Espaço
Não se deve encarar o espaço de uma narrativa apenas como o lugar físico onde decorre a acção. De facto, o espaço pode também referir-se ao ambiente social e cultural onde se inserem as personagens. O espaço físico e geográfico refere-se ao lugar ou lugares onde decorre a acção. Pode definir-se como um espaço aberto ou fechado, interior ou exterior, público ou privado, etc.. O espaço social e cultural refere-se ao meio e à situação económica, cultural ou social das personagens. Através deste tipo de espaço podem ser definidos grupos sociais, conjuntos de valores e crenças desses grupos, posição que ocupam na sociedade, referência às tradições e costumes culturais, etc..
Paço de Medranhos – cozinha, pátio, estrebaria
Mata de Roquelanes – moita dos espinheiros, clareira, cova na rocha, silvados, fonte
Espaço psicológico – pensamento de Rui após a morte dos irmãos – pensa em Medranhos e no tesouro só para si.
A acção localiza-se nas Astúrias e decorre, a parte
inicial, nos "Paços de Medranhos" e, a parte central, na mata de
Roquelanes.
O paço dos Medranhos é descrito negativamente, por
exclusão (“...a que o vento da serra levara vidraça e telha...”), e os
três irmãos circulam entre a cozinha (sem luz, nem comida) e a estrebaria, onde
dormem, para aproveitar o calor das três éguas lazarentas.
O facto de três fidalgos passarem os seus dias entre
a cozinha e a estrebaria, os lugares menos nobres de um palácio, é
significativo: caracteriza bem o grau de decadência económica em que vivem. A
miséria em que vivem é acompanhada por uma degradação moral que o narrador não
esconde (E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.).
De igual modo, o espaço exterior, a mata de
Roquelanes, não é um simples cenário onde decorre a acção. As descrições da
natureza têm também um carácter significativo. A "relva nova de
Abril", manifestação visível do renascimento da natureza, sugere o
renascimento espiritual que as personagens, como veremos, não são capazes de
concretizar. Do mesmo modo, a "moita de espinheiros" e a "cova
de rocha" simbolizam as dificuldades, os sacrifícios, que é necessário
enfrentar para alcançar o objecto pretendido — são obstáculos que é necessário
ultrapassar.
A natureza, calma, pacífica, renascente ("...um fio
de água, brotando entre rochas, caía sobre uma vasta laje escavada, onde fazia
como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar para as relvas altas."),
contrasta com o espaço interior das personagens, que facilmente imaginamos
inquietas, agitadas, perturbadas pela visão do ouro e ansiosas por dele se
apoderarem, com exclusão dos demais. Enquanto isso, as duas éguas retouçavam
a boa erva pintalgada de papoulas e botões-de-ouro. Esse contraste tinha já
sido posto em evidência antes, depois dos três terem contemplado o ouro ("...
estalaram a rir, num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos,
em roda, tremiam..."). E, quando Rui e Rostabal esperam, emboscados, o
irmão, um vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos, como se a
natureza sentisse o horror do crime que estava para ser cometido. Depois de
assassinado Guanes, os dois regressam à clareira onde o sol já não dourava
as folhas.
1 comentário:
Professora, consegue pôr tudo até sexta-feira?
Please, please!
Beijinhos, até amanhã no apoio.
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