terça-feira, 12 de julho de 2011

Cesário Verde - Lisboa no final do século XIX


Lisboa, em 1886, era já muito diferente de há 30 anos. A população duplicara. Chegavam milhares de pessoas do campo. Os limites da cidade alargavam-se devido ao número dos recém-chegados. A indústria era ainda diminuta, por isso os aspectos campesinos impunham-se nos arredores da urbe.
Na altura, já algumas modernizações tinham sido implantadas, em Lisboa, como, por exemplo, a instalação dos primeiros candeeiros a gás, em 1848, muito embora a maioria das ruas ainda estivesse sem iluminação e fosse de terra batida.
Nos bairros mais velhos não havia higiene. Nas traseiras das pobres habitações estavam os animais para consumo doméstico e, dentro, abundavam os parasitas. A água, canalizada recentemente, chegava a muito poucas casas.
Era acentuada a diferença entre ricos e pobres. E embora os abastados portugueses fossem ridículos quando comparados aos outros europeus, destacavam-se sempre pela miséria dos outros, visível, até, nos estropiados e nos pedintes que povoavam a cidade. Muitos acreditavam que a pobreza era natural, era uma "dádiva" de Deus para os ricos poderem praticar a caridade.
Mas a caridade não bastava a tantos necessitados. No Verão de 1886, os albergues transbordavam de pedintes e a imprensa dava conta de vários pedidos de ajuda.
Os operários tinham salários ridículos que os obrigavam a comer couves, pão e batatas, justificando-se, deste modo, a elevada taxa de mortalidade em Lisboa e Porto. Grassavam as tuberculoses e pneumonias. Alguns recorriam ao suicídio. Os trabalhadores não tinham segurança no trabalho e diariamente eram vítimas de acidentes e de estropiações várias.

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