"Não me tenho cansado de deixar testemunhos das consequências dramáticas deste descalabro que estão a impor à escola pública nas caixas de comentários dos blogues que visito regularmente.
E esgotei.
Esgotei a capacidade de sequer pensar na ruína das medidas, na incongruência dos números, na insensibilidade de quem põe a engrenagem a funcionar, rumo à destruição que se adivinha.
O que se tem vivido recentemente é só o prólogo de uma obra cujos capítulos, crescentes de intriga, começarão a ser escritos em Setembro, quando as salas de aula abarrotarem de personagens vivas, com boca, olhos e tudo, aos magotes de 30, para aprender com afinco os saberes estruturantes que as metas de aprendizagem definem como essenciais, a testar em exames rigorosos.
Só a partir de Setembro poderemos aceder aos sucessivos capítulos desta espécie de epopeia surreal que começou há pouco a ser escrita e que, infelizmente, ficará para as gerações futuras como A DIVINA COMÉDIA… de Crato.
Entretanto, não dá para esquecer as lágrimas e o pesar dos colegas que, na passada sexta-feira 13, receberam o passaporte para umas férias de pesadelo, onde era suposto recuperarem forças e motivação para o seu vigésimo e tal, às vezes até trigésimo, ano de serviço e de investimento profissional.
Mesmo que os repesquem no meio desse período, a deriva a que foram condenados em boa parte desse pseudo tempo de descanso já ninguém conseguirá apagar das suas memórias. E a desconfiança no desfecho da narrativa perdurará no seu espírito para sempre.
Resta-nos imaginar quantos serão os capítulos e quem escreverá o epílogo, pois que o enredo todos conhecemos."
Ana Sousa
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