Está aqui!
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistamos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistamos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Fernando Pessoa, Mensagem
Uma "Prece" supõe um eu, um tu e um pedido. Há um pedido respeitoso e urgente a fazer a um destinatário ausente (superior, ascendente), ("Senhor") que pode ser entendido como Senhor/Libertador, Deus, D. Sebastião (divinizado). Esta invocação é feita por um eu plural, o povo português, daí os pronomes pessoais (restam-nos" e "...em nós criou"), assim como, a forma verbal, "conquistemos" e o pronome possessivo "nossa", na última estrofe.
Face ao estado de decadência do país, perpetuado desde o desaparecimento de D. Sebastião, há o pedido para que este devolva à Pátria a chama oculta debaixo das cinzas (linguagem metafórica), isto é, que venha regenerar a nação.
Desejando ser um criador de mitos, Fernando Pessoa aproveita o mito sebastianista, visto que D. Sebastião representa para o povo português uma hipótese de salvação e de regeneração (tal como Jesus Cristo). O poeta acredita no destino messiânico de Portugal, e, deste modo, na segunda parte da Mensagem apela ao passado heróico dos portugueses, por lhes restar "hoje.../ O mar universal e a saudade", para a motivação e tentativa de restabelecimento de uma imagem que morrera com o passado.
Evidencia-se uma oposição nas duas primeiras estrofes entre o Passado e o Presente: um Passado glorioso que, para tal, teve que ultrapassar muitas dificuldades, contudo, "Tudo vale a pena /Se a alma não é pequena", e um Presente invadido pela "saudade". Morfologicamente, salienta-se a dicotomia passado/presente a nível das formas verbais ("veio... foi... criou... ocultou"/"é... resta-nos... não é finda... pode erguê-la"), assim como os advérbios de tempo "hoje" (v. 3), subentendendo-se o "ontem".
Apesar de estas duas estrofes transmitirem uma ideia de desencanto, poderão ser separadas pela adversativa "Mas" (no início da segunda estrofe) que remete para duas ideias opostas. Assim, na primeira estrofe, faz-se referência à luta no passado para ultrapassar os obstáculos, necessários à universalidade, restando hoje (princípios do século XX) a saudade desse passado vitorioso. Contudo, na segunda estrofe, "a chama" (o sonho) que a vida criou nos portugueses, no passado, poderá reacender ainda, oferecendo esperança de um futuro melhor, com a vinda de um redentor. O advérbio de tempo "ainda", no final do verso 6, surge aqui a conotar fé, confiança num porvir superior, espiritual.
O tema de desencanto manifestado nas duas primeiras estrofes apresenta-se, a nível lexical, através de vocábulos de carácter negativo: os nomes (noite, tormenta, silêncio, saudade, frio, cinzas e vento); os adjectivos (vil, hostil, morto); e os verbos (restar, ocultar).
A nível estilístico, surge-nos a apóstrofe "Senhor", que remete para um pedido de aflição; a metáfora hiperbólica que atravessa as duas estrofes.
Do ponto de vista fónico, predominam os sons nasais ("noite/alma/tanta/tormenta/restam-nos/silêncio/mar universal/em nós/ainda/ainda não é finda/cinzas/mão/vento/ainda") a traduzirem uma ideia de monotonia, tristeza; assim como a repetição da oclusiva /t/ a sugerir a ideia de sofrimento; do mesmo modo, as vogais fechadas e semifechadas ("vil"/"hostil") remetem-nos também para uma negatividade.
Este poema é o último da Segunda Parte da Mensagem, "Mar Português, constituindo como que uma ponte para "O Encoberto". A tripartição da obra Mensagem (Brasão, Mar Português, O Encoberto) é simbólica. Como esotérico que era, Fernando Pessoa seguiu algumas profecias, indicando, que o processo imperial português falharia duas vezes, apesar de cada vez ficar a semente que faria germinar o império seguinte - esta continuidade gerou-se a nível dinástico, ficando por consumar uma 3.ª fase, a do Quinto Império.
A 1.ª parte desta obra "épico-lírica" (Brasão) simboliza a fundação da nacionalidade, quer a nível do espaço geográfico, quer no que diz respeito à fundação duma determinada identidade. Na 2.ª parte (Mar Português), o poeta salienta a grandeza do sonho convertido em acção, unificando o acto humano e o Destino traçado por Deus. Assim, o último poema, "Prece", constitui uma ponte para a 3.ª parte (O Encoberto), podendo até fazer-se uma ligação com os dois últimos versos do poema "O Infante" ("Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal"). A " Prece" é o prenúncio do Quinto Império, na medida em que, pertencendo à parte onde se faz a apologia do apogeu da nação portuguesa, há que ter "saudade" (v. 4) de um passado glorioso, há que sonhar novamente, sendo, talvez, a maneira de fazer "acordar" os portugueses do início do século XX do marasmo intelectual e moral em que viviam. Para tal, só a vinda de um messias, já profetizada por Bandarra e Padre António Vieira, poderia salvar a Pátria, aparecendo numa manhã de nevoeiro, pois depois da "Tempestade" vem a "Bonança" e D. Sebastião virá regenerar a Pátria, não na conquista de um império terreno, mas sim espiritual (o Quinto Império).
Face ao estado de decadência do país, perpetuado desde o desaparecimento de D. Sebastião, há o pedido para que este devolva à Pátria a chama oculta debaixo das cinzas (linguagem metafórica), isto é, que venha regenerar a nação.
