De loucos. Às vezes
acontecem coisas do arco da velha. Vejamos:
1.
Acordo bastante cedo, arranjo-me, tomo o pequeno-almoço na varanda. Um
dia esplêndido! Óptimo, a filhota anda desde Abril a tentar fazer uma festinha
convívio com os colegas e, chove, não chove, venta, não venta, faz frio, não
faz frio, há sol, não há sol... No mesmo dia sucedem-se as quatro estações...
Hoje, pelo menos, logo às 7h e 30m está um sol quentinho, a água brilha lá em
baixo e reflecte-se aqui em cima no tecto da varanda, espalhando-se através da
janela pela cozinha, fazendo ondinhas brilhantes. Muito bem, hoje vão poder
passar o dia estiraçados ao sol entre mergulhos e risadas... Estava tão
absorvida nestes pensamentos e a contemplar a natureza que me brinda todas as
manhãs com uma vista soberba do mar, de um lado, e, do outro, da cidade, com os
mil passarinhos que se passeiam na varanda e no relvado do jardim, com a
voltejar das borboletas que pousavam aqui e ali sobre as muitas flores que,
quando acordei, reparei que já estava atrasada para a aula de pilates. Depus a
tijela e o copo do sumo sobre o lava-louça, galguei as escadas a dizer, estou
atrasada! Atirei um beijo ao maridão que o apanhou meio no ar, com um vai com
calma!
2.
Cheguei mesmo atrasada, já estava toda a gente, com as bolas, a fazer
exercícios, não tive lugar lá atrás e tive de ficar mesmo ao pé da professora. Que
chatice! Ela vai aperceber-se de todas as minhas falhas! As bolas já estavam
muito escolhidas, fiquei com uma enorme e vi-me aflita para fazer os exercícios,
perdia o equilíbrio, ora caía para um lado, ora escorregava para o outro;
depressa cheguei à conclusão que a culpa era da bola... Mas não desisti... E,
lá fiz os exercícios como pude, com algumas gargalhadas à mistura... Enfim, devo ser a
pessoa mais bem-disposta da turma, chego a rir, rio durante a aula e saio a
rir. Viva a boa-disposição!
3.
Regresso a casa, tomo um duche, visto-me... como uma banana, pego na
filhota e ala que se faz tarde; deixo a filhota na escola dela e rumo à minha;
estaciono; entro; o funcionário pede-me que vá à secretaria com urgência;
digo-lhe que vou depois da aula. Os alunos fazem teste, fazem as perguntas mais
mirabolantes, mesmo depois de lhes ler as questões e de lhes perguntar se têm
dúvidas. Vou à secretaria, a funcionária, com ar de profeta da desgraça, diz-me
que tem muita pena, mas que tenho um tempo injustificado... Atónita, perguntei porquê.
Não avisara que ia fazer análises com não sei quantos dias de antecedência...
Ter tido falta a este tempo já é mais que caricato: os alunos do apoio (dois
alunos) estavam numa quermesse e eu tive falta por não ter alunos... Como não
tinha alunos, aproveitei e fui fazer análises... mas, pelos vistos, deveria ter
ficado na sala a olhar para as paredes ou a pregar para os peixes...
4.
Recebo um telefonema com uma notícia completamente do outro mundo, oh!
Deixa lá isso, há mais marés que marinheiros, fecha-se uma porta, abre-se
outra, tudo na vida tem remédio..., tens saúde, isso é que é importante... Um
sem número de palavras de incentivo, mas o coração tão apertadinho e a gritar,
que grande injustiça, em que raio de país é que vivemos, mas isto é de gente...
5.
Mais uma aula, os alunos sem vontade nenhuma de trabalhar, um
empurrãozinho daqui, outro dali, lá consegui que fizessem alguma coisita...
Finalmente, hora de saída...
7.
Apanhei os garotos todos e levei-os para casa, puseram música no jardim,
estenderam mantas e toalhas... Enquanto preparei o almoço, ouvia-os às
gargalhadas e a cantarem... E, eis que chegam os jardineiros, com todo um
arsenal, para cortarem a relva... Entre cortamos, não cortamos, ficamos, não
ficamos... decidiram deixar os jovens em paz e voltar noutra altura... O pior é
que a relva precisa e muito de ser cortada...
8.
Recebo uma mensagem no telemóvel, do estrangeiro, não reconheço o
número, dizia: “Olá, a menina está boa?” Pensei em não responder, mas, de
repente, lembrei-me da Anabela, só pode ser dela e respondi: “Sempre.” Passados
um segundos, recebo como resposta: “Sempre é muito vago, uma vez que desconheço
o remetente.” Bem, desconhece o remetente e envia-me uma mensagem, esta gente
está toda doida, só pode! Pronto, pelo menos sei que não foi a Anabela... Não
respondi.
9.
Como ainda falta muito para o fim do dia, que coisas parvas me irão
ainda acontecer?
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