do que um rosto e corpo
bonitos...
De repente, lembrei-me de um texto que tinha visto na
Net, de uma jornalista brasileira, peguei no ipad, procurei e mostrei-o à
cabeleireira:
Depois da invenção do photoshop, até a mais
insignificante das criaturas vira uma deusa, basta uns retoquezinhos, aqui e
ali. Nunca vi tanta mulher nua.
Os sites da internet renovam semanalmente seu
estoque de gatas vertiginosas.
O que não falta é candidata para tirar a roupa.
Dá uma grana boa.
E o namorado apoia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um
acontecimento, as amigas invejam, então pudor para quê?
Não sei se os homens
estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas. Infelizes não devem
estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm
mais de 14 anos.
Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher
se despir de verdade... Emocionalmente.
Nudez pode ter um significado diferente
e muito mais intenso.
É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas
dores, sua história.
É erótico uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que
fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa
qualquer um maluco sendo inteligente.
Uma mulher que diz o que pensa, o que
sente e o que pretende, sem meias-verdades, sem esconder seus pequenos
defeitos.
Aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna
humanas, e não bonecas de porcelana.
Arrebatador é assistir ao desnudamento de
uma mulher em que sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba
demais.
Pouco tempo atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas,
lembro que se esperava com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina
Sfat, por exemplo.
- para citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar
além do próprio corpo.
Mas agora não há mais charme nem suspense, estamos na
era das mulheres coisificadas, que posam nuas porque consideram um degrau na
carreira. Até é. Na maioria das vezes, rumo à decadência. Escadas servem para
descer também.
Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de
jornal, mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores
verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior.
Mas é o
que devemos continuar fazendo.
Despir nossa alma e mostrar para valer quem
somos, o que trazemos por dentro. Não conheço strip-tease mais sedutor.
- Gostei do texto, e é como disse, hoje, é preciso ter-se realmente mais do que um rosto e um corpo
bonitos… - concordou a cabeleireira, enquanto eu pagava e me despedia.
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