quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A fome nas nossas escolas


Este texto foi escrito por um professor e relata o que se passa em muitas das nossas escolas. Todos os dias, ouço relatos como este e até já chorei com uma mãe ao contar-me a sua situação.


Ontem, uma mãe lavada em lágrimas veio ter comigo à porta da escola. Que não tinha um tostão em casa, ela e o marido estão desempregados e, até ao fim do mês, tem 2 litros de leite e meia dúzia de batatas para dar aos dois filhos.

Acontece que o mais velho é meu aluno. Anda no 7.º ano, tem 12 anos mas, pela estrutura física, dir-se-ia que não tem mais de 10. Como é óbvio, fiquei chocado. Ainda lhe disse que não sou o Director de Turma do miúdo e que não podia fazer nada, a não ser alertar quem de direito, mas ela também não queria nada a não ser desabafar.
De vez em quando, dão-lhe dois ou três pães na padaria lá da beira, que ela distribui conforme pode para que os miúdos não vão de estômago vazio para a escola. Quando está completamente desesperada, como nos últimos dias, ganha coragem e recorre à instituição daqui da vila - oferecem refeições quentes aos mais necessitados. De resto, não conta a ninguém a situação em que vive, nem mesmo aos vizinhos, porque tem vergonha. Se existe pobreza envergonhada, aqui está ela em toda a sua plenitude.
Sabe que pode contar com a escola. Os miúdos têm ambos Escalão A, porque o desemprego já se prolonga há mais de um ano (quem quer duas pessoas com 45 anos de idade e habilitações ao nível da 4ª classe?). Dão-lhes o pequeno-almoço na escola e dão-lhes o almoço e o lanche. O pior é à noite e sobretudo ao fim-de-semana. Quantas vezes aquelas duas crianças foram para a cama com meio copo de leite no estômago, misturado com o sal das suas lágrimas...
Sem saber o que dizer, segurei-a pela mão e meti-lhe 10 euros no bolso. Começou por recusar, mas aceitou emocionada. Despediu-se a chorar, dizendo que tinha vindo ter comigo apenas por causa da mensagem que eu enviara na caderneta. Onde eu dizia, de forma dura, que «o seu educando não está minimamente concentrado nas aulas e, não raras vezes, deita a cabeça no tampo da mesma como se estivesse a dormir».
Aí, já não respondi. Senti-me culpado. Muito culpado por nunca ter reparado nesta situação dramática. Mas com 8 turmas e quase 200 alunos, como podia ter reparado?
É este o Portugal de sucesso dos nossos governantes. É este o Portugal dos nossos filhos.


Arnaldo Antunes - professor


Na minha escola, o Clube de Património, que dinamizo com duas colegas, fez uma recolha de alimentos para dar aos alunos mais carenciados, pelo Natal. Preparámos 12 cabazes com azeite, óleo, açúcar, arroz, massa, leite, cereais, bolachas, chocolate para pôr no leite, feijão, grão, conservas (salsichas, atum, sardinhas, fruta em calda...)... Fizemos o levantamento dos alunos com mais dificuldades com a ajuda dos Directores de Turma e dos funcionários da escola e, por fim, avisámos os respectivos Encarregados de Educação. Entregámos os cabazes aos alunos, dizendo-lhes que lhes tinham saído em sorteio. Não assisti à entrega de todos os cabazes, apenas assisti à entrega de um a uma aluna, que ficou tão emocionada, tão agradecida: "Professora, tive tanta sorte em me sair um cabaz! Os meus pais estão desempregados e nós somos quatro e estamos com muitas dificuldades! Ia ser um Natal tão triste, a despensa já não tem quase nada, mas agora já temos comida para algum tempo."
Sabemos que há alunos que apenas comem o que lhes dão na escola. Este ano, já paguei o pequeno-almoço a alguns alunos que me chegaram à aula sem comer e que se sentiram mal...


NÃO FIQUES CALADO, SENTE-TE ANTES INDIGNADO, E FALA. SE CALHAR AO TEU LADO EXISTE ALGO IDÊNTICO, ABRE OS OLHOS E FALA!...


1 comentário:

Renatinha Araújo disse...

Nossa!
Isso é em Portugal?
Não imaginava que acontecia algo do tipo na Europa... =/

Enfim, é triste mesmo...
A desigualdade social é muito triste...

Gostei do seu post!

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