A casa do ti Joaquim fica numa quinta perto do sapal e é um lugar muito aprazível. Ali, há um pouco de tudo: animais, árvores de fruto, produtos hortícolas…
Chegados à quinta, veio logo ao nosso encontro a ti Maria, mulher roliça, de cabelo grisalho, tez queimada pelo sol do campo, avental florido sobre uma roupa acinzentada e tamancos de madeira. Os seus olhos doces estavam aflitos com a nossa demora e diziam que estávamos atrasados, que a vida do campo tem algumas regras, que era preciso fazer isto, fazer aquilo e mais aqueloutro… O ti Joaquim ria e dizia que o tempo no campo não é igual ao da cidade, que no campo há tempo para tudo e para mais alguma coisa. Nós seguíamo-los apressados e com vontade de ajudar no que fosse preciso.
A minha filha foi tratar dos coelhos, dos patos, das galinhas e, claro, brincar com os pintainhos. O meu marido ficou incumbido de ajudar o ti Joaquim a tratar dos animais de maior porte: porcos, vacas, cabras e ovelhas… Primeiro cortaram beterrabas, abóboras, frutos (caídos das árvores), couves, ou seja, prepararam uma gostosa lavadura para os porquinhos que já estavam a dar sinal de alguma impaciência.
Eu peguei na máquina fotográfica para tirar algumas fotografias, mas logo a ti Maria me disse que tinha de lhe dar uma mãozinha na cozinha, pois era preciso preparar o jantar para todos. E foi um corrupio: descascar batatas, cenouras, cabeças de nabo; preparar hortaliça; lavar e salgar carnes… Andávamos numa roda-viva, quando entrou pela porta a dentro o ti Manuel com um coelho bravo que tinha atropelado sem querer. Era preciso prepará-lo para petiscarmos antes do jantar. A minha filha, muito desgostosa, dizia “coitadinho” e o ti Manuel:
- Não se diz isso, menina, os animais servem para nós comermos.
Entretanto, pusemos a mesa e chegaram os outros trabalhadores com as famílias: a ti Alice, o ti João, o ti Zé, a ti Almerinda, a ti Celeste. Ah, e o ti Manuel, que chegara antes dos outros com o petisco atropelado, juntou-se a nós depois de fritar o coelhinho. O pitéu foi dividido por onze pessoas, não dez, porque a minha filha não quis comer “o pobre animal que teve o azar de ser atropelado e, ainda por cima, ainda ia ser comido, coitado!”.
As travessas giravam, passavam de mão em mão, os copos ora cheios ora vazios tilintavam, as conversas corriam, as anedotas sucediam-se e, de repente, o ti Joaquim lembrou-se da conversa inacabada.
- Ó ti Joaquim, mas o senhor deu logo a resposta – dissemos a rir.
- Então digam-me o que é a “Feira da Lada” – desafiou o ti Joaquim com aquele olhar maroto de quem sabe mais do que diz.
- Não quererá dizer Feira da Ladra? – perguntou a minha filha, desconfiada.
- Vá lá, digam logo que não sabem – falou a ti Alice a rir – se não ele não descansa.
- Ó ti Joaquim, não me diga que a Feira da Ladra, antigamente se chamava “Feira da Lada”? – indaguei curiosa e divertida.
- Às tantas era feita à beira do rio Tejo – arriscou o meu marido.
- Em Lisboa, há muito tempo, apareceu, na zona ribeirinha, a “Feira da Lada”, junto ao rio Tejo, na margem “lada” do Tejo. Depois essa feira passou por muitos outros locais e hoje realiza-se no «Campo de Santa Clara» todas as semanas, às terças-feiras e sábados… E como aí se compravam coisas muito baratas, o povo começou a pensar que aquilo que lá se vendia era roubado…
- Pronto, ti Joaquim, já percebi tudo – disse a ti Almerinda – o povo começou a dizer Feira da Ladra em vez de “Feira da Lada”.
- Foi isso mesmo – assentiu o ti Joaquim com os olhos mais brilhantes do mundo.
- Ó ti Joaquim, não me diga que também leu isso no livro que o senhor padre lhe deu? – inquiriu, brincalhão, o ti Manuel.
A Mena na cozinha
Coelho bravo frito
sal
vinho
alhos
louro
carqueja
azeite
Trabalhinho:
3 comentários:
boa noite,td bem?
gostei destes momentos que aqui partilhas.
e das novas cria~ç~es.
bom fdsemana, fica bem.
jinhos***
Oi Mena querida!!!!!
como sempre por aqui novidades gostosas, cultura e arte!!!!
bjks e bom domingo
Sonia
Adorei os trabalhos.
Ah, nunca comi coelho, mas dizem que é bom.
Tenho dó de comer o bichinho rsrsrs
Bom Domingo
Bjokas:D
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