12. O Romance como documento
a) Da época e da corrente literária
Eça dizia na Conferência do Casino: "O Realismo é a análise com o fito na verdade... é a anatomia do carácter... o romance realista tem de nos transmitir a natureza em quadros exactíssimos, flagrantes e reais".
Em que medida Eça atingiu esse objectivo n' Os Maias? Na realidade Eça atinge os aspectos mais criticáveis da época:
- A Literatura
É nítida a antítese estabelecida repetidamente, mas sobretudo na discussão do jantar no Hotel Central, entre o ultra-romantismo saudoso das velhas tradições nacionais, simbolizado no poeta Alencar e o naturalismo aberto às novas ideias europeias, defendido por João da Ega. É evidente que o autor (narrador) assume inteiramente o ponto de vista de Ega, pelo menos no que toca à oposição Romantismo/Realismo.
A educação, vista quase totalmente sob focalização interna de Afonso da Maia, e reflectindo sempre a sua perspectiva (reprovatória ou aprovativa), põe-se de forma antitética entre Pedro/Eusebiozinho e Carlos. A educação dos dois primeiros é tradicional, processada sob a influência de uma religiosidade piegas e de uma melancolia ultra-romântica, e a de Carlos é moderna, segundo moldes ingleses, baseada, aliás, no princípio clássico de "uma mente sã num corpo são". A reprovável educação de Pedro e Eusebiozinho provocou logicamente o fracasso das duas personagens. Aqui verificou-se o princípio determinista dos naturalistas (determinadas causas produzem infalivelmente determinados efeitos). Já esse determinismo não é tão claro quanto à educação de Carlos, ele recebe uma educação moderna, perfeita na óptica de Afonso (e do narrador), e, no entanto, acabou por fracassar na vida. Talvez Eça nos pudesse responder: fracassou, sim, mas reagiu saudavelmente ao fracasso e não pôs termo à vida como Pedro. Além disso, esta verificação incompleta do determinismo naturalista pode, na perspectiva do autor, ter objectivos críticos: Carlos, apesar de bem formado, falhou, porque todos falham numa sociedade de hábitos românticos como aquela. Não é essa conclusão que se tira também da última conversa de Carlos e Ega no termo do romance? ("E que somos nós? - exclamou Ega - que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..."
b) Da evolução literária do autor
Eça de Queirós começou numa fase romântica com a publicação de Prosas Bárbaras. Passou depois para uma fase naturalista, publicando O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio. É na construção do seu maior romance Os Maias que se dá a transição de Eça de um Naturalismo (Realismo rígido) para um Realismo impressionista. Com efeito, é próprio da técnica naturalista uma intriga introdutória que explique os antecedentes hereditários das personagens da intriga central. A insistência no problema da educação, condicionante do sucesso ou fracasso das personagens, é também processo habitual nos romances naturalistas.
Mas o que já está fora da técnica naturalista é a dimensão trágica da intriga. A tragédia prende-se a forças sobrenaturais relacionadas com a fatalidade, o destino, que estão para lá dos limites positivistas do naturalismo.
A introdução da dimensão trágica n' Os Maias, embora misturada com a comédia da vida (crítica de costumes), assim como o impressionismo da linguagem, já com tonalidades de prosa simbolista, colocam este romance e o seu autor numa fase de Realismo impressionista.
Eça de Queirós acabaria a sua vida literária, com a publicação de A ilustre casa de Ramires e de A Cidade e as Serras, numa fase a que poderemos chamar fase nacionalista, em que o pessimismo revelado n' Os Maias dá lugar a um certo optimismo baseado na admiração da paisagem rural e das tradições portuguesas.
- A Política
- O Jornalismo
- A Educação
A educação, vista quase totalmente sob focalização interna de Afonso da Maia, e reflectindo sempre a sua perspectiva (reprovatória ou aprovativa), põe-se de forma antitética entre Pedro/Eusebiozinho e Carlos. A educação dos dois primeiros é tradicional, processada sob a influência de uma religiosidade piegas e de uma melancolia ultra-romântica, e a de Carlos é moderna, segundo moldes ingleses, baseada, aliás, no princípio clássico de "uma mente sã num corpo são". A reprovável educação de Pedro e Eusebiozinho provocou logicamente o fracasso das duas personagens. Aqui verificou-se o princípio determinista dos naturalistas (determinadas causas produzem infalivelmente determinados efeitos). Já esse determinismo não é tão claro quanto à educação de Carlos, ele recebe uma educação moderna, perfeita na óptica de Afonso (e do narrador), e, no entanto, acabou por fracassar na vida. Talvez Eça nos pudesse responder: fracassou, sim, mas reagiu saudavelmente ao fracasso e não pôs termo à vida como Pedro. Além disso, esta verificação incompleta do determinismo naturalista pode, na perspectiva do autor, ter objectivos críticos: Carlos, apesar de bem formado, falhou, porque todos falham numa sociedade de hábitos românticos como aquela. Não é essa conclusão que se tira também da última conversa de Carlos e Ega no termo do romance? ("E que somos nós? - exclamou Ega - que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão..."
b) Da evolução literária do autor
Eça de Queirós começou numa fase romântica com a publicação de Prosas Bárbaras. Passou depois para uma fase naturalista, publicando O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio. É na construção do seu maior romance Os Maias que se dá a transição de Eça de um Naturalismo (Realismo rígido) para um Realismo impressionista. Com efeito, é próprio da técnica naturalista uma intriga introdutória que explique os antecedentes hereditários das personagens da intriga central. A insistência no problema da educação, condicionante do sucesso ou fracasso das personagens, é também processo habitual nos romances naturalistas.
Mas o que já está fora da técnica naturalista é a dimensão trágica da intriga. A tragédia prende-se a forças sobrenaturais relacionadas com a fatalidade, o destino, que estão para lá dos limites positivistas do naturalismo.
A introdução da dimensão trágica n' Os Maias, embora misturada com a comédia da vida (crítica de costumes), assim como o impressionismo da linguagem, já com tonalidades de prosa simbolista, colocam este romance e o seu autor numa fase de Realismo impressionista.
Eça de Queirós acabaria a sua vida literária, com a publicação de A ilustre casa de Ramires e de A Cidade e as Serras, numa fase a que poderemos chamar fase nacionalista, em que o pessimismo revelado n' Os Maias dá lugar a um certo optimismo baseado na admiração da paisagem rural e das tradições portuguesas.
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