A poesia de Cesário Verde distingue-se pela exactidão do vocabulário, pelas imagens extremamente visuais, ai ponto de se considerar este poeta um pintor, e ele próprio afirmar "pinto quadros com letras, por sinais."
À semelhança de Eça de Queirós, Cesário Verde mistura o físico e o moral, combina sensações, usa sinestesias, apresenta primeiro a sensação e só depois se refere ao objecto ("Amareladamente, os cães parecem lobos"), emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo. Mas a linguagem de Cesário Verde é ainda mais pitoresca e realista que a de Eça de Queirós, usando mesmo termos desprovidos de conteúdo poético, pertencentes a um nível familiar ou técnico, como por exemplo: martelo, batatal, quintalório, navalhas de volta, etc.
É notória a predilecção de Cesário pelas quadras, em versos decassilábicos ou alexandrinos, usando frequentemente o transporte ou encavalgamento.
Se o rigor da forma aproxima Cesário dos parnasianos, já a subjectividade de que aparecem eivados muitos dos seus poemas o afasta destes e do lirismo tradicional.
É o seu estilo próprio que torna problemática a classificação dos seus versos.
Lirismo ou versos prosaicos?
Se o lirismo se associa à expressão que o sujeito poético faz do seu mundo íntimo, a prosa surge voltada para o mundo exterior, usando um vocabulário mais concreto, mais objectivo.
São vários os poemas de Cesário Verde onde o vocabulário objectivo é utilizado, onde a realidade exterior é descrita, mas também, e frequentemente no mesmo poema, essa realidade objectiva é revestida de formas poéticas. Se isto acontece, estamos perante aquilo que se designa por versos prosaicos. Contudo, a expressão da realidade objectiva, tal como aparece em Cesário Verde, é profundamente conotativa e mesmo que o discurso não fosse entrecortado por frases exclamativas, ricas de subjectivismo, não seria difícil descobrir-se uma outra linguagem a relatar as impressões íntimas das realidades objectivas e observadas.
Em Cesário Verde assiste-se constantemente à passagem do objectivo para o subjectivo. Logo, pode afirmar-se que, se a poesia de Cesário é a expressão do mundo real, exterior, também o é de um mundo psíquico, interior, e daí poder afirmar-se que na poesia de Cesário, tal como na de outros parnasianos, não há lirismo puro. Há preferencialmente versos prosaicos, isto é, prosa em forma de verso, ou verso em forma de prosa.
O estilo
É bem visível nos poemas de Cesário Verde esta definição de poesia: um modo especial de ver o mundo e a vida. De facto, o olhar penetrante deste poeta vê, nos seus passeios, a cidade e todo o seu drama, vibra em simpatia ou em repugnância à vista de uma vida urbana que ao mesmo tempo o fascina e o sufoca. Cesário, no dizer de Alberto Caeiro, "era um camponês / que andava preso em liberdade pela cidade". Esta afirmação paradoxal sintetiza admiravelmente os dois polos que antiteticamente atraem o poeta: o campo e a cidade. Ele é chamado por isso "o poeta da cidade e do campo". A cidade enjoa-o; temos a impressão de que ela lhe interessa apenas para a devassar artisticamente. Pelo contrário, o campo deleita-o, como se vê, por exemplo, no poema De Tarde.. De notar que, mesmo nos poemas que focam a cidade, surgem frequentemente evocações saudosistas do campo. A cidade provoca no poeta "melancolia", "enjoo", "desejo absurdo de sofrer". Ora é nesta náusea citadina que o poeta sente por vezes a necessidade de abrir as suas janelas sobre o campo. Assim, no poema Cristalizações, o poeta faz frequentemente surgir evocações campestres: "quintalórios com parreiras", "não se ouvem aves nem o choro duma nora", "sabe-me a campo, a lenha, a agricultura". E o mesmo sucede em outros dos seus melhores poemas citadinos: O Sentimento dum Ocidental, Num Bairro Moderno, etc..
