segunda-feira, 16 de julho de 2012

A DIVINA COMÉDIA... de Crato



"Não me tenho cansado de deixar testemunhos das consequências dramáticas deste descalabro que estão a impor à escola pública nas caixas de comentários dos blogues que visito regularmente.


E esgotei. 
Esgotei a capacidade de sequer pensar na ruína das medidas, na incongruência dos números, na insensibilidade de quem põe a engrenagem a funcionar, rumo à destruição que se adivinha.


O que se tem vivido recentemente é só o prólogo de uma obra cujos capítulos, crescentes de intriga, começarão a ser escritos em Setembro, quando as salas de aula abarrotarem de personagens vivas, com boca, olhos e tudo, aos magotes de 30, para aprender com afinco os saberes estruturantes que as metas de aprendizagem definem como essenciais, a testar em exames rigorosos. 


Só a partir de Setembro poderemos aceder aos sucessivos capítulos desta espécie de epopeia surreal que começou há pouco a ser escrita e que, infelizmente, ficará para as gerações futuras como A DIVINA COMÉDIA… de Crato.


Entretanto, não dá para esquecer as lágrimas e o pesar dos colegas que, na passada sexta-feira 13, receberam o passaporte para umas férias de pesadelo, onde era suposto recuperarem forças e motivação para o seu vigésimo e tal, às vezes até trigésimo, ano de serviço e de investimento profissional. 
Mesmo que os repesquem no meio desse período, a deriva a que foram condenados em boa parte desse pseudo tempo de descanso já ninguém conseguirá apagar das suas memórias. E a desconfiança no desfecho da narrativa perdurará no seu espírito para sempre.


Resta-nos imaginar quantos serão os capítulos e quem escreverá o epílogo, pois que o enredo todos conhecemos."

Ana Sousa

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