Desejando ser um criador de mitos, Fernando Pessoa aproveita o mito sebastianista, visto que D. Sebastião representa para o povo português uma hipótese de salvação e de regeneração (tal como Jesus Cristo). O poeta acredita no destino messiânico de Portugal, e, deste modo, na segunda parte da Mensagem apela ao passado heróico dos portugueses, por lhes restar "hoje.../ O mar universal e a saudade", para a motivação e tentativa de restabelecimento de uma imagem que morrera com o passado.
Evidencia-se uma oposição nas duas primeiras estrofes entre o Passado e o Presente: um Passado glorioso que, para tal, teve que ultrapassar muitas dificuldades, contudo, "Tudo vale a pena /Se a alma não é pequena", e um Presente invadido pela "saudade". Morfologicamente, salienta-se a dicotomia passado/presente a nível das formas verbais ("veio... foi... criou... ocultou"/"é... resta-nos... não é finda... pode erguê-la"), assim como os advérbios de tempo "hoje" (v. 3), subentendendo-se o "ontem".
Apesar de estas duas estrofes transmitirem uma ideia de desencanto, poderão ser separadas pela adversativa "Mas" (no início da segunda estrofe) que remete para duas ideias opostas. Assim, na primeira estrofe, faz-se referência à luta no passado para ultrapassar os obstáculos, necessários à universalidade, restando hoje (princípios do século XX) a saudade desse passado vitorioso. Contudo, na segunda estrofe, "a chama" (o sonho) que a vida criou nos portugueses, no passado, poderá reacender ainda, oferecendo esperança de um futuro melhor, com a vinda de um redentor. O advérbio de tempo "ainda", no final do verso 6, surge aqui a conotar fé, confiança num porvir superior, espiritual.
O tema de desencanto manifestado nas duas primeiras estrofes apresenta-se, a nível lexical, através de vocábulos de carácter negativo: os nomes (noite, tormenta, silêncio, saudade, frio, cinzas e vento); os adjectivos (vil, hostil, morto); e os verbos (restar, ocultar).
A nível estilístico, surge-nos a apóstrofe "Senhor", que remete para um pedido de aflição; a metáfora hiperbólica que atravessa as duas estrofes.
Do ponto de vista fónico, predominam os sons nasais ("noite/alma/tanta/tormenta/restam-nos/silêncio/mar universal/em nós/ainda/ainda não é finda/cinzas/mão/vento/ainda") a traduzirem uma ideia de monotonia, tristeza; assim como a repetição da oclusiva /t/ a sugerir a ideia de sofrimento; do mesmo modo, as vogais fechadas e semifechadas ("vil"/"hostil") remetem-nos também para uma negatividade.
Este poema é o último da Segunda Parte da Mensagem, "Mar Português, constituindo como que uma ponte para "O Encoberto". A tripartição da obra Mensagem (Brasão, Mar Português, O Encoberto) é simbólica. Como esotérico que era, Fernando Pessoa seguiu algumas profecias, indicando, que o processo imperial português falharia duas vezes, apesar de cada vez ficar a semente que faria germinar o império seguinte - esta continuidade gerou-se a nível dinástico, ficando por consumar uma 3.ª fase, a do Quinto Império.
A 1.ª parte desta obra "épico-lírica" (Brasão) simboliza a fundação da nacionalidade, quer a nível do espaço geográfico, quer no que diz respeito à fundação duma determinada identidade. Na 2.ª parte (Mar Português), o poeta salienta a grandeza do sonho convertido em acção, unificando o acto humano e o Destino traçado por Deus. Assim, o último poema, "Prece", constitui uma ponte para a 3.ª parte (O Encoberto), podendo até fazer-se uma ligação com os dois últimos versos do poema "O Infante" ("Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez. / Senhor, falta cumprir-se Portugal"). A " Prece" é o prenúncio do Quinto Império, na medida em que, pertencendo à parte onde se faz a apologia do apogeu da nação portuguesa, há que ter "saudade" (v. 4) de um passado glorioso, há que sonhar novamente, sendo, talvez, a maneira de fazer "acordar" os portugueses do início do século XX do marasmo intelectual e moral em que viviam. Para tal, só a vinda de um messias, já profetizada por Bandarra e Padre António Vieira, poderia salvar a Pátria, aparecendo numa manhã de nevoeiro, pois depois da "Tempestade" vem a "Bonança" e D. Sebastião virá regenerar a Pátria, não na conquista de um império terreno, mas sim espiritual (o Quinto Império).
A Mena na cozinha
Esparguete com salmão fumado
Esparguete com salmão fumado
Esparguete cozido
100g de salmão fumado
1 dl de natas
1 dente de alho
sal
pimenta
100g de salmão fumado
1 dl de natas
1 dente de alho
sal
pimenta
azeite
Coza o esparguete. Corte o salmão em pedacinhos. Numa frigideira, leve um pouco de azeite e o alho laminado ao lume. Quando o alho estiver lourinho, junte o salmão, deixe cozinhar um pouco e, por fim, as natas. Tempere. Deixe fervilhar e retire do lume. Faça um "ninho" com a massa e coloque no centro o preparado de salmão.
Bom apetite!Trabalhinho:
3 comentários:
O que seria de nós sem a prece diária? Em todos os momentos faço minhas orações, peço proteção e agradeço. Ter fé é essencial!
Beijo imenso, menina linda.
Rebeca
-
olá querida! vim desejar-te um optimo fim de semana. Adoro os trabalhinhos. beijinhos!
Olá Mena
Obrigada por me recordares este belo poema.
Faço as "minhas preces" diárias...mesmo pequeninas...não deixam de o ser.
Bjs.
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