O estilo impressionista, visualista, de Cesário Verde tem origens precisamente no seu jeito especial de ver o mundo e a vida.
À semelhança de Eça de Queirós, Cesário Verde mistura o físico e o moral, combina sensações, usa sinestesias, apresenta primeiro a sensação e só depois se refere ao objecto ("Amareladamente, os cães parecem lobos"), emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo. Mas a linguagem de Cesário Verde é ainda mais pitoresca e realista que a de Eça de Queirós, usando mesmo termos desprovidos de conteúdo poético, pertencentes a um nível familiar ou técnico, como por exemplo: martelo, batatal, quintalório, navalhas de volta, etc.
É notória a predilecção de Cesário pelas quadras, em versos decassilábicos ou alexandrinos, usando frequentemente o transporte ou encavalgamento.
Se o rigor da forma aproxima Cesário dos parnasianos, já a subjectividade de que aparecem eivados muitos dos seus poemas o afasta destes e do lirismo tradicional.
É o seu estilo próprio que torna problemática a classificação dos seus versos.
Lirismo ou versos prosaicos?
Se o lirismo se associa à expressão que o sujeito poético faz do seu mundo íntimo, a prosa surge voltada para o mundo exterior, usando um vocabulário mais concreto, mais objectivo.
São vários os poemas de Cesário Verde onde o vocabulário objectivo é utilizado, onde a realidade exterior é descrita, mas também, e frequentemente no mesmo poema, essa realidade objectiva é revestida de formas poéticas. Se isto acontece, estamos perante aquilo que se designa por versos prosaicos. Contudo, a expressão da realidade objectiva, tal como aparece em Cesário Verde, é profundamente conotativa e mesmo que o discurso não fosse entrecortado por frases exclamativas, ricas de subjectivismo, não seria difícil descobrir-se uma outra linguagem a relatar as impressões íntimas das realidades objectivas e observadas.
Em Cesário Verde assiste-se constantemente à passagem do objectivo para o subjectivo. Logo, pode afirmar-se que, se a poesia de Cesário é a expressão do mundo real, exterior, também o é de um mundo psíquico, interior, e daí poder afirmar-se que na poesia de Cesário, tal como na de outros parnasianos, não há lirismo puro. Há preferencialmente versos prosaicos, isto é, prosa em forma de verso, ou verso em forma de prosa.
O estilo
É bem visível nos poemas de Cesário Verde esta definição de poesia: um modo especial de ver o mundo e a vida. De facto, o olhar penetrante deste poeta vê, nos seus passeios, a cidade e todo o seu drama, vibra em simpatia ou em repugnância à vista de uma vida urbana que ao mesmo tempo o fascina e o sufoca. Cesário, no dizer de Alberto Caeiro, "era um camponês / que andava preso em liberdade pela cidade". Esta afirmação paradoxal sintetiza admiravelmente os dois polos que antiteticamente atraem o poeta: o campo e a cidade. Ele é chamado por isso "o poeta da cidade e do campo". A cidade enjoa-o; temos a impressão de que ela lhe interessa apenas para a devassar artisticamente. Pelo contrário, o campo deleita-o, como se vê, por exemplo, no poema De Tarde.. De notar que, mesmo nos poemas que focam a cidade, surgem frequentemente evocações saudosistas do campo. A cidade provoca no poeta "melancolia", "enjoo", "desejo absurdo de sofrer". Ora é nesta náusea citadina que o poeta sente por vezes a necessidade de abrir as suas janelas sobre o campo. Assim, no poema Cristalizações, o poeta faz frequentemente surgir evocações campestres: "quintalórios com parreiras", "não se ouvem aves nem o choro duma nora", "sabe-me a campo, a lenha, a agricultura". E o mesmo sucede em outros dos seus melhores poemas citadinos: O Sentimento dum Ocidental, Num Bairro Moderno, etc..
O estilo impressionista, visualista, de Cesário Verde tem origens precisamente no seu jeito especial de ver o mundo e a vida.
1 comentário:
- isto foi muito util
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