quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A Reforma Adiada: a vitória do bom senso

Meu prezado José Horta Manzano, agradeço o email, que transcrevo, e o facto de me ter dado a conhecer o artigo abaixo citado. Publico-o com muito gosto! Ficarei atenta a tudo o que for publicado por vós...



Prezada Blogueira,



Antes de mais nada, quero dizer-lhe que me sinto honrado em ver reproduzido em seu espaço meu artigo ‘O remendo’, publicado pelo Correio Braziliense de 6 de janeiro.

Gostaria de sugerir-lhe transcrever também o artigo do professor Claudio Moreno, colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre (Rio Grande do Sul). Seu escrito ― A Reforma adiada: a vitória do bom senso ― vai pelo mesmo caminho preconizado pela prezada blogueira.

Pode encontrá-lo aqui:


Parabéns e boa continuação.

Cordialmente,

José Horta Manzano



A Reforma adiada: a vitória do bom senso



Ao aceitar um grande número de grafias diferentes entre os vários países lusófonos, os membros da Comissão que elaborou o novo Acordo Ortográfico deveriam ter voltado para suas casas, admitindo a impossibilidade dessa utopia unificadora. Infelizmente, numa constrangedora demonstração de falta de espírito cívico, terminaram por aprovar uma Reforma que trai o seu objetivo principal.

Um dos fatos mais importantes de 2012 para nós, brasileiros, praticamente passou em branco nas indefectíveis retrospectivas de final de ano: atendendo ao clamor de vários setores, a presidente Dilma determinou o adiamento do início da obrigatoriedade da "nova ortografia", que ocorreria na noite do Ano-Novo, no exato momento em que, concluída a contagem regressiva da Globo, os fogos de artifício da baía da Guanabara espocassem em todos os telões e telinhas desta pobre mas valorosa Pindorama. O decreto presidencial, publicado do Diário Oficial no dia 28 de dezembro, estipula que o uso das novas regras só passará a ser obrigatório em 2016 — o que significa, prezado leitor, que, até lá, você poderá escolher entre dois sistemas ortográficos diferentes mas igualmente válidos.

Este providencial (e inesperado) ataque de bom senso foi, a meu ver, o melhor presente que o bom Pai Noel poderia nos trazer. O Brasil, que tinha se atirado de ponta-cabeça no abismo das novas regras (num açodamento, aliás, que surpreendeu e assustou os demais países lusófonos, bem mais prudentes do que nós), ganha assim tempo para amadurecer suas decisões, avaliar as tropelias que cometeu em todo esse processo e mudar o que for possível para minimizar os prejuízos que esta Reforma nos trouxe. O imbróglio em que estamos metidos é tão grande que acho indispensável lembrar quem foram os responsáveis — tanto os externos quanto os internos.

Os responsáveis externos são os participantes da Comissão que elaborou o Acordo, que não tiveram a honestidade de abandonar este projeto digno de um Nabucodonosor enlouquecido. Explico melhor: esta Reforma passou a perder seu prestígio e respeitabilidade no momento em que os usuários se deram conta de que ela se baseia numa falsa promessa. Como uma comerciante desonesta, vende o que ela própria não se dispõe a entregar. Espantado, caro leitor? Mas então me diga: o principal fundamento apresentado para abandonar o modelo que tínhamos não era a adoção de um sistema unificado, em que todos os falantes do Português  grafariam as palavras de uma mesma e única forma? Não era este estado quase edênico, do lobo e do cordeiro vivendo juntos e usando os mesmos acentos e letras, a grande justificativa para o esforço e o custo exigidos para implantar esta nova sociedade de igualdade ortográfica? Pois deveria ser, leitor, mas não é — e não sou eu quem diz, e sim a própria Comissão que redigiu o Acordo, ao aceitar e oficializar uma série de diferenças entre o modo de escrever deste e do outro lado do Atlântico, que continuarão intocadas. Aponto alguns exemplos:

1) Os que falam aqui usam certas pronúncias distintas dos que falam no além-mar? Não há problema; a Comissão dá um jeito: o Acordo oficializa centenas de formas duplas como sinônimo e sinónimo, acadêmico e académico;  gênio e géniopênis e pénisfêmur fémur; bebê e bebéjudo e judô.

2) Portugal distingue foneticamente a 1.ª pessoa do plural do presente do indicativo da mesma pessoa do pretério perfeito? Não há problema; a Comissão "unificadora" ajeita, autorizando que esta última seja acentuada por todo aquele que quiser: "Ontem trabalhámos até tarde".

3) Há divergências na pronúncia de consoantes em fechamento de sílaba? O Acordo abraça ambas as formas de escrever: cetro e ceptro,corrupto e corrutoconcepção e conceção. E por aí vai a valsa (ou o samba... ou o fado...).

Ora, aqui está, a meu ver, a grande desonestidade das pessoas que elaboraram este Acordo: ao se ver compelida a institucionalizar tantas duplicidades ortográficas (justificadas, é óbvio, por diferenças reais na pronúncia), a Comissão elaboradora deveria ter admitido a inexequibilidade do projeto e enterrado definitivamente esta proposta de unificação no cemitério das utopias (o qual, aliás, anda muito concorrido, ultimamente...). Que tivesse a hombridade de se definir: se a unificação não é possível, então não se fale mais nisso... No entanto, por vaidade, onipotência ou simplesmente para não perder a viagem, como se diz, ela acabou fazendo aquilo que, no tempo dos sapateiros, era chamado de "meia-sola": alterou algumas coisas aqui e ali, "ao menos diminuindo um pouco mais a distância do sonho de uma grafia unificada", como declarou, sem a menor vergonha na cara, um destacado membro da Comissão — como se fosse coisa pouca mexer na ortografia de tantos países para obter resultado tão pífio.

(continua)

Veja AQUI o que já publicámos sobre o Acordo

1 comentário:

Anónimo disse...

Prezada Blogueira,

Saiu a segunda parte do libelo do professor Cláudio Moreno contra a reforma que chamam AO90. Não perca, que vale a pena. Está aqui:

http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2013/01/26/a-reforma-adiada-parte-2/

Cordialmente,
José Horta Manzano
http://BrasildeLonge.wordpress.com/