Meu prezado José Horta Manzano, agradeço o email, que transcrevo, e o facto de me ter dado a conhecer o artigo abaixo citado. Publico-o com muito gosto! Ficarei atenta a tudo o que for publicado por vós...
Prezada Blogueira,
Antes de mais nada, quero dizer-lhe que me sinto honrado em ver reproduzido em seu espaço meu artigo ‘O remendo’, publicado pelo Correio Braziliense de 6 de janeiro.
Gostaria de sugerir-lhe transcrever também o artigo do professor Claudio Moreno, colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Seu escrito ― A Reforma adiada: a vitória do bom senso ― vai pelo mesmo caminho preconizado pela prezada blogueira.
Pode encontrá-lo aqui:
Parabéns e boa continuação.
Cordialmente,
José Horta Manzano
A Reforma adiada: a vitória do bom senso
Ao aceitar um grande número de
grafias diferentes entre os vários países lusófonos, os membros da Comissão que
elaborou o novo Acordo Ortográfico deveriam ter voltado para suas casas,
admitindo a impossibilidade dessa utopia unificadora. Infelizmente, numa
constrangedora demonstração de falta de espírito cívico, terminaram por aprovar
uma Reforma que trai o seu objetivo principal.
Um dos fatos mais importantes de
2012 para nós, brasileiros, praticamente passou em branco nas indefectíveis
retrospectivas de final de ano: atendendo ao clamor de vários setores, a
presidente Dilma determinou o adiamento do início da obrigatoriedade da
"nova ortografia", que ocorreria na noite do Ano-Novo, no exato
momento em que, concluída a contagem regressiva da Globo, os fogos de artifício
da baía da Guanabara espocassem em todos os telões e telinhas desta pobre mas
valorosa Pindorama. O decreto presidencial, publicado do Diário Oficial no dia 28
de dezembro, estipula que o uso das novas regras só passará a ser obrigatório
em 2016 — o que significa, prezado leitor, que, até lá, você poderá escolher
entre dois sistemas ortográficos diferentes mas igualmente válidos.
Este providencial (e inesperado)
ataque de bom senso foi, a meu ver, o melhor presente que o bom Pai Noel
poderia nos trazer. O Brasil, que tinha se atirado de ponta-cabeça no abismo
das novas regras (num açodamento, aliás, que surpreendeu e assustou os demais
países lusófonos, bem mais prudentes do que nós), ganha assim tempo para
amadurecer suas decisões, avaliar as tropelias que cometeu em todo esse
processo e mudar o que for possível para minimizar os prejuízos que esta
Reforma nos trouxe. O imbróglio em que estamos metidos é tão grande que acho
indispensável lembrar quem foram os responsáveis — tanto os externos quanto os
internos.
Os responsáveis externos são os
participantes da Comissão que elaborou o Acordo, que não tiveram a honestidade
de abandonar este projeto digno de um Nabucodonosor enlouquecido. Explico
melhor: esta Reforma passou a perder seu prestígio e respeitabilidade no
momento em que os usuários se deram conta de que ela se baseia numa falsa
promessa. Como uma comerciante desonesta, vende o que ela própria não se dispõe
a entregar. Espantado, caro leitor? Mas então me diga: o principal fundamento
apresentado para abandonar o modelo que tínhamos não era a adoção de um sistema
unificado, em que todos os falantes do Português grafariam as palavras de
uma mesma e única forma? Não era este estado quase edênico, do lobo e do
cordeiro vivendo juntos e usando os mesmos acentos e letras, a grande
justificativa para o esforço e o custo exigidos para implantar esta nova
sociedade de igualdade ortográfica? Pois deveria ser, leitor, mas não é — e não
sou eu quem diz, e sim a própria Comissão que redigiu o Acordo, ao aceitar e
oficializar uma série de diferenças entre o modo de escrever deste e do outro
lado do Atlântico, que continuarão intocadas. Aponto alguns exemplos:
1) Os que falam aqui usam certas
pronúncias distintas dos que falam no além-mar? Não há problema; a Comissão dá
um jeito: o Acordo oficializa centenas de formas duplas como sinônimo e sinónimo,
acadêmico e académico; gênio e génio, pênis e pénis, fêmur e fémur;
bebê e bebé, judo e judô.
2) Portugal distingue
foneticamente a 1.ª pessoa do plural do presente do indicativo da mesma pessoa
do pretério perfeito? Não há problema; a Comissão "unificadora"
ajeita, autorizando que esta última seja acentuada por todo aquele que quiser:
"Ontem trabalhámos até tarde".
3) Há divergências na pronúncia
de consoantes em fechamento de sílaba? O Acordo abraça ambas as formas de
escrever: cetro e ceptro,corrupto e corruto, concepção e conceção.
E por aí vai a valsa (ou o samba... ou o fado...).
Ora, aqui está, a meu ver, a
grande desonestidade das pessoas que elaboraram este Acordo: ao se ver
compelida a institucionalizar tantas duplicidades ortográficas (justificadas, é
óbvio, por diferenças reais na pronúncia), a Comissão elaboradora deveria ter
admitido a inexequibilidade do projeto e enterrado definitivamente esta
proposta de unificação no cemitério das utopias (o qual, aliás, anda muito
concorrido, ultimamente...). Que tivesse a hombridade de se definir: se a
unificação não é possível, então não se fale mais nisso... No entanto, por
vaidade, onipotência ou simplesmente para não perder a viagem, como se diz, ela
acabou fazendo aquilo que, no tempo dos sapateiros, era chamado de
"meia-sola": alterou algumas coisas aqui e ali, "ao menos
diminuindo um pouco mais a distância do sonho de uma grafia unificada",
como declarou, sem a menor vergonha na cara, um destacado membro da Comissão —
como se fosse coisa pouca mexer na ortografia de tantos países para obter resultado
tão pífio.
(continua)
Veja AQUI o
que já publicámos sobre o Acordo
1 comentário:
Prezada Blogueira,
Saiu a segunda parte do libelo do professor Cláudio Moreno contra a reforma que chamam AO90. Não perca, que vale a pena. Está aqui:
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2013/01/26/a-reforma-adiada-parte-2/
Cordialmente,
José Horta Manzano
http://BrasildeLonge.wordpress.com/
Enviar um comentário