domingo, 15 de agosto de 2010

O vento vago voltou



E até do que hoje sou
No entardecer da terra
O sopro do longo Outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas, e volve, e revolve,
E esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
E o vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
Amanhã direi, "quem dera
Volver a sê-lo!... Mais frio
O vento vago voltou.

Fernando Pessoa


O assunto do poema é a passagem do tempo e as transformações que esta provoca.
O sujeito poético começa por referir o Outono e os seus efeitos sobre a natureza, salientando o carácter triste desta estação, dado provocar o amarelecimento, o vento que agita as folhas e não as deixa sossegar, culminando na expiração.
Na última estrofe, aponta-se o estado de espírito do sujeito lírico que constata que também ele mudou e emite o desejo de voltar a ser o que fora, embora verifique a impossibilidade de ser o que já fora, porque o frio que se acentuara lá fora se assemelhava ao que interiormente sentia.
O sujeito lírico sugere uma imagem do real que associa a "um sonho mau num sono", é a terra no seu fim, onde o chão "amareleceu" com "o sopro do longo Outono", isto é, a terra "foi varrida" por ventos, aqui sinónimo de conflitos, que fazem dela um lugar vazio, onde o homem não sente prazer em viver. E tal como a terra se encontra em definhamento, e observando a luta que as folhas empreendem contra a força destruidora do vento, sem, contudo, conseguirem vencer as contrariedades naturais, também o sujeito poético se sente frustrado e triste, por não conseguir a estabilidade emocional que outrora teve, nem mesmo combater a solidão que nele se instalou.
Os sons nasais (m, n, ão) presentes no poema sugerem melancolia e tristeza; a revolta está expressa nos sons v e s que remetem para o tumulto, para a intranquilidade presente na natureza e no estado de espírito do sujeito lírico.
Neste poema encontramos o tom confessional, o carácter embalatório, a solidão interior, a impossibilidade de viver a vida, temas do gosto dos românticos e que nos permitem estabelecer um paralelismo entre Fernando Pessoa e os movimentos anteriores, e até com o simbolismo e o saudosismo, aqui em evidência pelas características da natureza em tumulto, a simbolizar a inquietação do sujeito poético, e pelo desejo de voltar atrás. O poema, a nível formal, tem estrofes e métrica regulares, versos curtos e o ritmo é lento e embalatório.





A Mena na cozinha

Sorvete de alfazema

4 a 6 flores de alfazema
6 dl de natas
casca de limão
150 g de açúcar
4 gemas de ovo

Lave e enxugue a alfazema. Coloque-a num tacho com as natas e a casca de limão e leve ao lume. Antes de começar a ferver, junte o açúcar e mexa até se dissolver. Quando estiver a ferver, retire do lume e passe por um coador fino e depois junte as gemas, previamente batidas. Leve de novo ao lume e cozinhe em lume brando, mexendo até que engrosse. Logo que principie a ferver, retire do lume e deite num tabuleiro frio. Deixe arrefecer.

Leve ao congelador até que as bordas fiquem congeladas (mas não o centro). Com um garfo, bata até que fique homogéneo. Congele de novo e repita este processo mais duas vezes.

Sirva enfeitado com flores de alfazema e...

delicie-se!


Trabalhinho:


5 comentários:

Edilene Pacheco disse...

Olá Mena,

Estive algum tempo sem te visitar por isso vim matar saudades de você e deste blog que continua com muitas coisas lindas, interessntes e deliciosas.

Uma ótima semana para vocÊ.

Bjss

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Fernando pessoa e mais um dos seu belos poemas.

Prefiro sorvete a gelado. Provei este a "medo" , por ser de alfazema.
Adorei!

Bjs.

Delícias e Talentos disse...

Querida Mena, é muito inspirador ter notícias tuas, que bons olhos te leiam! hehehe:)
A sobremesa gelada que nos trazes pertence ao lote das imprescindíveis no Verão...
...juntar a frescura do limão com o aroma inebriante da alfazema, só pode resultar em algo irresistivelmente perfumado e refrescante!!! :)

Anónimo disse...

Olá Mena! Permita-me que a trate assim!!
Sou Maria Cor e conheço-a do facebook.
Já há bastante tempo que acompanho os seus posts com os seus trabalhos tão criativos.
Desta vez, tive mesmo de comentar. A Mena é uma pessoa riquíssima de interesse!!! É das pessoas mais criativas que conheço. Imaginação, inovação, habilidade, criatividade, sensibilidade...não lhe faltam!!
Os meus mais sinceros parabéns!!
O seu blogue agora está lindíssimo e recheado de interesse!!
Muito obrigada! Beijinhos!!

~*Rebeca*~ disse...

Mena,

Blog com visual novo e com aquela leveza de coisas gostosas.

Beijo imenso, menina linda.

Rebeca

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