Ega
Amigo inseparável de Carlos da Maia, caracteriza-se por ser um irreverente, excêntrico, revolucionário, boémio, exagerado, provocador, sarcástico, crítico, anarquista e satânico. É partidário do Naturalismo e opõe-se ao poeta, ultra-romântico, Alencar.
É o alter-ego de Eça que, ao nível físico, brinca com a sua magreza, com o seu monóculo e com o bigode arrebitado e, ao nível intelectual, revela a sua dualidade romântica e regeneradora.
Assume-se como um dândi, mas também como um literato falhado. Começa a escrever “As Memórias de um Átomo”, história das grandes fases da Humanidade e do Universo e “O Lodaçal” para se vingar de Cohen, mas nunca os acaba.
Dandismo
Moda cultural surgida no interior do Romantismo como reacção aos sentimentos de frustração e cepticismo característicos do chamado mal do século, e que se traduziu numa atitude existencial de distanciamento e de refúgio num mundo esteticamente confortável e elegante.
In Infopédia
“Figura esgrouviada e seca… nariz adunco, um quadrado de vidro entalado no olho direito” (pág. 92), Ega é bem um retrato, ou um alter-ego do próprio Eça de Queirós (até os nomes são semelhantes Ega e Eça). Se no físico é parecido com Eça, é-o ainda mais no psíquico: “grande fazedor de frases”, e sempre pronto a olhar o mundo e a vida com olhos sarcásticos e irónicos.
Amigo íntimo de Carlos, desde Coimbra, onde se formou em direito, também como ele foi em Lisboa um diletante falhado e corrompido pelo romantismo de uma sociedade que ele tanto criticava. Adepto em literatura do naturalismo mais rígido, Ega nunca, no entanto, chegou a escrever a obra que anunciara – Memórias de um átomo. É ao mesmo tempo crítico e criticado, personagem da intriga trágica como confidente de Carlos, mas também personagem por vezes ridicularizada em episódios de crítica social, como quando se vê obrigado a estar de acordo com o senhor Cohen, só porque ele tem uma linda mulher, ou quando é escorraçado da casa do mesmo senhor.
Ega é frequentemente contraposto a Alencar, até porque os dois são símbolos, o primeiro do Naturalismo e o segundo de Romantismo. Ega é sempre valorizado pelo narrador em detrimento de Alencar, até porque Ega representa a ideia de um Portugal mais moderno, ao passo que Alencar é o símbolo de um ultra-romantismo decadente. Enquanto Alencar é, como se viu, uma personagem perfeitamente plana, Ega é uma personagem mais individualizada, até mesmo um pouco modelada.
No fim do romance dá-se um esbatimento da antítese Ega/Alencar. Não é que Alencar se tenha aproximado mais de Ega, mas o inverso. Este é que, desiludido pelo descalabro de uma sociedade há cinquenta anos constitucionalista, e pelo seu próprio fracasso, se sente mais próximo de Alencar: “E aqui tens tu, Carlinhos, a que nós chegámos… tão profundamente tem baixado o carácter e o talento, que de repente o nosso velho Tomás, o homem da Flor de Martírio, o Alencar de Alenquer, aparece com as proporções de um génio e dum justo”. Também aqui Ega surge semelhante a Eça, o qual, tomando consciência do exagero e do pessimismo crítico em relação ao Romantismo e a Portugal, acabaria por exaltar o pitoresco da paisagem e dos costumes nacionais em A Cidade e as Serras.
É um bom boémio, excêntrico, exagerado, todo dependente de Carlos. Anarquista, sem Deus e sem moral, o seu discurso destruidor espelha a intenção de Eça em atingir as instituições e valores da época. É revelador de um grande sentido de lealdade para com os amigos, não tolerando uma canalhice, tal como Carlos, sofre do diletantismo, daí a sua incapacidade em empreender seriamente uma profissão. É o confidente, o intermediário e, no momento crucial, o informador de Maria Eduarda. Encarna a figura de defensor dos valores da escola realista, por oposição à romântica, contudo, na prática, revela-se um romântico por ter sido um falhado na vida. Até ao capítulo XIV, é personagem plana, caricatural, pois intervém essencialmente em episódios que retratam a sociedade da época. A partir desse capítulo, começa a ganhar densidade psicológica, passando a desempenhar um papel fulcral na intriga principal. De notar a passagem da focalização omnisciente do narrador para focalização interna através desta personagem, nas cenas mais dramáticas da intriga.
"O esforço da inteligência neste sentido terminou por lhe influenciar as maneiras e a fisionomia; e, com a sua figura esgrouviada e seca, os pêlos do bigode arrebitados sob o nariz adunco, um quadrado de vidro entalado no olho direito - tinha realmente alguma coisa de rebelde e de satânico.”
Capítulo IV
Caracterização física do Ega
Adjectivos que sublinham a sua magreza: esgrouviada e seca
Expressão que caracteriza o seu bigode: pêlos do bigode arrebitados
Adjectivo que caracteriza o seu nariz: adunco
Elemento físico mais destacado: nariz
Particípio passado que descreve o modo como usa monóculo: entalado
Vocábulos que acentuam o seu ar rebelde: esgrouviada, arrebitados, satânico
Ega tem sido visto em muitos casos como uma espécie de alter-ego de Eça, quer pela sua postura crítica e distanciada de permanente acusador dos males do país, quer pela sua intervenção em defesa do realismo e naturalismo, para além disso há grande similitude nos nomes e no retrato físico.
A partir do capítulo XVI, Ega começa a ganhar densidade psicológica, passando a desempenhar um papel fulcral na intriga principal. No entanto, até aí, é uma personagem plana, caricatural, que intervém essencialmente em episódios que retratam a sociedade da época:
“ (...) exagerou o seu ódio à Divindade, e a toda a Ordem social (...) " – exagerado
“ (...) trazia os rasgões da batina cosidos a linha branca; embebedava-se com carrascão (...) " – boémio
“ (...) escandalizava com a sua irreligião e as suas facécias heréticas (...) " – provocador
“ (...) escandalizava com a sua irreligião e as suas facécias heréticas (...)"; " (...) o maior ateu (...)" – ateu
“ (...) espantava pela audácia e pelos ditos (...) "; " (...) queria o massacre das classes médias, o amor livre das ficções do matrimónio, a repartição das terras (...) " – revolucionário
“ (...) tinha realmente alguma coisa de rebelde (...)."; " (...) no fundo muito sentimental (...) " – dualidade de temperamento
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