terça-feira, 5 de junho de 2012

O Tesouro – Eça de Queirós




O conto pertence ao modo narrativo e envolve:
·      um narrador, entidade responsável por contar a história;
·      a narração de acção que, geralmente se concentra num único tema ou episódio;
·      um número restrito de personagens;
·      um enquadramento espacial, geralmente concentrado;
·      um enquadramento temporal, geralmente correspondente a curtos períodos.


Dá-se o nome de acção ao conjunto de acontecimentos que constituem uma narrativa e que são relatados.
Como é evidente, as várias acções que surgem numa narrativa não estão desligadas umas das outras mas relacionam-se entre si.


Síntese da acção

Rui, Guanes e Rostabal, fidalgos arruinados, eram irmãos e viviam nos Paços de Medranhos, no Reino das Astúrias. Encontraram, na mata de Roquelanes, um tesouro, um cofre cheio de moedas de ouro, e decidiram dividi-lo. Como o cofre tinha três chaves ficou cada um com a sua. Guanes foi incumbido de ir comprar comida em Retortilho e partiu. Durante a sua ausência, Rui convenceu Rostabal a matá-lo, assim que regressasse. Após a emboscada e morte de Guanes, Rui assassinou Rostabal, à traição. Quando se preparava para regressar a Medranhos, deu-lhe a fome, comeu o capão e bebeu o vinho que Guanes trouxera da vila, apercebendo-se pouco depois que tinha sido envenenado.
“O tesouro ainda lá está, na mata de Roquelanes.”


Estrutura da acção

Introdução/ situação inicial:  dois primeiros parágrafos -  apresentação das personagens, tempo e ambiente - Rui, Guanes e Rostabal, irmãos e fidalgos arruinados que viviam no Paço de Medranhos, no Reino das Astúrias.
Desenvolvimento (peripécias/indícios trágicos): do 3º até ao antepenúltimo parágrafo – descoberta do cofre, decisão de o dividir pelos três , emboscada e assassinato de Guanes, assassinato de Rostabal e envenenamento de Rui. 
Conclusão/desenlace: dois últimos parágrafos – situação final - descrição do espaço onde Rui e Rostabal estão mortos e onde o tesouro permanece.


No manual, o conto surge dividido em três partes:
·      1.ª parte – Apresentação dos irmãos de Medranhos e do seu modo de vida até à descoberta do tesouro.
·      2.ª parte – Os assassinatos de Guanes e de Rostabal como consequência da ganância pela posse exclusiva do tesouro.
·      3.ª parte – Morte de Rui e permanência do tesouro na mata de Roquelanes.


Numa narrativa, as várias acções relacionam-se entre si de diferentes maneiras:
- por encadeamento: quando as acções sucedem por ordem temporal e em que o final de uma acção se encadeia com o início da seguinte.
- por alternância: quando as acções se desenrolam separada e alternadamente, podendo fundir-se em determinado ponto da história.
- por encaixe, isto é, quando se introduz uma acção noutra.


Organização/articulação das sequências narrativas de “O Tesouro”: encadeamento – ordenadas cronologicamente.


Sequências narrativas:
·      Os irmãos de Medranhos descobrem o tesouro na mata de Roquelanes.
·      Rui afirma que o tesouro deve ser dividido pelos três em partes iguais.
·      Cada um dos irmãos guarda a chave correspondente a uma das três fechaduras do tesouro.
·      Guanes parte para Retortilho para comprar sacos e comida.
·      Rui argumenta de forma a voltar Rostabal contra Guanes.
·      Rostabal propõe a morte de Guanes.
·      Guanes regressa de Retortilho.
·      Rostabal mata Guanes.
·      Rostabal lava-se.
·      Rui mata Rostabal.
·      Rui morre envenenado.
·      O tesouro permanece na mata de Roquelanes.



Personagens

No início do conto são-nos apresentadas três personagens Rui, Guanes e Rostabal.
Para além dos nomes, ficamos a saber o seu estatuto social e a sua situação económica: trata-se de três nobres falidos (caracterização social).
Inicialmente, os três irmãos encontram-se na sua propriedade (Paços de Medranhos), uma casa muito degradada.
As personagens vivem em condições precárias, acentuadas pela estação focada – o Inverno.
A frase “E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.” Estabelece uma relação entre as condições de vida das personagens e a sua forma de ser...

Relevo

Os três irmãos são personagens principais.


Caracterização das personagens (física e psicológica) e processos de caracterização (directa e indirecta)

As características dos irmãos de Medranhos constituem factores determinantes para o desenrolar trágico da acção, quer as que são comuns aos três, quer as que os distinguem física e psicologicamente.
Para dar a conhecer as personagens, o narrador dispõe de dois processos de caracterização distintos: a caracterização directa e a caracterização indirecta.

Para além das expressões que apontam directamente para determinadas características das personagens, as suas atitudes, afirmações e comportamentos permitem-nos também conhecê-las e caracterizá-las.

Caracterização directa dos irmãos – “os fidalgos mais famintos e os mais remendados”; “mais bravios que lobos”.

Caracterização indirecta – “recuaram (...) numa desconfiança tão desabrida...”; “E cada um (...) cerrou a sua fechadura com força”...

Características físicas e psicológicas dos irmãos – pobres, desconfiados, violentos.


Caracterização directa de Rui – “Gordo e ruivo e o mais avisado”; “fala avisada e mansa”...
Caracterização indirecta – “começou por decidir que o tesouro (...) pertencia aos três”; “Se Guanes, (...), tivesse achado este ouro, não dividia connosco”...
Características físicas e psicológicas de Rui – gordo, ruivo, o mais esperto, líder, calculista, traiçoeiro (mata o irmão à traição)...

Caracterização directa de Guanes – “mais leve”; “enrugado”...
Caracterização indirecta – “a parte de Guanes seria em breve dissipada com rufiões, aos dados, pelas tavernas”; “Ao redor da palha  em que dorme, todo o chão está negro do sangue que escarra!”; “correra (...) a comprar (...) o veneno que, misturado ao vinho, o tornaria (...) dono de todo o tesouro.”...
Características físicas e psicológicas de Guanes – leve, enrugado, desconfiado, pele negra, bruto, desanuviado, enfermo, esbanjador, jogador, estragado, ganancioso, sôfrego, traiçoeiro, calculista...

Caracterização directa de Rostabal – “homem mais alto que um pinheiro, de longa guedelha”; “barbas negras”; “longas barbas”; “olhos raiados de sangue”; “pele negra”; “pescoço de grou”.
Caracterização indirecta – “como compete a quem é, como tu, o mais velho dos de Medranhos”; “és o mais forte e o mais destro”; “Guanes te tratava de cerdo e de torpe, por não saberes a letra nem os números”...
Características físicas e psicológicas de Rostabal – alto, cabelos compridos, longa barba negra, o mais velho, robusto, analfabeto, ingénuo, impulsivo...

Predomina o processo de caracterização directa, visto que a maior parte das informações são-nos dadas pelo narrador.

No entanto, os traços de traição e premeditação de Rui e Guanes são deduzidos a partir do seu comportamento (caracterização indirecta).


Concepção/ composição

      personagens planas.
      A personagem mais modelada é Rui, porque foi dele que surgiram as reacções mais inesperadas e individualizadas.

(Continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Boa, boa, professora!

Obrigada e bjos

Maria Inês